Raul Boeira apresenta seu “Sambas e Canções”

Terceiro disco do compositor tem parcerias e produção de Dudu Trentin

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Prestes a completar 68 (no próximo 04/10), Raul Boeira continua brincando. Cada vez mais. Resiste, não se rende ao pragmatismo. Mantém o olhar poético sempre atento. Inventa o seu teco-teco e embarca. A capa de seu terceiro álbum deixa isso claro. Assim como o violão, o pião é madeira, corda e mão. Gira. E seu giro é breve, como o tempo que dura uma canção. Por isso é que pediu a Laura Dickel Saraiva, jovem artista gráfica passo-fundense, que desenhasse um Raul brincando com o pião.

 

A bem da verdade, começou a brincar em 1972, aos 15 anos, em Porto Alegre, quando comprou um violão usado com seu primeiro salário de auxiliar de escritório. Em 1977, já em Passo Fundo, fez a primeira canção e nunca mais parou. E de 1972 até 2013, quando se desligou do serviço público federal, conviveu com esses dois universos: o dos escritórios e o da música.

“Não sou e nunca almejei ser profissional. A música sempre foi a dona das minhas horas vagas. Compor era, e continua sendo, o grande barato. Acontece que as composições alçam voo. As fitas cassete que gravava em casa, e que foram se reproduzindo e se popularizando, chegaram aos músicos “de verdade”, que começaram a gravar aquelas canções. De repente, virei compositor.”

Só em 2007 (trinta anos depois da primeira canção) é que Raul Boeira decidiu gravar o “Volume Um”, CD com 12 faixas autorais, lançado em 2008. Oito anos depois, em 2016, saiu o segundo, “Cada qual com seu espanto”, que reunia 13 melodias antigas, e até então inéditas, que Márcia Barbosa e ele letraram em apenas dois meses, no final de 2015.

Raul Boeira lança “Samba e Canções” após intervalo de oito anos


Novidades

Agora, está saindo “Sambas e Canções”, que vem com novidades. A principal delas é que todas as 12 faixas são resultado de parcerias, nas quais Raul é apenas letrista. Escreveu as letras e as entregou para seis parceiros (Roberto Haag, Zé Caradípia, Mário Falcão, Paulinho Saggiorato, Orestes Dornelles, Maurício Castelo Branco)  que compuseram as melodias. Somente na faixa 1 (Celebração) é que o processo foi inverso. Escreveu os versos junto com Márcia Barbosa, sobre uma melodia de autoria do compositor campinense Maurício Castelo Branco.

“Desde que voltei a viver em Porto Alegre, tenho escrito muitas letras, hábito que se intensificou na quarentena da pandemia. Vi que não teria condições de musicar tanto material e passei a enviar as letras para alguns compositores. Felizmente, as parcerias têm sido muito gratificantes.”

Dos três trabalhos de Boeira, o atual é que contém o maior número de sambas. São pelo menos cinco com diversas variações do gênero. Outra novidade do disco, em relação aos anteriores, é a presença de orquestra nos arranjos das canções, Garimpo, Oficina e Flor canção, justamente as mais reflexivas e que falam do artista e da criação artística.

Produção

Produzido de 10 de março a 3 de agosto de 2024, “Sambas e Canções” tem novamente a assinatura de Dudu Trentin na produção musical e arranjos. Natural de Marau, mas radicado no Rio de Janeiro há vários anos, Dudu e Raul são amigos desde o início dos anos 80. Os dois se conheceram em Passo Fundo.

“Ele me deu aulas e me fez compreender as noções básicas de Harmonia. Passei a tocar com mais consciência. Temos muita afinidade musical. Os gostos parecidos. Ele é muito organizado, rápido, domina todos os aspectos da produção musical (artísticos e técnicos), conhece os melhores músicos do Brasil. Me deixa muito seguro. E me respeita como compositor”, afirma Boeira.

A vinda temporária de Dudu para Pelotas facilitou os encontros entre os dois amigos para definição do disco e início dos trabalhos. Dudu já havia assinado a produção de “Volume um” e “Cada qual com seu espanto”.

“A produção musical dos três são bem distintas. No primeiro, a gente tinha a questão da logística. O Raul ainda morava em Passo Fundo e eu no Rio. Fomos trocando e-mails, conversando, então comecei a dirigir as gravações nas casas das pessoas, nos estúdios mais próximos de cada um. Até que o Raul foi ao Rio e gravamos a voz no lendário estúdio Nas Nuvens.

No segundo, o Raul me pediu um perfil mais de banda. E o que foi feito. A gente montou uma banda, todos os músicos se reuniram no estúdio e gravamos todo mundo tocando junto. Foi um disco bem mais “ao vivo”, digamos assim.  

Neste terceiro, novamente surge a dificuldade de logística. Estou passando um período em Pelotas, onde o disco foi todo produzido. O Raul veio pra cá, a gente conversou muito. Eu dirigi as gravações aqui de Pelotas, com os músicos novamente gravando em seus espaços no Rio. A voz foi gravada aqui”, conta Dudu.

Sobre a questão musical do trabalho mais recente, Dudu diz que ele se diferencia dos demais justamente pelo fato de Raul ter colocado letras sobre melodias de outros compositores. “O Raul sempre foi um grande letrista e compositor. Sempre fez lindas canções, bom melodista, conhecedor de acordes e harmonia. Acho um desafio bárbaro fazer isso. Além de criar um desafio para o Raul cantor, intérprete. Uma coisa é cantar as próprias canções, porque você cria as melodias de acordo com a tua sensação de canto também. Ao cantar canções de outras pessoas, cai num terreno bem difícil. Este disco tem essa peculiaridade. O Raul aparece predominantemente como letrista e acaba cantando composições dos parceiros. Essa é a grande diferença dos demais”, revela.

A exemplo dos dois primeiros trabalhos, Dudu reuniu em “Sambas e Canções” uma verdadeira seleção de grandes músicos. Nomes como

 

 

 

André Vasconcellos, um dos melhores baixistas brasileiros da atualidade, Alceu Maia, apontado atualmente o principal nome do cavaquinho no Brasil, o violonista Marco Vasconcellos, que trabalhou com Alcione e muitos outros; o baterista Jurim Moreira, veterano, já tocou com praticamente toda a MPB. Atualmente está na banda de Chico Buarque; André Siqueira, percussionista carioca de intensa atividade nos palcos e estúdios do Rio. Além de músicos convidados, como Luís Filipe de Lima, Celso Fonseca, Marcelo Martins e Sergio Chiavazzoli.

 

“A gente trouxe para dentro do disco pessoas que se identificam com o trabalho. Músicos, inclusive, que já participaram dos outros discos do Raul, como o Celso Fonseca”, lembra Trentin.

 

O disco está disponível na íntegra no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=TnvgmsDJFUk&list=PLlVvmjmPqxBo0zUK1ngsP3GaRSoFRNtw


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