Um dos discos mais emblemáticos do rock instrumental brasileiro, gravado no Rio Grande do Sul, está completando 30 anos em 2023. Para celebrar a data, o músico Kiko Freitas, eleito o melhor baterista de música mundial pela revista Modern Drummer em 2019, decidiu montar um workshop e mostrar, ao vivo, as construções do instrumento na gravação das 13 músicas no primeiro álbum do guitarrista Frank Solari. Passo Fundo entrou no circuito e recebe Kiko nesta terça-feira (18), no Rito Espaço Coletivo, a partir das 19h30min.
Ao longo das três décadas, desde a gravação do disco, Kiko, que roda o mundo, ora ministrando masterclass, ora nos palcos como integrante da banda de João Bosco, nunca deixou de receber pedidos para tocar o repertório, falar sobre ele, ou então, gravar vídeos explicando sua participação. Aproveitando o simbolismo da data, ele montou o projeto e colocou o pé na estrada, mas não sem antes enfrentar uma trabalheira provocada pela ação do tempo.
“Essa gravação foi feita em duas polegadas, fitas de rolo. Os metrônomos se perderam, se desmagnetizaram da fita. Então o Frank extraiu do rolo as bases originais e recriou um metrônomo para eu poder tocar ao vivo nos workshops. Tive que masterizar todas as faixas para colocá-las no mesmo volume. Foi trabalhosa essa celebração para mim, mas um prazer fazê-la, especialmente no interior. Lancei a ideia e começou a chover convites” explica o músico.
Uma magia especial
Sobre as curiosidades e histórias envolvendo as gravações, Kiko disse que são surpresas e serão contadas durante o workshop, mas já adiantou que uma delas foi a dificuldade de espaço para tocar dentro do estúdio Versus, que pertencia ao jornalista Ubirajara Valdez, o Bira, (falecido em 2005).
“O Bira era grande fã da gente, acompanhava nossos shows. Ele tinha uma produtora de áudio e disponibilizou o espaço, mas as gravações tinham de ser feitas nas madrugadas quando terminava o trabalho da produtora, quase uma missão secreta. A sala em que gravei mal cabia a bateria” lembra.
Gravado em 93 e lançado no ano seguinte, o disco homônimo de Frank Solari, segundo Kiko, teve influência em todo o Brasil, e segue sendo muito atual. Além dele e do próprio Frank Solari, participaram das gravações os músicos: Roger Solari (baixo), Ricardo Baumgartem (baixo), Michel Dorfman (teclados), Cau Neto (Teclados), Zé Marcos (teclados), Fernando do Ó (percussão), Pedrinho Figueiredo (sax soprano) e Daniel Sá (violão).
“Ele tem uma representatividade não só para a música gaúcha, mas no país todo. Em termos de guitarra instrumental, nesse estilo rock fusion, ninguém chegou nesse padrão de sonoridade do disco. Fizemos um show na Feira Internacional da Música (Expomusic), só iam os cobras. Nos deram um show em um dos estandes. Lembro de grandes caras da bateria brasileira que vinham com partituras, transcrições do disco tentando entender as conduções. Esse disco chegou muito longe e continua muito à frente. Tem uma magia ali naquele trabalho. Até hoje tenho orgulho de dar de cartão de visita. Todo mundo estava muito focado, independente das condições de trabalho. Quebrou paradigmas, não havia muita música com solo de bateria e baixo, foi muito emblemático”, avalia.
Livro
Os participantes do workshop também terão a oportunidade de conhecer e adquirir o mais recente trabalho de Kiko Freitas. O livro Brazilian Groove Book Samba e Bossa Nova, lançando inicialmente em inglês, durante a pandemia, ganhou uma versão independente em português.
Nesta obra, ele reúne didaticamente um apanhado de conhecimentos adquiridos durante a carreira, principalmente ao longo dos mais de 20 anos como integrante da banda de João Bosco. Kiko apresenta ideias de independência usando ritmos de tamborim, padrões de batucada, conceitos de independência de mão esquerda e pé esquerdo, ritmos de tamborim de métricas ímpares e uma abordagem do samba na bateria.
Todo o conteúdo é explicado em detalhes, acompanhado pelo método especial de Kiko de vocalizar ritmos durante a prática. São mais de 115 vídeos, disponíveis on-line, cobrindo dezenas de exemplos e variações do livro, além de 4 faixas de reprodução.
Carreira
Kiko Freitas toca com João Bosco há mais de vinte anos. Também já se apresentou com Michel Legrand, Nico Assumpção, Milton Nascimento, Chico Buarque, Frank Gambale, Lee Ritenour, John Patitucci e muitos outros. Ele já ministrou muitas clínicas no Brasil e no mundo, participando como professor em escolas e eventos, incluindo o Festival Nacional Brasileiro de Bateristas, Curso Internacional de Verão-EMB, Academia Real de Música de Estocolmo (Suécia) e Conservatório de Jazz da Califórnia (EUA), entre muitos outros lugares.
Serviço
Workshop com Kiko Freitas
Quando – Terça-feira (18)
Onde – Rito Espaço Coletivo (Rua Aníbal Bilhar, nº 900ª, Vila Lucas Araújo)
Valor – R$ 80