“Meu pai tinha índole de educador, essa escola é uma homenagem ao legado dele também”

Violonista e compositor Yamandu Costa participou do lançamento da Escola Pública de Música que leva seu nome

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Inauguração aconteceu no núcleo central do projeto, no Parque da Gare - Foto Gerson LopesInauguração aconteceu no núcleo central do projeto, no Parque da Gare - Foto Gerson Lopes
Inauguração aconteceu no núcleo central do projeto, no Parque da Gare - Foto Gerson Lopes
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O menino que deixou Passo Fundo com apenas quatro anos, para tornar-se uma das principais referências do violão internacional, retornou à terra natal para participar, na manhã de quinta-feira, da inauguração de um projeto que leva seu nome: A Escola Pública de Música Yamandu Costa. O ato aconteceu no Parque da Gare, onde vai funcionar o núcleo central do projeto. Os demais serão instalados em quatro escolas da rede municipal de ensino, em diferentes bairros.

 Yamandu permanece na cidade até sábado (18), para um show, no Centro de Eventos do Colégio Notre Dame, dentro da programação do Festival de Música. Na mesma noite haverá apresentação de Renato Borghetti Quarteto.

Ao receber o convite para ter seu nome vinculado ao projeto da escola, o violonista disse ter lembrado imediatamente do pai, Algacir Costa, falecido há 25 anos. Compositor e multi-instrumentista, Algacir levou o nome de Passo Fundo por todo o Brasil, através do grupo Os Fronteiriços durante duas décadas.

 “Meu pai tinha essa índole de educador, formou muita gente durante todo o tempo em que morou aqui. Essa escola é uma homenagem ao legado dele também. Tem meu nome ali de fundo, mas toda essa história é que me emociona”, revela.

O músico desembarcou em Passo Fundo na quarta-feira. Após reunião com o prefeito Pedro Almeida, teve o primeiro encontro com os instrutores da Escola e disse ter ficado impressionado com o entusiasmo do grupo.

- De longe, pensava no comprometimento que o coordenador deve ter para o projeto vingar. Tinha essa preocupação, mas o maestro Rodrigo Ávila superou todas as minhas expectativas, fala com paixão nos olhos. Tem uma trajetória de trabalhos comunitários. Ele e os demais integrantes são pessoas que transformam o mundo, nasceram para educar -, disse.

O violonista não esconde a satisfação e o entusiasmo ao projetar o impacto que a escola poderá ter na vida dos passo-fundenses e de toda região. Para ele, muito mais que ensinar música, ela se destina à formação de cidadãos e de um público culto, preparado para receber arte de todos os cantos do mundo.

Mesmo morando longe, (está radicado em Portugal há três anos), e passando boa parte do tempo entre a estrada e os palcos, Yamandu já está se programando para visitar o projeto pelo menos duas vezes ao ano e começar uma nova relação com a cidade.

- Me interessa muito o sucesso do projeto, leva o nome da minha família. A gente ambiciona que pode se alastrar para outros lugares. É preciso trabalhar com uma visão bastante ampla, sem se fixar em música clássica ou popular, mas misturando essas linguagens. A variedade dos instrumentos, cordas, sopro e percussão, possibilita esse leque. Vamos desvincular da música instrumental, deixar como o próprio nome diz, escola de música, coisa ampla, para que as crianças tenham uma educação plural de compreensão da música -.

Memória preservada

Todo o acervo deixado por Algacir Costa, formado por instrumentos, partituras, anotações, livros de música, troféus conquistados pelos Os Fronteiriços, em mais de 25 festivais, foi doado por Clary Costa, mãe de Yamandu, à Secretaria Municipal de Cultura de Passo Fundo. Algumas peças, inclusive, já estavam expostas nas salas do Núcleo Central na Gare, durante a inauguração na manhã de ontem.

Cantora e integrante do grupo desde a sua formação, Clary revelou a preocupação em preservar e mostrar ao público todo esse material guardado por ela desde o falecimento do marido.

– Doar para Passo Fundo foi o melhor destino. Tudo aconteceu aqui. Algacir era louco por esta cidade. Por onde passava, dizia com orgulho que era gaúcho de Passo Fundo. Essa homenagem da escola é algo muito emocionante. Vou dizer uma coisa muito sincera, convivi muitos anos com ele e posso afirmar com toda certeza: a coisa que o Algacir mais gostava era ensinar música, dar aula. Muitas vezes as pessoas não tinham como pagar as aulas, mas ele nunca deixou de ensinar ninguém por causa de dinheiro –

Conforme a secretária de Cultura, Miriê Tedesco, o acervo tem um grande volume, com peças valiosas, que fizeram parte da vida de Algacir. Antes de definir o local onde será mantido, todos os objetos devem passar por uma curadoria.

 Dois passo-fundenses com carreira na Europa juntos no Festival de Música

 

Nesta sexta-feira, Yamandu Costa estará ao lado do também passo-fundense, Alegre Corrêa, e do violonista Gabriel Selvage, participando de uma mesa de debates no teatro Múcio de Castro, sobre o tema No ritmo da prosa – Música no Mundo. Logo após acontece o show de Gabriel Selvage.

Ao lembrar do conterrâneo, Yamandu diz que a música de Alegre Corrêa foi uma de suas inspirações no início da carreira. A relação de amizade entre os dois músicos que saíram do Brasil para trilhar uma carreira na Europa, é anterior ao nascimento do violonista.

- Alegre era amigo do meu pai, chegou a receber algumas aulas dele. Naquela época era chamado de Feliz, depois mudou para Alegre. O conheci pessoalmente através do Luiz Carlos Borges. Ele havia retornado de Viena para um show na Assembleia Legislativa de Porto Alegre. Eu tinha 16 anos, antes de iniciar minha carreira. Estava na plateia quando, do nada, ele me chamou no palco para tocar um tema. A gente tem um sentimento único que é a música, a memória do meu pai. Tudo isso está muito misturado. A música dele abriu a minha cabeça. Alegre é uma alma que se acopla nesse projeto, muito bom ter ele por perto”, afirmou.

Alegre se apresentou ontem (16) no teatro Múcio de Castro, ao lado da cantora Luna Paz. O músico disse ser gratificante saber que Passo Fundo está dando continuidade à formação de novos músicos e poder estar presente em um momento tão importante como a Semana da Música.

-Tive aqui minha formação humana e musical. Espero que essa Semana se transforme em anual e tenha vida longa. A Escola Yamandu Costa é outro maravilhoso projeto que vai consolidar um novo método de ensino e criar espaços para novos talentos”, declarou. 

Como vai funcionar a Escola Pública de Música Yamandu Costa

As atividades serão feitas com estudantes da rede municipal do sexto ao nono ano, que terão acesso a quatro modalidades de ensino de música: instrumentos de cordas, cordas friccionadas, percussão e sopro. As aulas serão ministradas por quatro instrutores, quatro auxiliares e pelo maestro Rodrigo Ávila e acontecerão em quatro escolas municipais – uma em cada quadrante da cidade –, que receberam uma sala de música e os instrumentos: EMEFs Senador Pasqualini, Cohab Secchi, Benoni Rosado e Wolmar Salton. Para a sede, no Parque da Gare, serão direcionadas as crianças que apresentarem um melhor desempenho na modalidade que escolheram. Elas irão compor grupos e conservatórios.

Para o prefeito, Pedro Almeida, a Educação precisa ultrapassar as barreiras da sala de aula para que sejam ampliados os seus impactos na vida das pessoas. “É preciso imaginar o futuro da cidade transformado por uma iniciativa como esta, que está alicerçada ao projeto de Cidade Educadora. Queremos levar o acesso à música, contribuir com o desenvolvimento integral dos alunos e realizar sonhos”, disse ele, que também é músico.

 O secretário de Educação, Adriano Canabarro Teixeira, enfatizou que a iniciativa faz do território do município um espaço de formação pedagógica e humana. “A Educação não se faz somente com a escolarização. Essa ação é muito poderosa dentro do conceito de Cidade Educadora, que se preocupa com uma formação integral da sua população”, pontuou.



 

 

 


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