Entre acordes e sonhos

A difícil jornada dos imigrantes fica mais suave com a música da jovem artista venezuelana Aymara Rodriguez Garcia

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Entre as fronteiras da Venezuela e os novos horizontes do Brasil, a vida de Aymara Rodriguez Garcia, é uma sinfonia de resiliência e determinação. Com apenas 17 anos, ela carrega consigo uma bagagem musical e emocional que transcende o tempo e os limites geográficos, refletindo uma história de amor pela música e uma jornada de superação. Com seu talento, ela consegue ajudar os imigrantes venezuelanos que vivem em Passo Fundo, a matar um pouco da saudade de sua terra natal, além disso, também apresenta para a brasileiros um pouco da sua cultura e suas raízes.

Nas atividades organizadas pela Associação dos Venezuelanos no Brasil, VENEBRAS, sediada em Passo Fundo, a jovem cantora emociona os imigrantes com seu talento, e as lágrimas estão sempre presentes, pois a música faz lembrar a terra natal das pessoas que deixaram o seu lar para buscar uma vida melhor a milhares de quilômetros das suas famílias e amigos de infância.

Uma vida de música e coragem

Nascida em solo venezuelano, Aymara cresceu em um ambiente onde a melodia era a linguagem comum. Sua família, envolta pela música, nutriu seu interesse desde a tenra idade. Com o pai proprietário de uma rádio, e seus tios e avô músicos, ela herdou a essa paixão.

Mas a situação política e econômica do país fez com que a vida da jovem sofresse uma reviravolta. Seu pai, Richard Rodriguez, denunciou as dificuldades da população local, sofreu perseguição do governo, e com isso perdeu a concessão da sua rádio. A mãe, Mirna DelVarle Garcia Lugo, uma professora universitária e empresária, precisou tomar a difícil decisão de acompanhar o marido em busca de uma vida melhor para a família em outro país. Richard foi o primeiro a vir para o Brasil, e há 9 meses foi a vez de Aymara, seus dois irmãos e sua mãe atravessarem a fronteira.

Esse salto para o desconhecido significou deixar para trás não apenas a escola de música e o coral na Venezuela, mas também se deparar com o desafio de iniciar uma nova vida no Brasil. A jovem luta para se adaptar ao novo país, e ainda não conseguiu ingressar no colégio. Na Venezuela, ela já estava no último ano da escola, mas aqui, terá retornar ao primeiro ano do ensino médio.

Refúgio na Música

A jovem, cheia de incertezas, mal sabia que o seu talento seria refúgio para centenas de outros imigrantes, que viram na música de Aymara uma ponte emocional, entre a antiga vida na Venezuela e uma vida cheia de esperanças no Brasil. As apresentações de Aymara em Passo Fundo ajudaram não apenas os imigrantes venezuelanos a matar a saudade de seu país, mas também conectaram corações e trazem um alívio emocional para aqueles que enfrentavam desafios similares. "Minha música vai além de simples melodias. Ela é uma conexão, um vínculo que une pessoas, independentemente de sua origem", compartilha Aymara. Além de músicas de artistas conhecidos na Venezuela, a jovem já tem um repertório original com mais de 15 canções, que refletem suas experiências e as realidades complexas das pessoas que precisam superar seus medos.

Sonho e a estrada

A jovem diz que se motivou em vir para o Brasil em busca de um sonho, que é ingressar em um conservatório musical. Ela aspira viver da música, aprofundar seus estudos e, talvez, construir um estúdio, transformando seus sonhos em harmonias palpáveis. Por meio de seu canal no YouTube (@cleegarcia), ela não apenas compartilha suas músicas autorais e covers, mas também oferece uma janela para sua jornada e suas emoções.

A viagem da Venezuela ao Brasil foi uma sinfonia que uniu desafios e esperança. Seu violão, batizado carinhosamente como Mateo, tornou-se seu companheiro fiel, testemunhando cada nota das fronteiras até os novos horizontes. "Meu violão foi minha voz quando as palavras não podiam expressar nossos sentimentos", confessa Aymara. Quando estava na fronteira, muitas vezes se viu cercada por pessoas que aguardavam ansiosas, a espera de seus documentos de imigração. Eram pessoas que queriam ouvir as músicas de seu país natal.

O longo tempo de viagem, cerca de dois meses desde a saída da Venezuela, até a chegada em Passo Fundo, foi uma das maiores angústias já vivida pela jovem. Ficar em alojamentos precários, acompanhada da incerteza de quando os documentos para seguir viagem ficariam prontos, é um momento de muito estresse. Ela lembra que muitas coisas poderiam acontecer de errado, um exemplo foi seu pai, que já tinha vindo três meses antes. Ao entrar no Brasil, ele não conseguiu mais contatar seus amigos no país, e ao mero acaso, veio parar em Passo Fundo. Ele conheceu outros imigrantes na fronteira e uma pessoa lhe indicou um conhecido que poderia ajudar em Passo Fundo. E assim foi definido o seu destino final.

A jornada de Aymara, seus irmãos e sua mãe também teve percalços. Inicialmente eles entraram no Brasil por Pacaraima, mas havia uma demanda muito grande de imigrantes solicitando documentos, então a família cancelou o pedido e foi para Boa Vista, onde o processo foi mais rápido. Mesmo assim, a família chegou em Passo Fundo somente 60 dias depois de deixar Caracas. “Na vida, nós passamos por momentos muito frustrantes, que nos deixam muito triste, mas sempre há uma estrada para seguir”, diz ela.

Hoje a jovem trabalha para ampliar o seu repertório, além de seus ritmos preferidos, o pop e o rock, ela também quer apresentar, nos shows que faz na cidade, mais ritmos venezuelanos, para aumentar a conexão dos imigrantes com sua terra natal. Porém, ela lembra que também busca inspiração na música brasileira. “Antes mesmo de sonhar em vir para o Brasil, já conhecia o trabalho de Mariana Flores, que eu me inspiro muito”, finalizou ela. 

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