Mais do que a oportunidade de conhecer novos lugares e culturas, colocar uma mochila nas costas e embarcar sozinha em uma volta pelo mundo é, acima de tudo, uma viagem para dentro de si. A escritora e jornalista passo-fundense Fernanda Pandolfi sabe bem. Em 2017, mesmo com um trabalho consolidado como colunista no jornal Zero Hora, Fernanda já não se reconhecia nas pautas que escrevia e, questionando-se acerca dos rumos da própria trajetória, sentiu que precisava recalcular a rota e buscar um novo sentido para a vida. Com uma passagem nas mãos, a jornalista deixou para trás o conforto de casa e embarcou em uma jornada por cinco continentes. Em 270 dias, percorreu cerca de cem cidades, espalhadas por 37 países. A experiência é relatada no livro “Quem é a Estrada?”, lançado recentemente pela Editora Vienense.
O ato de largar um posto importante em um dos principais jornais do Grande do Sul, onde há três anos mantinha a coluna “Rede Social”, e aventurar-se pelo mundo sem as amarras de um roteiro traçado de ponta a ponta, para muitos, poderia ser visto como uma atitude impulsiva e arriscada. Para Fernanda, por outro lado, era a chance de se reconectar consigo mesma. “Eu me diverti muito contando [na coluna] histórias de pessoas, fomentando o empreendedorismo, a gastronomia e pirando na criação de novos projetos. Só que chegou um momento em que comecei a questionar o meu real propósito. Onde estava a minha escrita? Onde estava a minha veia jornalista mais intensa? Em algum lugar, o que eu buscava lá atrás quando me encaminhei para o caminho das letras, se perdeu”, compartilha.
Os resultados de tantos questionamentos e um ritmo de trabalho intenso, segundo a jornalista, bateram à porta apresentando-se como sintomas de ansiedade, depressão e burnout. Era hora de repensar os caminhos que a própria vida estava tomando. “Pedi demissão, vesti uma mochila de 20 quilos nas costas, atravessei outra de 10 na frente, e saí pelo mundo sozinha. Que era para ver se me encontrava”, conta. Juntando as economias, Fernanda comprou uma passagem de volta ao mundo — “sim, isso existe”, ela garante — e começou a pré-organizar o roteiro, que contava com apenas dez parada organizadas pelos cinco continentes. O restante do roteiro ia sendo traçado conforme a gaúcha chegava nos lugares-chave. “Eu ia pesquisando, entendendo quais seriam as melhores opções em custo e benefício, e até buscando por lugares em que amigos me receberam e acolheram. O que eu aprendi com o tempo é que não era uma viagem de férias. Que eu precisava de pausas. Então, precisei estabelecer limites e entender que dias a mais em cada destino eram importantes para organizar meu corpo e mente”.
As idas e vindas, de Havana a Nova York, da Noruega à Índia, com paradas em hotéis, hostels, em um ashram (retiro espiritual indiano), na casa de amigos ou no saguão de algum aeroporto, são resgatadas nas 256 páginas de “Quem é a Estrada?”, mas não são o único fio condutor da história. “É um romance biográfico que conta sobre a minha partida para a volta ao mundo, a minha chegada desta jornada de 270 dias pelos cinco continentes e ao redor de mim, e sobre este caminho. Descobertas, insights, pessoas que fui conhecendo e a maneira como os lugares foram me transformando. Se engana quem espera um livro com dicas de viagem. Tem muito dos lugares que passei, é claro, mas muito mais sobre a importância do autoconhecimento e das buscas universais — que é o que acaba conectando o leitor na minha estrada no final das contas”, explica a autora.
Busca e encontro pessoal
As transformações provocadas por uma experiência tão única não ficaram apenas marcadas na Fernanda de 2017, tampouco nas páginas do livro recém-lançado. Habitam em Fernanda até hoje. Quando questionada sobre o que mais a marcou na viagem de 270 dias, sozinha pelo mundo, ela não hesita ao afirmar: “a minha busca e encontro pessoal”. “Entender que cada pessoa e cada lugar tem um potencial de agente de mudanças na nossa trajetória foi engrandecedor. Entender que o que eu tinha em casa era muito, valorizar o pouco, valorizar o bastante, sentir saudades, dar a dimensão correta para a palavra amor. Tudo isso foi importante. Mas, o maior ensinamento, foi aprender a andar sozinha. Só quando caminhamos confortavelmente sozinhos podemos andar acompanhados”, descreve.
De acordo com Fernanda, o desejo de compartilhar tudo o que havia aprendido e conquistado nessa história foi o que a motivou a escrever um livro. Sentia que era uma missão. “Sei que poucas pessoas têm a oportunidade de dar uma volta ao mundo. Sei que esse é o sonho de boa parte da humanidade. Entendi que com tudo o que eu havia recebido do universo naquele ano, teria que agradecer com o que eu sabia fazer de melhor: escrevendo. Compartilhando. ‘Quem é a Estrada?’ é um livro em que exponho questões muito pessoais e que, através desta exposição e vulnerabilidade, busco me conectar com o leitor e ser, de alguma forma, útil na estrada dele também”, resume.
Ida e Volta
A alma de viajante não acaba em “Quem é a Estrada?” — livro que pode ser adquirido nas Livrarias Delta, em Passo Fundo, e nos principais marketplaces (Amazon, Estante Virtual, Mercado Livre, UmLivro, B2W, Lojas Americanas, Shoptime e Submarino). Pelo contrário, Fernanda segue explorando o mundo e compartilhando suas andanças no Instagram, através do perfil “Ida e Volta”, projeto que surgiu seis meses antes de a jornalista pedir demissão do emprego onde atuava e que está de pé até hoje. Por lá, estão expostas fotos e relatos de vivências em 62 países, além de dezenas de reflexões que incentivam a viagem como um agente de mudança.