Espetáculo “Amoroso” ganha novo formato

Adaptação, ambientada em tempos de pandemia, propõe reflexão sobre a relação entre arte e espectador

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(Foto: Diogo Zanatta)(Foto: Diogo Zanatta)
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As rodas de chimarrão, os churrascos de domingo e os cafés de fim de tarde, com familiares se aprochegando para contar “causos” ou improvisar uma música pertinho do fogo, são tradições entranhadas na cultura gaúcha e, de certa forma, interrompidas pelo cenário de pandemia. Um contato tão comum e afetuoso quanto o estabelecido entre artistas em cima do palco com pessoas que ocupam a plateia de um teatro – outra realidade igualmente atravessada pelo coronavírus. É no meio deste cenário que Giancarlo Rotta de Camargo apresenta, nesta sexta-feira (5), uma versão adaptada para os tempos de pandemia do espetáculo de rua “Amoroso”. Em formato de live, a apresentação “Amoroso no Contexto do Distanciamento Social”, aprovada no edital da Lei Aldir Blanc, acontece às 20h, através das redes sociais do grupo passo-fundense Teatro Depois da Chuva.

Descrita como uma celebração aos encontros e à vida, dentro do contexto regional sul-rio-grandense, a peça é fruto de uma criação coletiva entre o ator Giancarlo e sua colega de grupo teatral, a diretora Betinha Mânica, com texto e poesias de Gilberto Lamaison. “É uma peça sobre o que nos une como gaúchos. Uma celebração à nossa música, ao violão, à gaita, à culinária, ao mate, à contação de causos. Tudo isso que faz com que o povo gaúcho, as pessoas amigas, se juntem ao pé do fogão”, descreve Gian, referindo-se a essas particularidades cotidianas como pequenos gestos de amor que dizem muito mais sobre a cultura local do que estereótipos caricatos atrelados à figura gaúcha. Não à toa o título “Amoroso”, inspirado na canção de Mauro Moraes, que canta “Eu poderia falar de cavalos, de domas, galpões, de lidas vividas, de bravatas e causos, mas resolvi falar de amor!”.

No formato original, apresentado pela primeira vez em outubro de 2017, o espetáculo era costurado com a contribuição do público que tomasse um lugar à frente de Gian para assisti-lo enquanto ele transitava, sozinho, entre o ator Giancarlo e a interpretação dos personagens dona Rosinha e seu Antônio. “Eu vejo a arte como um encontro. O teatro é muito um encontro, ele é ao vivo, é gente assistindo gente. Quando apresentamos ‘Amoroso’ na rua, inicialmente, eu chamo para dentro de cena duas pessoas que estejam assistindo a peça. Uma delas fica servindo o mate que eu preparo durante a apresentação, outra fica cuidando o fogo que eu uso para preparar um carreteiro de charque, que depois é servido para todos. Se alguém sabe tocar uma música na gaita, eu chamo também. Tudo como uma brincadeira, enquanto vou dialogando com as pessoas”, explica.

Não é preciso ir mais a fundo na descrição da dinâmica de “Amoroso” para perceber o quanto, originalmente, a obra depende do contato humano direto para existir. Guardada na gaveta desde que começou a pandemia, muito precisou ser adaptado para que a peça pudesse ser transposta aos dias de hoje, em que o distanciamento social ainda é medida necessária para o enfrentamento ao coronavírus. “Eu não tenho como reunir várias pessoas em cena porque estamos no meio de uma pandemia, não havia como manter o espetáculo original. A minha proposta para o edital [da Lei Aldir Blanc] era justamente adaptar. Por isso, durante a live desta sexta-feira, vou estar sempre instigando o espectador a pensar como seria em cena se houvesse a participação do público. Vai ser até um elemento de inquietação para criar a base para o debate que acontece em seguida”, adianta.

 

Bate-papo

O debate mencionado por Giancarlo refere-se ao bate-papo que acontece após a apresentação de “Amoroso”, na mesma live, com o historiador Mateus Cavalheiro Del Ré e a psicóloga Eliana Bortolon. Juntos, eles falarão sobre a importância da arte na vida humana e o significado do encontro para o teatro de forma geral. “É o mote do projeto: como a arte precisa do contato para existir”, ressalta o ator.

 

Voz: reconhecendo e treinando
O grupo Teatro Depois da Chuva promove ainda, nos dias 10 e 11 de fevereiro, a oficina online “Voz: reconhecendo e treinando”, também contemplada no edital da Lei Aldir Blanc. Os encontros são voltados a professores, artistas, oradores, jornalistas, blogueiros e todos os profissionais que trabalha com a voz. A proposta visa trabalhar questões práticas para o cuidado e uso da voz, através de exercício e dicas para o treinamento dela. As inscrições para a oficina, ministrada pela atriz Betinha Mânica, são gratuitas e podem ser feitas através do link forms.gle/JsdheiJtTur8Vpt59
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