Zé Caradípia lança “Os versos por dentro”

Sétimo disco na carreira do músico tem parceria dos compositores Raul Boeira e Márcia Barbosa

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Zé Caradípia: " Acredito que a gente conseguiu compor um trabalho muito interessante - foto: Rosane FurtadoZé Caradípia: " Acredito que a gente conseguiu compor um trabalho muito interessante - foto: Rosane Furtado
Zé Caradípia: " Acredito que a gente conseguiu compor um trabalho muito interessante - foto: Rosane Furtado
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Quatro anos após o lançamento de seu último disco, o cantor, compositor e violonista, Zé Caradípia, 67 anos, está de trabalho novo e com uma parceria inédita. Em “Os versos por dentro” ele musicou 14 letras compostas por Raul Boeira e Márcia Barbosa. A produção musical é assinada por Marcelo Corsetti, integrante da banda Os Blackbagual, que por quase duas décadas acompanhou o músico Bebeto Alves, falecido em novembro do ano passado.

“É um trabalho de voz e violão à frente, como nos discos da MPB, à lá Bossa Nova, de João Gilberto”, define Zé. O álbum já está nas plataformas de streamings. O disco físico será disponibilizado pelo fone (051) 99313 1730. O valor é R$ 36.

“Os versos por dentro” título de uma canção que dá nome ao disco foi surgindo de maneira despretensiosa. No início de 2022, Raul decidiu encaminhar ao futuro parceiro a letra “Uma pequena prece à Violeta”, homenagem à compositora chilena Violeta Parra. Entusiasmados com o resultado, no mês de julho Caradípia recebeu a segunda, “Flor Canção” recém composta por Boeira.

Mesclando novos textos com outros tirados da gaveta, a produção foi ganhando volume. O projeto de gravar um álbum, reunindo todo o material, passou a ser um caminho muito natural. Alguns temas que viraram letras, inclusive, surgiram nas conversas dos três compositores, entre um cafezinho e outro.

 Foi assim com “Ferrovíamos”, sugerida por Caradípia e escrita por Boeira, onde um trem imaginário parte de Canoas e atravessa o Brasil, levando passageiros ilustres que, de algum modo, suas obras têm ligação com os trens e às ferrovias. Por seus vagões encontram-se figuras como Adoniram Barbosa, Agatha Christie, Tolstoi, Gilberto Gil, como diz um verso da canção.

 

 “linda cena presenciei em breve parada no Rio/Fernanda escrevendo cartas em plena Central do Brasil/já na gare de Astapovo, assumiu outro foguista/ nos conduza, seu Tolstoi, até Vitória da Conquista/não sei se esse expresso é 22/nem sei se número tem/se ele fosse uma pessoa, eu chamava de meu bem”.

 

“Tantos seres tento ser”, última do álbum, também foi inspirada a partir de um relato feito por Zé aos dois parceiros sobre a infância, quando passava várias horas do dia percorrendo as ruas de Canoas, sua cidade natal, vendendo jornais, ou em Porto Alegre, engraxando sapatos e andando de bonde.

“A verdade é que a cada canção composta, mais crescia o desejo de produzirmos um disco. Zé é um ótimo leitor e tem uma capacidade assombrosa de captar o significado e a intensidade de cada letra, e vestir cada uma delas com a melodia precisa. Foi essa constatação que levou a Márcia a escrever “Os versos por dentro”, que fala justamente sobre esse dom incrível; essa canção foi feita para ele, e é sobre ele enquanto compositor e intérprete” diz Boeira.  

 

“Dar voz à letra é apaixonante”

O processo de compor a melodia para a letras de outros parceiros, como no caso deste trabalho mais recente, não é nenhuma novidade para Zé. Com sete discos gravados e uma carreira de mais de 50 anos, ele diz ter passado pela fase mais letrista, um período mais autoral que, segundo ele, foi ficando para trás, justamente pela qualidade dos letristas disponíveis.

 “Houve uma época em que eu compunha de mim para mim mesmo, letra e música. Aquela verve primeira de escrever foi perdendo um pouco da força, mas dar voz à letra é apaixonante. Desde que comecei, lá nos anos 70, sempre compus em parceria.  Há muito tempo queria encontrar letristas que me deixassem com essa sensação de liberdade. É imensa a satisfação de compor com Raul e Márcia, como escrevem bem. Então foi unir a fome com a vontade de comer. Acredito que a gente conseguiu compor um trabalho muito interessante”.


Diversidade

Nas 14 músicas do Álbum, Caradípia passeia pela diversidade rítmica brasileira. Ele abre o disco com um samba-jazz, na canção Cardiobeat, e vai mesclando sonoridades, como no misto de um baião agauchado com repente, em ‘Depois que passar o agosto’, ou na balada de ‘Porto Triste’, assim como na bossa lenta de “A última rosa”, ou no samba ‘Tantos seres tento ser’, última do disco.

 “Eu gosto de diversificar, sempre fiz isso nas minhas canções. Somos bastante ricos em ritmos, temos o Prata aqui. Pega um chamamé, um cheirinho de milonga, e vamos para o xaxado, para o samba, para a bossa, vão se mesclando as sonoridades numa brasilidade. A gente não foge do assunto Brasil, mesmo chamando os hermanos para essa salsa moderna, buscando manter a conversa em torno das coisas e folias do Brasil” revela o compositor.

Encerrado o processo de composição, o trabalho de produção musical ficou a cargo de Marcelo Corsetti, responsável pela escolha dos músicos. Atendendo uma dica de Boeira, os arranjos foram sendo construídos tendo a voz e o violão de Caradípia como tônica do disco. “Corsetti, fez um trabalho de produção muito bom, vestiu muito bem as músicas, ficou econômico e bonito. Gostei bastante desse nosso trabalho, acho que outros virão dessa triceria, Raul, Márcia e Caradípia”, complementa o músico.

 

Músicos

Com arranjos do guitarrista e produtor Marcelo Corsetti, o álbum foi gravado no estúdio TEC Áudio entre os meses de fevereiro e março de 2023.

Participaram das gravações em estúdio os músicos:

Zé Caradípia: voz e violão;

Diego Ferreira: clarinete e flautas

Nana Sakamoto: trombone

Matheus Kleber: acordeom

Miguel Tejera: baixo acústico

Henrique Mello: baixo elétrico

Dani Vargas: bateria

Bruno Coelho: percussão

Rodrigo Rheinheimer: coro

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