O nome do violonista e guitarrista Augusto Baschera, graduado em Música pela Universidade de Passo Fundo (UPF), vem ganhando espaço na cena instrumental de Portugal. Nascido no município de Ibiaçá, o músico vive em terras portuguesas há cerca de seis anos e é por lá que tem consolidado uma carreira voltada especialmente ao jazz. Ao lado do parceiro de trabalho, o pianista açoriano João Bernardo, Augusto é uma das atrações confirmadas no encerramento da 30ª edição do tradicional Festival “Jazz na Praça da Erva”, que acontece no fim deste mês, no Centro Cultural de Viana do Castelo, no Norte de Portugal. A programação do evento conta ainda com a apresentação do passo-fundense Yamandu Costa, considerado um dos maiores violonistas brasileiros.
Vindo de uma família de músicos, Augusto Baschera conta que começou a tocar violão quando ainda era criança e, até os 15 anos de idade, foi autodidata. Após passar a ter aulas de violão clássico e improvisação com o professor Roberto Thiessen, o ibiaçaense tomou ainda mais gosto pelo instrumento e decidiu ingressar no bacharelado em violão clássico na Universidade de Passo Fundo. O contato com Portugal aconteceria anos depois, através de um intercâmbio acadêmico, na Universidade do Minho, localizada em Braga, no norte do território português. “Foi uma sugestão do meu professor na época, o Gerson Werlang. Eu fiz um semestre de intercâmbio e, depois que terminei minha graduação em violão na UPF em 2013, eu voltei para Portugal para fazer um mestrado pela Escolar Superior de Música de Lisboa. É onde eu moro até hoje”, conta.
A decisão de deixar o país de origem para se arriscar em um novo espaço, ainda segundo o instrumentista, veio do desejo de viver novas experiências multiculturais. Ele conta que, enquanto ainda era intercambista, já percebia um choque em relação à seriedade com a qual música é levada em Portugal em comparação com o Brasil, na opinião dele. “Eu senti uma seriedade para tratar a música muito grande. A diferença que eu percebo no cenário musical entre aqui e o Brasil é um reflexo disso. Aqui em Lisboa há uma diversidade, um multicuralismo e um movimento muito grande de música, seja o gênero que for. Isso faz toda a diferença para quem é músico: ter um circuito para tocar, ter diversidade de trabalho. Eu sinto que aqui as pessoas estão à procura do novo, de um vento fresco. Há espaço para tocar música nova. Enquanto, no Brasil, acredito que a maioria das pessoas ainda gostam muito de ouvir tudo aquilo que já ouviram antes e isso acaba por ser frustrante”, compartilha. O gosto pelo novo fica expresso nos trabalhos de Augusto, que é um apreciador da improvisação.
Pluralidade de influências
A experiência como mestrando na Escola Superior de Música de Lisboa rendeu a Augusto, além de um convite para participar como solista da Orquesta Sinfônica da instituição no ano de 2016, o contato com inúmeros músicos no país e fora dele. Um exemplo é o projeto Medinea Networking — que organiza e promove sessões entre artistas que vivem em volta do Mediterrâneo — no qual o gaúcho ingressou no ano de 2019. A iniciativa o permitiu trocar experiências musicais com artistas de lugares como Itália, França, Túrquia, Líbano e Grécia. “Eu pude acompanhar muitos cantores, viver muitos trabalhos com a música clássica, até começar a desenvolver o meu próprio trabalho. Hoje, posso dizer que sou muito feliz fazendo músicas autorais. É uma coisa que me dá muito prazer porque acaba sendo uma descoberta a cada novo trabalho. A gente se reinventa em cada criação”, relata.
Reunindo essa riqueza de vivências e experimentações musicais, Augusto Baschera lançou seu primeiro disco no ano de 2018. No álbum “Palavra de Fantoche”, gravado em Portugal, o violão de Augusto aparece acompanhado pelas palavras do poeta passo-fundense Gilberto Lamaison. O lançamento do segundo álbum aconteceu dois anos depois, no começo de 2020, ao lado de um contato também conquistado dentro do mestrado. Em Grey City, Augusto Baschera deixa o violão e dá lugar à guitarra elétrica ao lado do piano do português João Bernardo, de quem ficou amigo durante a experiência na Escola Superior de Música de Lisboa.
Lançado no HotClube de Portugal, um dos mais antigos e reconhecidos clubes de jazz europeus, o disco “Grey City” explora a mistura tímbrica entre a guitarra e o piano, resultando em seis faixas de composições originais com influência de música popular, erudita e jazz. “É um projeto que me orgulha muito porque abriu muitas portas de entrada no cenário da música improvisada do jazz. Também porque foi meu primeiro projeto com guitarra elétrica, então eu pude me reinventar e descobrir mais sobre o que eu gostava. Sem falar que tocar com o João Bernardo é sempre uma conexão muito grande. Nós compomos o álbum todo em duo, não teve nenhuma composição independente um do outro, tudo foi composta na presença do dois. Isso é uma experiência muito enriquecedora e que nos permitiu criar algo realmente original”, relata.
Dois gaúchos em um mesmo palco
É justamente o trabalho Grey City que abriu as portas para que o nome de Augusto Baschera e João Bernardo ganhasse destaque no palco do festival português “Jazz na Praça da Erva”, em Viana do Castelo, onde se apresentam no dia 31 de julho. A coincidência é que outro gaúcho, quase conterrâneo, também passará por esse mesmo palco no primeiro dia do festival: Yamandu Costa. “Eu não nasci em Passo Fundo, mas me considero passo-fundense de coração porque foi uma cidade que me acolheu muito bem durante o tempo em que estive lá. É realmente curioso e peculiar o fato de duas pessoas da mesma cidade estarem tocando, fazendo parte do cartaz de um evento do outro lado do mundo. E justamente o Yamandu, uma pessoa que é referência para quem toca instrumento de corda. Ele já tem uma carreira super consolidada e conquistou um espaço muito bonito e inspirador com a sua própria música, então é bastante especial e gratificante dividir com ele essa experiência em um festival antigo e tradicional por aqui”, compartilha Augusto.