Buscar refúgio na literatura durante o período de isolamento se tornou a alternativa de muitas pessoas para passar o tempo e distrair a mente. O hábito que voltou no ano de 2020, teve sua concretização em 2021. No último ano, foram vendidos cerca de 49,6 milhões de livros no Brasil, com uma receita de R$ 2 bilhões, registrando um crescimento de 32,7% em volume e de 31,3% em faturamento comparado a 2020, de acordo com o 11º Painel do Varejo de Livros no Brasil, divulgado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
O remédio para períodos difíceis
Os livros são como um remédio e como explica a proprietária da livraria Delta e coordenadora da Associação dos Livreiros de Passo Fundo, Silvana Rovani, “durante a pandemia eles foram um remédio e ajudaram pessoas ansiosas, depressivas que buscaram uma autoajuda, uma literatura brasileira, uma ficção ou romance”. Pelo maior número de pessoas em casa e em home office, a empresária destaca que muitos voltaram a ler porque achavam que antes não tinham o tempo para dedicar a leitura. “Eles conseguiram se reeducar e buscar de novo a leitura”, esclarece. Nesse sentido, o período favoreceu o reencontro com os livros e consequentemente impulsionou o número de vendas.
O que as pessoas procuraram
Entre os livros mais vendidos nesse período, Silvana elenca os relacionados a empreendedorismo, administração e marketing, seguido das literaturas brasileiras e de autoajuda. “Os empresários tiveram que se reinventar todos os dias”, pontua ela. Já o público em busca dos livros, inicialmente, era composto por jovens. “O nosso maior público é jovem, porque tem esse hábito de acessar on-line. Não tem o medo de entrar no WhatsApp, no Instagram, de pedir e receber o livro em casa”, explica. Entretanto, esse tabu foi aos poucos sendo desmistificado e agora pessoas de mais idade, acima dos 60 anos, também começaram a adquirir de maneira on-line.
Se reinventar para sobreviver
A venda online se tornou a alternativa para que os negócios seguissem na livraria Delta. De acordo com a proprietária, até o mês de setembro as vendas aconteciam principalmente on-line e com tele-entrega. “Tivemos que nos adaptar muito rapidamente. Fiz parcerias, acessei plataformas grandes e me associei, coloquei os nossos livros à venda e está saindo muito bem”, pontua Silvana, explicando que muitas pessoas ao comprarem livros em redes de varejo como Amazon e Americanas não sabem que às vezes estão, na realidade, adquirindo produtos de livrarias de seu município.
Região
Além das vendas aconteceram por intermédio desses sites, elas também são realizadas pelas redes sociais da livraria e por telefone. Logo quando a pandemia teve início, a própria Silvana fazia as entregas dos livros, hoje a livraria possui um funcionário que faz a “tele-entrega” dos livros, que também são entregues via correio e até mesmo pelas rodoviárias. “Temos as cidades de Soledade, Tapejara, Carazinho que estão usando muito a rodoviária. É rápido e chega no mesmo dia”, explica, destacando que com os ônibus, o serviço é facilitado e agilizado.
Vendas de final de ano
Foi só a partir de setembro que o público voltou a encher os espaços físicos das livrarias Delta, uma localizada no centro de Passo Fundo e outra no Passo Fundo Shopping, registrando um aumento de pelo menos 20% nas vendas físicas. Esse aumento também foi sentido no número de vendas de livros no Brasil, que conforme a pesquisa divulgada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), entre os dias 8 de novembro e 5 de dezembro de dezembro de 2021, foram vendidos 5,7 milhões de livros, com um lucro de cerca de R$ 216,8 milhões. Em comparação ao mesmo período de 2020, foi registrado alta de 30,5% em volume e 32,5% em faturamento. A justificativa para o crescimento é, principalmente, pelas ações promocionais da Black Friday.
Associação dos Livreiros de Passo Fundo
As livrarias, assim como outros setores da economia, também foram afetadas pelo período de fechamento do comércio em virtude do agravamento da pandemia. Silvana conta que ficou quase três meses sem poder acessar a livraria localizada dentro do Passo Fundo Shopping e a do centro, manteve funcionando apenas internamente, para controle de estoque e vendas on-line. Nesse sentido, a Associação dos Livreiros de Passo Fundo (ALPF) exerceu papel fundamental para que nenhuma livraria do município viesse a fechar suas portas definitivamente. “Como associação, o objetivo era não fechar nenhuma livraria, porque tivemos sérios riscos disso acontecer em Passo Fundo”, destaca a coordenadora da associação, parabenizando o trabalho em parceria que livreiros do município realizaram, um auxiliando ao outro. “Ah, não tem esse livro em uma livraria, mas tem na outra”, relembra Silvana. Assim, para a felicidade da associação e do município, considerado a capital nacional da literatura, não foi registrado o fechamento de nenhuma livraria de Passo Fundo nesses últimos dois anos.