"No Fio da História: A vida de Leonel Brizola"

Livro de Cleber Dioni Tentardini é resultado de duas décadas de pesquisas, entrevistas e reportagens que também incluem Passo Fundo

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"Vamos retomar o fio da história exatamente onde pretenderam interrompê-lo, no Rio de Janeiro”, bradou Leonel de Moura Brizola quando retornava do exílio em 1979. Três anos depois, o ex-governador gaúcho foi eleito governador do Rio. E a expressão ‘o fio da história’ agora dá título à sua própria história. Um fio seguido de ponta a ponta pelo jornalista Cleber Dioni Tentardini para escrever “No Fio da História – A vida de Leonel Brizola”.

A obra está em fase de arremates finais, mas ainda sem uma data definida para o lançamento. “Estamos pensando em maio, enfim, nos próximos meses”, antecipou Dioni para O NACIONAL. De acordo com material divulgado pela Editora JÁ, de Porto Alegre, o livro entra em fase final de produção, resultado de pelo menos, duas décadas de pesquisas, entrevistas e reportagens. A edição é de Elmar Bones da Costa e conta com colaboradores de vários estados e do Uruguai.

O emblemático 2024

“São mais de 20 anos separando e reunindo material”, resumiu Cleber sobre a confecção do livro. Para bancar os custos com gráfica e edição, a editora faz uma vaquinha virtual, através do Catarse - plataforma de financiamento coletivo. Cleber lembra que 2024 é um ano emblemático para os trabalhistas. Leonel Brizola estaria completando 102 anos em 22 de janeiro. Em 31 de março, terão decorridos 60 anos do golpe cívico-militar, que mergulhou o país numa ditadura. Em 17 de junho, completam-se 45 anos da Carta de Lisboa, um marco na história do Trabalhismo, e que criou as bases para fundação do PDT. E, em 21 de junho, terão passados 20 anos da morte do líder político, único a governar dois estados brasileiros.

Não deu tempo

Há 20 anos, cinco meses antes de Brizola morrer, o jornal JÁ começou a produzir uma série de reportagens a propósito dos 40 anos do Golpe de 64. Os jornalistas Elmar Bones, Renan Antunes de Oliveira e Cleber estavam tentando agendar uma entrevista com o Brizola na sua estância El Repecho, na província de Durazno, no Uruguai. O filho João Otávio, que estava em Montevidéu, disse que encontrariam seu pai por lá em junho. Combinaram de visitá-lo. Não deu tempo. Morreu no dia 21 daquele mês de 2004, no Rio de Janeiro, vítima de infarto, aos 82 anos. Não resistiu ao agravamento de uma forte gripe, contraída uma semana antes, no inverno rigoroso uruguaio. 

“O menino que se tornou Brizola”

Tentardini diz que o material obtido para aquela reportagem foi tão valioso, que ele mergulhou na história de vida desde a infância em Carazinho. Rendeu uma edição especial do jornal JÁ e o livro-reportagem “O menino que se tornou Brizola”, com o olhar atento do editor João Borges de Souza, um veterano do jornalismo político, que cobriu, inclusive, a expulsão de Brizola do Uruguai, durante o exílio.

Na capa, pela primeira vez, uma foto do líder trabalhista menino, que o jornalista encontrou vasculhando os arquivos da Escola Técnica de Agricultura, em Viamão. Esgotada a primeira edição, a segunda foi publicada em 2013 e se estende até o retorno ao Brasil, em 6 de setembro de 1979. A contribuição decisiva de jornalistas e militares que atuaram naquele período permitiu ampliar a obra com textos e imagens que narram a trajetória do ex-governador gaúcho e carioca nos 15 anos de exílio. 

Trabalho consistente

Brizola, em 1979, foi enfático ao contrariar o desejo dos companheiros que queriam seu retorno à política pelo Rio Grande do Sul, quando projetou retomar o fio da história no Rio de Janeiro. E é a partir desse ponto que Tentardini retomou a história do líder trabalhista. A edição atual é uma fusão das duas fases da vida de Leonel Brizola, antes e depois do exílio. É um livro recheado de curiosidades, vitórias, derrotas, decepções, amores, fúrias, perseguições, reconciliações, conchavos e dezenas de páginas ilustradas com fotos, charges e reproduções de jornais. “É um trabalho jornalístico, para ser uma base factual consistente, que permita entender melhor a trajetória desse personagem fascinante que é o Brizola”, diz o editor Elmar Bones.

Casamento de Neusa Goulart e Leonel Brizola: com Getúlio, Jango, D. Vicentina, - Reprodução- O menino que se tornou Brizola

Família, estudos e política

O livro resgata os pais de Brizola, passando pela adolescência em Passo Fundo e em Porto Alegre, o desempenho escolar, acadêmico, o início da vida política, os mandatos como deputado estadual e federal.

Pesquisas em Passo Fundo, Carazinho e Porto Alegre

Tentardini fez centenas de entrevistas, realizou demoradas pesquisas em Passo Fundo, Carazinho e Porto Alegre. Ouviu parentes (irmãos), amigos, correligionários, adversários políticos e alguns amigos de infância. Também encontrou a senhora que acompanhou Brizola, com 14 anos, na viagem de trem até a Capital e lhe deu abrigo nos primeiros dias. 

Cruzinha

As pesquisas estenderam-se aos arquivos históricos, museus, bibliotecas, secretarias de escolas, igrejas e cartórios, todo o esforço necessário para desvendar a vida de Leonel Itagiba, que depois seria apenas Leonel, filho de José Brizola, um revolucionário maragato de 1923, oficial das tropas do general e caudilho Leonel Rocha. O autor conheceu Cruzinha, distrito de Carazinho, onde José Brizola, sua mulher Oniva e os cinco filhos moravam, criavam algum gado e plantavam. No caminho, encontrou um desvio para o cemitério do distrito, onde estão sepultados os pais de Brizola – localizado numa pequena planície a pouco mais de um quilômetro da beira da estrada principal. 

UPF

O livro avança com pesquisas minuciosas sobre os jornais da época em que Brizola foi deputado, prefeito e governador. As campanhas políticas nas décadas de 80 e 90, os governos do Rio de Janeiro, quando enfrentou adversários poderosos, incluindo o jornal O Globo. À propósito, o livro traz dissertações e teses defendidas na Universidade de Passo Fundo – UPF com recortes preciosos da atuação política de Brizola que tratam, por exemplo, dos boicotes que ele sofreu nos noticiários do principal jornal da família Marinho e de como o poderoso aparato do governo norte-americano monitorou de perto a vida do líder trabalhista.

 Perseguições

Outros trabalhos acadêmicos detalham histórias de integrantes dos Grupos de Onze Companheiros que sofreram perseguições, prisões e torturas por parte do aparato policial a serviço da ditatura militar, e um estudo detalhado sobre o processo de encampação da companhia de energia que atuava no Rio Grande do Sul. Um capítulo final traz a cobertura completa da morte e dos funerais, reflete sobre a importância e o legado de lutas e princípios que Leonel de Moura Brizola deixou ao longo de meio século na vida política do Brasil.

Autor e editores

O autor é Cleber Dioni Tentardini que trabalha para editoras, jornais e portais de notícias. Tem vários prêmios jornalísticos nos 28 anos de profissão. É autor dos livros O menino que se tornou Brizola e Patrimônio Ameaçado dentre outros. Atuou como pesquisador e repórter em uma dúzia de livros sobre história, meio ambiente e biografias.O editor é Elmar Bones da Costa que trabalhou na Gazeta Mercantil, O Estado de S. Paulo, Folha da Manhã, revistas Veja, Isto É e Amanhã. Participou da Cooperativa dos Jornalistas do RS, escreveu e editou dezenas de livros. Alguns textos foram editados por João Borges de Souza, que faleceu em 2022.

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