Um chamamé despacito para o adeus a Luiz Carlos Borges

Aos 70 anos, o versátil instrumentista, intérprete e compositor que criou o Musicanto Sul-Americano morreu na quinta-feira em Porto alegre

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Luiz Carlos Borges: 25/03/1953 - 10/05/2023 -  Foto – Divulgação Luiz Carlos Borges: 25/03/1953 - 10/05/2023 -  Foto – Divulgação
Luiz Carlos Borges: 25/03/1953 - 10/05/2023 - Foto – Divulgação
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Assim como fazia com a sua Scandalli ao final de cada show, na noite de quarta-feira (10), Luiz Carlos Borges fechou o seu fole aos 70 anos de idade. O ícone do nativismo e virtuose da música gaúcha morreu na Santa Casa, em Porto Alegre, após sofrer um aneurisma de aorta. Em 2019 passou por uma cirurgia e em 2021 a intervenção no primeiro acidente com a aorta obteve êxito. Agora, não foi possível reverter o quadro. Borges era natural de Santo Ângelo, nascido em 25 de março de 1953. Subiu ao palco aos sete anos e formou-se em música na Universidade Federal de Santa Maria. O manuseio da gaita foi aprimorado na Argentina, onde viveu por uns tempos e estudou com grandes mestres como Raulito Barboza. Ao longo da carreira, gravou mais de 32 discos. O vínculo musical de Borges com Passo Fundo tem talentosas ligações: Algacir Costa, Alegre Correa, Oswaldir & Carlos Magrão, Ronaldo Saggiorato e Yamandu Costa.

Dos bailes à Califórnia

Borges foi músico na mais ampla concepção. Com um pé no Brasil e outro na Argentina, para o artista não havia fronteiras. Ao conversar ou mesmo para cantar, Borges tinha sempre algumas expressões castelhanas. E a marcação do chamamé. Integrando o grupo Irmão Borges, tocou em bailes Rio Grande afora. Com o Grupo Horizonte brilhou na Califórnia da Canção, onde marcou com Tropa de Osso (9ª edição- 1979) e Romance na Tafona (10ª edição -1980). Mas só ergueu a Calhandra de Ouro em 1991 com Florêncio Guerra e Seu Cavalo e em 1997 com O Forasteiro. Em carreira solo gravou com os maiores nomes da música latina como Mercedes Sosa e Antônio Tarragó Ros. Fez shows nos dois hemisférios. Criou o Musicanto Sul-Americano de Santa Rosa, um festival de vanguarda. Gaita ou violão, voz ou letra, campeiro ou urbano, do chamamé ao jazz, certamente ele foi o artista mais versátil no meio nativista.

“Simplesmente completo”

Aficionado e colecionador do nativismo, o passo-fundense Renato Justi manteve grande amizade com Borges. “Promovi a vinda dele a Passo Fundo várias vezes, com apresentações na Cacimba, Caixeiral-Campestre e no Comercial. Ele gostava muito de Passo Fundo, disse isso recentemente no Teatro do Sesc. Sempre que vinha para cá, curtia muito o Boka”, recorda. Renato tem toda a discografia de Borges. Sobre a sua abrangência, observa que “ele tocava com Humberto Gessinger ou Pedro Ortaça. Simplesmente completo, tocava violão, gaita, cantava, fazia música e letras. Era respeitado na Argentina e presença certa na Fiesta Nacional del Chamamé, em Corrientes”.

 Borges, os passo-fundenses & chamamé

 Em suas últimas entrevistas para O Nacional, Luiz Carlos Borges enalteceu as parcerias com os passo-fundenses e o chamamé:

Alegre Corrêa

 “Fizemos um trabalho no Brasil, e também na Europa. Ele foi a pessoa que abriu as portas para mim lá fora. Assim que conheci o Alegre ele deveria ter uns 17 anos. Eu me apaixonei pela musicalidade dele. O jeito que ele tocava era uma novidade para mim, que estava nos meus 20 e poucos anos. Eu era muito do baile e consegui me desplugar disso quando conheci ele”.

Algacir e Yamandu

“O Yamandu, também desta cidade, é considerado um dos maiores músicos do mundo. Sempre que surge a oportunidade tocamos juntos. Quando o Yamandu ainda era bastante jovem, o Algacir adoeceu muito e me fez prometer que eu ia cuidar do ‘gurizinho’ dele. Eu sabia que ele estava falando do Yamandu. Então, o Yamandu é como um filho, mas também um amigo e um parceiro para mim. Nós sempre teremos essa conexão e cumplicidade na arte e na vida”.

Chamamé

“Quando entrei pela primeira vez na Argentina, varei de balsa no Passo de São Borja. Historicamente este momento foi muito importante para mim, porque sou um chamameceiro. Trouxe o chamamé para o Rio Grande do Sul, e o empurrei para dentro do Estado. Não quero dizer com isso, que fui o primeiro, mas hoje o ritmo é tocado igualmente com o vaneirão”.

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