Um banho de aquarela na história de Passo Fundo

Livro com obras de Luiz Carlos “Foguinho” Barbieux Oliveira resgata a arquitetura da cidade em várias épocas

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 O livro “Aquarelas da Memória” está quase pronto. É uma viagem com paradas em períodos distintos para mostrar retratos da vida urbana de Passo Fundo. A obra é do arquiteto passo-fundense Luiz Carlos Barbieux Oliveira. Mas não se trata de um projeto arquitetônico e não foi concebido nas pranchetas. É arte pura que envolve o chão onde o artista pisa. A velha Passo Fundo, que conhecemos em alguma época do passado, ganha vida no infinito colorido das aquarelas. Até parece mágica, pois a sensibilidade do artista reconstrói atmosferas que envolveram a cidade. Arte, arquitetura, história, cultura, economia, sociologia, urbanismo, memória e muito amor por Passo Fundo em um conjunto de aquarelas. Uma mais linda do que a outra! Ou, com certeza, um magnífico conjunto da obra.

Fogo nas cores

Se anunciarmos o seu nome apenas como arquiteto Luiz Carlos, poucos o identificarão. “Desde que nasci tinha os cabelos ruivos e todos me conhecem como Foguinho. Agora apagou. É tudo cinza”, diz sorridente para celebrar seu tempo de existência. Coincidentemente, houve uma transformação simultânea com a transferência das cores do espectro capilar para o papel. A cor chamativa dos cabelos agora dá vida à história de Passo Fundo. Em condição inversa, o cinza cobre a maturidade de um artista preocupado em tingir o papel para contar a história do seu torrão. “Eu sempre gostei de desenhar. Usei lápis de cor e na faculdade dei aula de desenho. Desde pequeno, quando era criança desenhava a geladeira lá de casa...”

A água dá o tom

Papel, tinta, pincel e água são as armas dos aquarelistas. “É uma técnica de pigmentos com água, bem diferente da pintura a óleo. Uso um papel mais espesso, um 300g, mais grosso para não encharcar. É tudo a mão livre, primeiro risco com lápis e depois pinto. A tinta é aquarela, com uma paleta de 15 a 18 cores. Partindo das cores primárias e suas misturas temos um infinito. É uma técnica que você vai aprendendo com o tempo, com curiosidade e pesquisando”, conta com entusiasmo Foguinho. A técnica dos pigmentos dissolvidos em água viria de uma descoberta acidental de um pintor italiano no século XIV. Mas há registros de que tenha surgido na China há mais de 2.000 anos. Divertida e lúdica, é a arte das cores que transmitem alegria e emoção.

Cores à memória

Antigas instalações de O Nacional, na Avenida Brasil

O embrião do livro “Aquarelas da Memória” surgiu em atividade de campo, quando era professor da Arquitetura na UPF. “A gente visitava prédios e explanava sobre a arquitetura de cada um. Numa reunião, sugeri que ao invés de fotografar os prédios os alunos desenhassem, aliando o lado artístico, pois os arquitetos tem essa capacidade. Começaram os registros em desenhos. A Catedral foi a primeira aquarela. A partir daí usei as fotos antigas e aquilo que a memória lembrava dos tempos de piá. Muito já não existe mais. Foi necessário pesquisar aquilo que se perdeu da memória da arquitetura, o que a gente entende que é o crescimento da cidade”, contou. E, assim, em 2016, a didática proposta colocou o arquiteto da maneira mais lúdica na arte da alegria das cores.


A arte que surgiu das memórias e da arquitetura

Livro está na fase final

“Aquarelas da Memória – Passo Fundo” é um livro com aproximadamente 100 aquarelas de Foguinho. “É uma parceria com o Instituto Histórico de Passo Fundo e a UPF com a parte da diagramação. Aos poucos está indo, quase pronto. O valor é alto, com formato 26x36, material de qualidade. Acho que mais uns três meses e será lançado, com tiragem de no mínimo 1.500 exemplares”, explicou com entusiasmo. Para concretizar a proposta, terá apoio da Lei Rouanet. “Nunca pensei em ganhar dinheiro com o livro. A ideia é contar a história para os mais novos e para os mais antigos reviverem através das obras. É uma pesquisa que permite voltar ao passado”.

Proporcionalidade

As aquarelas não estão sós entre as páginas do livro. Dividem espaço com informações históricas, pequenos textos para situa-las no tempo e no espaço da urbe. “A cidade está dividida em seis zonas. Também tem seis mapas dessas áreas localizando os prédios ou espaços que estão nas aquarelas”. A mão do arquiteto também cuidou da proporcionalidade. “Naquela área da Prefeitura velha, na Avenida Brasil entre a Teixeira Soares e a 15 de Novembro, peguei o tamanho de cada lote e fui dando a proporção aos prédios”. As fotografias também foram uma mão na roda. “Da Calçada Alta nos anos 1960, usei fotos em preto e branco para ver como era”.

Souvenir colorido

Fogo, como também é conhecido pelos amigos mais próximos, considera a proposta adequada ao momento. “A cidade vai crescendo e muda bastante. Mas, então, por que na Europa preservam e exploram culturalmente? Temos prédios tombados e preservados. Ou os não-tombados que não escapam de ser demolidos. E assim se vai parte da memória visual da cidade. As aquarelas servem como souvenirs, pedaços da história de Passo Fundo para visitantes. Logo estará no ar um site com o material. E se alguém quiser (novo trabalho) a gente faz. Também dispomos de pequenas reproduções em paspatur (moldura de papel) que permite colocar o material em expositores, ideal para livrarias ou hotéis como souvenir”.

Glória

Quando Foguinho e seu sócio Choco (Paulo Renato von Meusel) foram contratados para projetar a reforma do Glória Hotel, ousaram em propor algo diferente. A ideia dos arquitetos teve a aceitação do proprietário, hoje falecido, Danilo Tatim dos Santos. “Ele teve muita visão e foi muito receptivo a nossa proposta pela restauração de um local histórico. Depois veio o tombamento oficial”. E, é claro, hoje o Glória é outra aquarela que saiu das tintas misturada à água do pincel do artista.

 O artista

Nunca pensei em ganhar dinheiro com o livro, pois a ideia é contar a história para os mais novos – Foto – Arquivo Pessoal

Foguinho, ou simplesmente Luiz Carlos Barbieux Oliveira, nasceu em Passo Fundo, filho do médico João Carlos Oliveira e da professora de música da UPF Liana Barbieux, já falecidos. Conta com orgulho que seu bisavô foi quem construiu a Cervejaria Serrana, de Bade, Barbieux & Cia, mais tarde adquirida pela Companhia Brahma. Estudou no IE e obteve graduação em arquitetura pela Unisinos. Há mais de 20 anos é professor da arquitetura da UPF. Aos 66 anos, é casado com a Jô e pai da Duda.

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