De mochila nas costas, a Casa de Cultura Vaca Profana se prepara para encarar uma nova jornada, agora longe do amplo espaço localizado na Rua Paissandú, que servia de lar para o projeto desde 2017. O motivo é o mesmo enfrentado por diversas outras iniciativas no país e que, infelizmente, ainda parece longe de encontrar uma solução final: desde março de 2020 sem a possibilidade de promover as atividades que eram a principal fonte de renda para arcar com o aluguel e a manutenção da casa, os oito voluntários responsáveis por gerenciar o coletivo cultural se depararam sem alternativa senão devolver o imóvel e, por tempo indeterminado, ficar sem um espaço próprio.
O problema é que até mesmo o ato de entregar a casa, que por quase cinco anos carregou em um suas próprias paredes a arte e a história da Vaca Profana, passa pela questão financeira. Isto porque o espaço precisa de reformas exigidas pela imobiliária e que, entre material e mão de obra, custarão ao coletivo cerca de R$ 4 mil, além do R$ 2,4 mil cobrados mensalmente pela locação. Por isso, na última semana, o coletivo lançou uma campanha de arrecadação que visa viabilizar a reforma e a entrega da casa em tempo hábil para evitar multas imobiliárias que deixariam os voluntários sob risco de afundar em dívidas, segundo eles. “Nós temos até o fim de abril para concluir a reforma, caso contrário, precisaremos pagar uma diária por cada dia de atraso”, explica um dos membros do coletivo, Guilherme Benck.
Ainda de acordo com Benck, mesmo com a contribuição de voluntários e o dinheiro oriundo de editais – como o auxílio emergencial da Lei Aldir Blanc que rendeu ao coletivo um apoio de R$ 10 mil –, pagar por um aluguel tão alto sem poder abrir as portas do espaço foi o que pesou na decisão de fechá-las em definitivo. “A principal razão do fechamento é não termos uma perspectiva de retorno das atividades nos espaços culturais. Nós não estamos vendo uma solução por parte do governo. A única solução que a gente enxerga é vacinar a população, caso contrário, não podemos reabrir e colocar pessoas em risco. E nós sempre fomos um coletivo independente, que mantinha a casa com o dinheiro dos eventos, mas desde o começo da pandemia eles não estão podendo ser promovidos e, basicamente, todo o valor que nós estávamos recebendo pelas doações e editais iam para manter nosso espaço fechado. Tudo isso foi se acumulando”, conta, descrevendo a decisão como o reflexo de um cenário tomado por incertezas.
Novos rumos
O fim abrupto para uma história de acolhimento das mais variadas manifestações artísticas dentro do complexo que contava com duas casas, um pátio e uma garagem não é, por outro lado, sinônimo de fim para a Vaca Profana. A ideia é manter as atividades online através das redes sociais do projeto, como já vinha acontecendo desde que as medidas de distanciamento social passaram a ser adotadas no município, ainda que em uma frequência bem diferente daquela que era vivenciada no espaço físico da Vaca, onde o coletivo chegava a promover uma média de 16 a 20 eventos por mês. “Nós queremos manter a nossa proposta de atuação, que é voltada para a arte autoral e independente”, adiantam.
O próximo passo, quando a vacinação contra o coronavírus se mostrar em um avanço mais sólido no país e os espaços culturais puderem voltar a receber artistas e espectadores, é levar as ações fomentadas pela Vaca Profana aos espaços públicos do município e a outros espaços culturais, como a Casa Drum e o Rito Espaço Coletivo, por exemplo. O objetivo da proposta é fortalecer os espaços já existentes e possibilitar uma troca entre os públicos de cada projeto. “Nós também estamos pensando muito em ações que possam descentralizar o acesso à cultura. No nosso espaço físico, muitas pessoas dos bairros não conseguiam acesso à Casa porque ela fica no Centro. Então queremos levar mais essas iniciativas para os bairros afastados e chegar até as pessoas que não tinham contato com a Casa. Uma das primeiras ações nesse sentido é a contrapartida que faremos à Lei Aldir Blanc: serão duas ações presenciais nas periferias de Passo Fundo”, revela Benck.
Como doar
Quem tiver interesse em contribuir para que a Casa de Cultura Vaca Profana possa arcar com os custos da devolução do imóvel, pode doar qualquer valor através do Pix (chave: [email protected]) ou de uma conta bancária em nome de uma das voluntárias do projeto, Mariah Battesini Teixeira, (Nubank – 260, Agência 0001, Conta 94126690-6, CPF 030.479.710-30). Também é possível entrar em contato e acompanhar os próximos passos da Vaca pelas redes sociais: @casadeculturavacaprofana.