Álbum “Desnorteia” inaugura parceria de Orestes Dornelles e Raul Boeira

Trabalho reúne 13 canções e deve estar disponível nas plataformas de streamings nos próximos dias

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O músico Orestes Dornelles já está divulgando nas redes sociais vídeos com trechos das canções de ‘Desnorteia’, seu mais novo trabalho em parceria com o compositor Raul Boeira. A obra completa poderá ser conferida nos próximos dias nas plataformas de streamings.

O quinto disco na carreira do alegretense, radicado em Porto Alegre, desde os anos 70, é resultado de apenas dois encontros com Boeira. No primeiro deles, em agosto do ano passado, no café do Cine Guion, pouco antes de encerrar as atividades, Orestes recebeu as letras do seu futuro parceiro. Um mês depois, já com as canções prontas, os dois voltaram a se encontrar, dessa vez no La Faísca, para selar o projeto do álbum.

“O Raul ligou dizendo que gostaria de mostrar algumas composições. Marcamos o encontro e ele trouxe um catatau de letras. Gostei tanto do trabalho que em um mês já tinha feito a melodia para 16 delas. Mandei o material, então ele sugeriu que fizéssemos um álbum”, conta.

As 13 canções escolhidas para o repertório do disco trazem melodias criativas, tendo como ponto de partida uma variedade de ritmos brasileiros, passando pelo xote, baião, samba, marcha e maracatu. O álbum inclui ainda balada e algum blues. A interpretação na voz de Dornelles, junto com os arranjos, colocam as letras em primeiro plano, realçando a qualidade dos textos. 

Sobre o nome do álbum, Orestes explica que “Desnorteia” faz referência à canção Quadro Geral, que tem o subtítulo -“Rancho do Desnorteio”. “Fui ao oráculo da WEB pesquisar e já havia um livro com esse nome (Desnorteio); indo adiante na pesquisa apareceram uns vídeos sobre a mudança do campo magnético da terra (cujo áudio foi incluído no início e no fim de Capitanias), que supostamente de mil em mil anos teima em desnortear. Achei interessante, e daí o substantivo virou verbo”.

 

O álbum foi gravado entre novembro do ano passado e janeiro de 2023 pelo trio: Orestes (voz e violão), Filipe Narcizo (contrabaixo), e Bruno Coelho (Percussão). O trabalho conta ainda com a participação dos músicos Angelo Primon (viola e guitarra), Matheus Kleber (acordeon e piano), Priscila Bueno (vocais) e Tomás Piccinini (cavaco e piano).

“As letras escolhidas trazem temas vinculados à realidade brasileira, por isso optei pelos gêneros musicais próximos do folclore. Acho que as canções ficaram com uma certa leveza. Quando selecionamos as músicas, fiz uma espécie de guia e continuei ouvindo, cantando junto. No momento de colocar a voz, já nem precisava pensar muito, sabia exatamente o que fazer, as nuances. Ficou muito natural”, conta o músico.

Referência

Segundo Orestes, que também é professor de música, em razão dos gêneros musicais escolhidos, o novo álbum ficou com ‘ares de Tribufu’ uma referência ao seu primeiro disco gravado em 2005, batizado com o mesmo da banda da qual fazia parte, junto com Risomá Cordeiro e Binho Terra.

 Por coincidência, o mesmo CD serviu de parâmetro para Boeira no momento de escolher as composições que levaria para o parceiro musicar. “Conhecendo os trabalhos anteriores do Orestes, especialmente o Tribufu, resolvi entregar a ele as letras que tinham mais ironia, humor, crítica social, non sense. O legal é que o Orestes encara todas. Samba, rock, nordeste, xote pampeana, valsa, marcha-rancho. Faz tudo sempre mantendo a personalidade musical dele. Ele não é um camaleão; ele é naturalmente multifacetado”, diz Boeira sobre o novo parceiro.

 

Um disco cheio de personagens

Durante o período da pandemia, Boeira resolveu tirar da gaveta letras guardadas desde a segunda metade dos anos 80. Aos poucos, foi selecionando, revisando e lapidando o material, que acabou resultando no álbum Desnorteia.

“Algumas tinham boas ideias, bons temas, mas estavam mal resolvidas. Dei um polimento. A autocrítica entrou em campo e dominou o jogo”, brinca o autor. 

Um desses exemplos é a música Buraco, que abre o álbum. Escrita originalmente em 89, nela Boeira narrava o drama dos moradores de rua. A partir da revisão, feita em 2022, e observando o aumento do problema social, o eu lírico passa a ser o próprio sem-teto, que assume a narrativa. Como mostra um trecho. “Tudo que tenho tá aqui neste saco/meus badulaque, uns caco, um cão/vago invisível, pra ti eu sou um buraco/mas ponho em xeque o teu peito de bom cristão”.

Já em Helô Helô, a referência é a canção Hello goodbye dos Beatles. Em jamais serei pop, considerada pelo autor 100% autobiográfica ele diz: dispenso louros e palmas/cadeira na academia/rejeito tua medalha/menção em coluna tua/xô tapinha nas costas!não serei nome de rua. “Um outro traço nesse conjunto de letras é a variedade de tipos humanos e personagens imaginados. É um disco cheio de personagens”, comenta Boeira. 


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