Devoção a São Miguel Arcanjo é tema de livro

Obra resgata a história como patrimônio imaterial, articulado ao tombamento da Capela e a necessidade de proteção da própria imagem missioneira

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Livro pode ser adquirido no Instituto Histórico de Passo Fundo no valor de R$ 60,00. (Foto: Divulgação/Redes Sociais)Livro pode ser adquirido no Instituto Histórico de Passo Fundo no valor de R$ 60,00. (Foto: Divulgação/Redes Sociais)
Livro pode ser adquirido no Instituto Histórico de Passo Fundo no valor de R$ 60,00. (Foto: Divulgação/Redes Sociais)
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A devoção a São Miguel Arcanjo é milenar e chegou em Passo Fundo ainda no século XIX, se mantendo até hoje com um expressivo número de fiéis. Em torno disso, o Instituto Histórico de Passo Fundo e o Arquivo Histórico Regional lançaram no último sábado (30) o livro “São Miguel, príncipe, guardião e guerreiro: Histórias e memórias sobre 150 anos de festas em Passo Fundo”. A obra é organizada pela professora Gizele Zanotto e contempla inúmeras informações acerca da festa e romaria que acontecem em devoção ao santo.

 

A organização do livro

O projeto deriva de diálogos e preocupações com o aprofundamento da história da festa e romaria de São Miguel. A obra foi pensada pelos membros do IHPF e AHR há alguns anos e busca resgatar a história como patrimônio imaterial, articulado ao tombamento da Capela e a necessidade de proteção da própria imagem missioneira. Em razão dos 150 anos da festa e peregrinação, o grupo de trabalho decidiu que o foco da obra seria destinado aos esforços para sistematizar pesquisas, analisar fontes inéditas, depoimentos e entrevistas, bem como pela coleta e organização de material fotográfico. 

O livro se divide em três eixos temáticos que estruturam a obra: devoção a São Miguel, estatuária missioneira e recuperação da imagem de Passo Fundo após ataque à Capela; um segundo eixo voltado à contextualização histórica com discussões sobre a figura e as relações de Bernardo Castanho da Rocha e a ocupação do Pulador, bem como um estudo da genealogia da família Isaías pela sua relação direta com o mito fundador da festa e por fim reflexões sobre a campanha abolicionista e a sociedade emancipadora local; e um terceiro eixo que discute o mito fundador da manifestação de fé e devoção acompanhado de um segundo texto dedicado às repercussões midiáticas desses 150 anos de realização.


Arcanjo da justiça e do arrependimento

A transmissão da fé por diferentes gerações e por devotos que buscam auxílio são algumas das características de quem dedica sua devoção a São Miguel. A festa e a romaria são realizadas em Passo Fundo desde o ano de 1871 e reúnem devotos de diferentes localidades. Atualmente, os festejos representam uma manifestação religiosa que faz parte da identidade passo-fundense.

O festejo se trata de uma história que entrelaça várias temáticas nacionais, regionais e locais que auxiliam a compreensão da história como processo interconectado. A organizadora da obra, professora Gizele Zanotto, explica que nas celebrações são envolvidas diferentes questões relativas, como ocupação territorial, escravidão e abolição de cativos; Guerra do Paraguai e participação de passo-fundenses; devoções católicas promovidas por leigos e religiosos; sociabilidade e relações interétnicas, bem como patrimônio cultural material e imaterial. “A romaria é uma das manifestações mais típicas de Passo Fundo, conformada em tempos idos pela comunidade afro-brasileira, mas vivenciada pela comunidade em geral”, afirma. 


São Miguel e a formação de Passo Fundo

Inicialmente, a história começa em uma região afastada da cidade, considerando as condições de trânsito, a qualidade das vias, os tipos de transporte disponíveis e as noções de distância entre o século XIX e início do século XX. Mobilizando, certamente, poucos moradores, com o passar dos anos a movimentação atraiu mais devotos ao longo da peregrinação, que fizeram com que esse processo se tornasse um marco da história local.

Até meados do século XX, a festa se realizava no dia do santo, 29 de setembro. A celebração aconteceria na data somente em caso de tempo favorável ou, se fosse dia útil, configurava-se como feriado informal. Neste caso, o comércio e serviços urbanos cerravam portas para que todos pudessem rumar ao Pulador e participar da festa que se dava ao longo do dia, conforme explica Gizele. “Eram momentos de sociabilidade, lazer e diversão, e momentos rituais e devocionais. Com o crescimento citadino, houve a criação de mais paróquias, romarias e festas, novas formas de devoção se configuraram, ampliando as opções devocionais”, afirma.

Atualmente no município, São Miguel segue como um dos movimentos de fé e sociabilidade mais importantes entre os fiéis, embora a afluência de público varie de ano a ano. Sua continuidade e força são evidências de que essa história ainda vai gerar outras memórias. 

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