Depois de dois anos de espera, o Rito Espaço Coletivo volta a abrigar, neste domingo (3), um dos principais eventos de música autoral da região. Em sua 21ª edição, o Ensaio Aberto da Toca do Ratão retoma as atividades com o desafio de reduzir as consequências deixadas pela pandemia dentro do cenário cultural, restabelecendo um contato direto entre artistas locais e o público interessado em conhecer novos sons. A programação do evento começa às 16h e conta com apresentações de Melisse Delavy, Garatujas, Assoalho de Órbita, Los Marias e Giancarlo Camargo & Banda. A entrada, como sempre, é gratuita.
Olhando hoje, é possível dizer que a última edição da Toca, realizada no dia 8 de março de 2020, aconteceu no tempo-limite para que o público pudesse aproveitar os poucos dias de calmaria que ainda restavam antes da chegada dos primeiros casos de coronavírus ao município. O palco do Rito mal havia esfriado quando, dias após a 20ª edição da iniciativa, a agenda cultural de toda a região precisou ser interrompida por tempo indeterminado diante da adoção de medidas de distanciamento controlado. O retorno do Ensaio Aberto, naturalmente, também teve de ser adiado por um período muito maior do que o imaginado.
O momento de medidas restritivas de combate à pandemia impactou inúmeros setores econômicos, mas foi especialmente duro com o setor cultural, um dos últimos a retornar às atividades. Sem a possibilidade de realizar apresentações presenciais, o cenário de cultura e eventos viveu um longo período de estagnação. O músico Guilherme Benck, que integra o coletivo responsável por organizar a Toca do Ratão, observa que artistas autorais ficaram entre os mais afetados, por terem se deparado sem um espaço propício para divulgar a sua principal fonte de renda. “Cada um teve que se virar de uma forma – através dos auxílios, de lives, serenatas, financiamentos coletivos. Cada um buscou uma alternativa para amenizar o impacto da pandemia”, relata.
Ainda segundo Benck, por desejar suprir essa lacuna causada pela pandemia, a vontade de retomar o evento estava cada vez mais latente entre os organizadores. “A Toca sempre foi um lugar focado em música autoral, onde as pessoas vão para realmente conhecer o trabalho feito pelos artistas que estão lá. É onde essas pessoas podem divulgar seus trabalhos e ter contato com o público”. A situação epidemiológica do município, porém, vinha sendo o principal motivo pelo qual o evento manteve-se em off durante dois anos. “Nós começamos a conversar no fim do ano passado [2021] sobre quando iríamos voltar. A ideia era que esse retorno acontecesse mais para frente, talvez em maio deste ano, para ter certeza de que os casos de coronavírus estariam mais baixos”, conta.
Esperança para Carmela
A pausa nas atividades acabou sendo abreviada para abril deste ano, conforme o coletivo, pelo desejo de auxiliar financeiramente no tratamento de saúde da filha do violonista e compositor gaúcho Otávio Segala. Carmela, de apenas 15 anos, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) no fim do ano passado e, desde então, depende de tratamento fisioterápico e fonoaudiológico para tratar as sequelas deixadas pelo acidente. “Sabemos que quanto antes ela fizer o tratamento, melhor será a recuperação dela. Então nós acabamos decidindo antecipar um pouco esse retorno do evento para conseguir arrecadar fundos e custear o tratamento da Carmela o mais rápido possível”, esclarece Benck.
O propósito beneficente do Ensaio Aberto da Toca do Ratão é, inclusive, uma característica já tradicional do evento. A cada edição, os voluntários que mantêm o coletivo cultural escolhem um projeto diferente para destinar parte do valor arrecadado durante a programação. Como a entrada no Rito é gratuita, os recursos arrecadados vêm de parte da venda de comidas, bebidas e outros produtos comercializados por expositores locais. Neste domingo (3), por exemplo, quem circular pelo evento poderá apreciar a gastronomia vegetariana da “Pinga-Fogo” e conferir os bottons, discos e camisetas da “Etc e Tal Bottons”. Uma maneira de incentivar o comércio local, curtir a música regional e, de quebra, ainda apoiar o tratamento da jovem Carmela.