Para o poeta cubano José Martí, toda pessoa deve plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Flávio Damiani tem três filho, escreveu alguns livros e quebrou vários galhos de uma árvore no quintal da casa dos pais em Colorado. Foi na árvore que plantou a semente do jornalismo. Flávio Antônio Damiani, 66 anos, nasceu em Colorado, penúltimo de quatro irmãos. Em segundo matrimônio, é cassado com a Marga e pai coruja do Juliano, Francisco e Vitória. Desde piá meteu uma mão na escrita e, depois, o pé no mundo. Do rádio para a televisão e outras lidas, logo marcou seu nome no jornalismo gaúcho. Nesta sexta-feira ele está em Passo Fundo para lançar “Damiani em Crônicas”, uma coletânea com tempero jornalístico em agradável tom bem-humorado.
E a árvore?
“Desde pequeno, eu narrava futebol imitando o Ranzolin, Pedro Pereira e Milton Jung. Mas só gol do Inter! Peguei um abajur de casa que era o meu microfone”. A cabine do narrador de 10 anos era em cima de uma árvore, para desespero dos galhos remanescentes. “Depois, tive o privilégio de trabalhar com o Ranzolin na Gaúcha e o Milton na Guaíba”. O que restou da árvore ficou lá em Colorado, enquanto, aos 12 anos, Flávio chegava com a família em Passo Fundo. O gosto pela escrita e o ímpeto de repórter levaram Damiani para grupos literários e um microfone de verdade. E plantou uma árvore? “Moro em Florianópolis, nossa varanda recebe a visita de macacos e aves da Mata Atlântica. Mas lá, sim, eu plantei muitas bananeiras”.
O Bruxo de Passo Fundo
Adolescente, esteve ao lado de Paulo Monteiro no Grupo Literário Nova Geração. Logo estava na cabine da extinguida Rádio Municipal com o programa Nova Geração. “Depois do serviço militar, escrevia notinhas para a União Brasileira dos Trovadores (poemas) e cuidava da comunicação do Nova Geração”. Redigiu avisos e recados para o Jornal da Tarde, de meteórica circulação em Passo Fundo. “Me mandaram fazer o horóscopo. Comprei revistas sobre astrologia, estudei ascendências e tal. Entreguei o horóscopo. Mas no outro dia estava publicado como Omar Cardoso. Escrevi de novo e mais uma vez aparecia o nome do famoso astrólogo. Só então fiquei sabendo que era apenas para eu copiar as previsões do livrinho que estava na gaveta. Mas gostaram e passei a escrever o horóscopo com o pseudônimo de Alencar Xavier”. A história está no livro.
Na velha Planalto
No Cecy Leite Costa fez o curso de Redator Auxiliar, quando teve aulas com Tânia Rösing e Edy Isaías. “Levei uma notinha do Nova Geração à Rádio Planalto, então o Trombini (Luiz Carlos) disse que estava faltando um repórter e insistiu para eu me habilitar. Levei um chá de banco e fui recebido pelo Padre Paulo Farina. Chamou o Guaraci (Teixeira) que disse -vamos fazer um teste com o menino-. E o menino se deu bem”. Mas, para os exigentes padrões da emissora à época, ainda faltava outro crivo. “Fui gravar áudios com o Pedro Martins Dóro que corrigiu meus erres, pois o sangue italiano diminuía para apenas um erre”. Logo Damiani estava na redação e reportagens com a unidade móvel. “A Rádio Planalto foi a base de tudo para mim. Aprendi o dia a dia, o chão de fábrica do jornalismo. Era uma equipe ímpar, uma escola e eu tive a sorte de ter trabalhado com eles”.
Prêmio Esso
Damiani foi para a sucursal da Caldas Júnior e depois TV Umbu. “Nossa equipe conquistou o Prêmio Esso de Jornalismo com a série de reportagens sobre a Encruzilhada Natalino, publicada em ZH”. Assumiu a chefia de jornalismo da TV Cruz Alta. “Foi lá que o Losekan (Marcos) começou trabalhar comigo e até hoje somos grandes amigos. Ele é o autor do prefácio do livro”. Ainda pela RBS, na TV foi coordenador do Jornal do Almoço e repórter da Rádio Gaúcha, além de editor regional da Globo. Por três anos atuou como gerente de jornalismo da Band RS. “O Claudio Britto, que também é promotor, me convidou para montar a assessoria do MP do RS. Trabalhei na Câmara de Porto Alegre até me aposentar, em 2019. Fiz Pedagogia na UFRGS, quando levei o jornalismo para a sala de aula. Hoje escrevo e curso Filosofia na UFSC”, resumiu.
Um livro com leitura facilitada
“Minha tia Rita, lá em Colorado, abriu o livro e disse -você escreve pouco e a letra é bonita-”, resumindo a facilidade para ler pequenos textos com letrinhas em bom tamanho. “São 50 crônicas de 300 que saíram no Sul 21 selecionadas pelo pessoal da Editora Coragem. Todas têm o viés do humor, inclusive as tragédias. Minha tia tem razão, é leve para ler, pois crônica não tem sequência”. E, para não tirar o bom humor das páginas, Damiani diz orgulhoso que “esse livro tem prefácio e posfácio, isso é inédito (risos).
A sorte do repórter e a dica do padre
“Reportagem em Ronda Alta com o cinegrafista Ipácio Carolino. Passamos por um acampamento, apenas quatro barracas em lona preta. Na cidade falei com o Padre Arnildo Fritzen e perguntei se eram guaranis. O padre perguntou se guarani fazia barraca de lona preta? Então caiu a ficha. Voltamos lá e gravamos. Disseram que vinha mais gente. E no outro dia chegou um ônibus e um caminhão. Já eram mais de 30 barracas. Chamavam de ST, os sem-terra, movimento precursor do MST”.
SERVIÇO
Lançamento e Sessão de Autógrafos
‘Damiani em Crônicas’ de Flávio Damiani
Sexta-feira, 07/06/2024
Das 19 às 21 horas
Livraria Delta – Passo Fundo Shopping