Músicos de bar se encontram no teatro

Juntos pela primeira vez, Ricardo Camargo e Ricardo Pacheco apresentam o show Nossas Origens

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 Ambos iniciaram muito cedo na música, ainda que por caminhos diferentes. (Foto: Gerson Lopes/ON) Ambos iniciaram muito cedo na música, ainda que por caminhos diferentes. (Foto: Gerson Lopes/ON)
Ambos iniciaram muito cedo na música, ainda que por caminhos diferentes. (Foto: Gerson Lopes/ON)
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Não existe uma estatística oficial, mas quem bateu ponto na noite passo-fundense, entre a metade dos anos 80, e quase toda a década seguinte, pode avalizar a afirmação de que eles estão entre os músicos que mais tocaram nos barzinhos e casas noturnas da cidade.

O curioso dessa trajetória é que, nesses anos todos, se revezando de um bar para outro, nunca dividiram o mesmo palco. Para colocar um ponto final nesses desencontros, Ricardo Camargo deixou por alguns dias a paradisíaca Praia do Forte, na Bahia, onde está radicado desde 1997, e atendeu ao convite do amigo Ricardo Pacheco. Só que desta vez não será no bar. Os dois apresentam sábado (14), às 20horas, no teatro do Sesc, o show Nossas Origens.

“Esse convite feito pelo Pacheco está sendo um dos momentos mais importantes da minha vida, porque dá crédito em tudo o que eu já fiz até agora”, diz Camargo.

 Será uma noite para o público matar a saudade de canções autorais gravadas por eles ao longo da carreira. O show terá participações de Giancarlo Camargo e Ana Zorda. Outro momento especial será a participação do prefeito, que também é músico, Pedro Almeida, juntamente com o pai, Pedro Moacir Salles Almeida, conhecido como Moa. Eles serão homenageados na canção Bar do Moa, uma parceria de Camargo com Álvaro Goelzer, gravada em 1986. Como diz o próprio nome, ela faz referência ao lendário bar, nas esquinas das ruas Benjamin Constant e Moron, centro de Passo Fundo.

Canção mais conhecida de Camargo, Bar do Moa à época ganhou um videoclipe para ser exibido no programa Sul em Canto, da RBS. Na sequência, passou a rodar nas rádios FMs de todo o estado. “Gravei no Estúdio Isaec, em Porto Alegre, 500 fitas e fui vendendo para os amigos. Também lancei um cartucho, na Atlântida e estourou. Foi um divisor de águas na minha vida. Ali vi que estava autorizado a seguir com minha carreira”, revela o músico, que tem cinco CDs gravados.


Nossas origens

As semelhanças entre os dois músicos vão além do nome em comum. Ambos iniciaram muito cedo na música, ainda que por caminhos diferentes. Antes mesmo de aprender a tocar violão, Camargo já rabiscava alguns versos como compositor. Logo vieram as primeiras bandas e os festivais universitários. Aos 15 anos participou do 3º Fempo, no colégio Notre Dame, em 74.

Ricardo Pacheco começou a mostrar para o público suas primeiras interpretações influenciado pelo movimento nativista que tomava conta do Rio Grande do Sul por volta de 1985. Também participou de festivais e passou por banda de baile. “Sugeri o nome Nossas Origens para o show, em razão do lugar. Somos daqui, nossa história começa e foi escrita aqui”, afirma.


Músicos de bar

Em momentos distintos, uma vez que a diferença de idade entre os Ricardos é de 11 anos, ambos encontraram no bar, o espaço mais adequado para desenvolverem sua arte. Antes da virada para os anos 80 Camargo já rodava pelo Butterfly, Casablanca, Pizzaria Vital, Barra Vento, Aguadeiro e alguns outros. Quando Pacheco entra em cena, as casas já eram outras: Parole, Barril 2000, Feeling, Habeas Corpus, e aí por diante. “Na verdade, a geração do Camargo era minha referência. Ele, o Quevedo, o Vítor, o Alegre, eram os caras em que procurava me espelhar. Ia no bar ver eles tocar. Quando entrei no Pôr do Sol (grupo de baile) para substituir o Vitor foi uma honra”, recorda.

Sobre o ofício de ser músico de bar, Camargo fala do prazer de se conectar com o público e das dificuldades que o ambiente proporciona. Segundo ele, a situação mais embaraçosa para o artista é o pedido de música feito pelo cliente. “Não existe nada pior do que isso. Uma porque você pode não conhecer a canção, outra por não fazer parte do seu estilo”, comenta. Para evitar situações como essa, ele montou um cardápio musical, com cerca de 500 canções, e distribui pelas mesas do estabelecimento durante as apresentações.

Pacheco divide da mesma opinião do amigo, mas desenvolveu outro mecanismo. “Me apresento, e digo que não atendo a pedidos. Depois explico que meu repertório é pequeno e posso frustrar o cliente”, brinca.


Produção

Enquanto esteve em Passo Fundo, além de cuidar da própria carreira, Camargo dedicou parte do seu tempo na produção de shows e festivais. Nos anos 90, artistas com carreiras consolidadas no Rio Grande do Sul, como Nelson Coelho de Castro, Gelson Oliveira, Zé Caradípia, entre outros, passaram a frequentar os palcos da cidade com uma certa regularidade. Desse período surgiram o Música aos Vivos e a Mostra Musical Gente da Nossa Terra. Um legado que está sendo assumido por Pacheco, na produção de shows e outros eventos.

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