Projeto criado por cacique dá visibilidade e leva cultura indígena às escolas

Cinema Itinerante Kaingang utiliza um domo de projeção 360 graus para a exibição de filmes que valorizam as identidades culturais

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Fotos divulgação/ Cinema Itinerante KaingangFotos divulgação/ Cinema Itinerante Kaingang
Fotos divulgação/ Cinema Itinerante Kaingang
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“É uma grande honra mostrar que existem os povos originários e que, por isso, ainda existem também a tradição e a cultura indígena”. A fala do cacique e produtor cultural Adelino Domingos, quase em tom de desabafo, expressa um resumo do que ele busca através do projeto Cinema Itinerante Kaingang, idealizado por ele e que tem levado gratuitamente às escolas a exibição de filmes que dão visibilidade e enaltecem a diversidade cultural brasileira.

Utilizando um domo itinerante de projeção 360 graus - uma estrutura inovadora que simula um planetário - o público é convidado a imergir em exibições de filmes com a temática indígena, sendo essa uma ferramenta de incentivo às reflexões sobre a preservação e valorização das identidades culturais. Além de Passo Fundo, as cidades de Carazinho, Pontão e Mato Castelhano também devem sediar as exibições.


Adelino é cacique da comunidade Fag Nor de Passo Fundo, localizada às margens da BR 285, na região do aeroporto. Como rememora, o que sabe de cultura aprendeu naturalmente ao longo da vida, colhendo junto aos mais velhos os ensinamentos que, seguindo o rito tradicional, também compartilha com os outros moradores da comunidade, e, agora com o projeto de cinema, além das fronteiras da própria aldeia. “Eu entendo da cultura por ter nascido na roça, numa aldeia. De tradição, comida, artesanato, dança, sobre as ervas medicinais. A gente aprendeu tudo isso vendo e participando, mas nunca tinha feito um projeto assim”, conta, ao frisar que a vontade de disseminar essas experiências culturais se concretizou quando recebeu o apoio técnico necessário. “Encontrei pessoas que me auxiliaram para fazer evoluir”.

O projeto pensado pelo cacique conta com financiamento da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar nº 195/2022) e do Pró-Cultura, e tem a produção cultural da Conecta Cultura e da Nova Consciência Produções, além da parceria com o Instituto Sétimo Saber.

As sessões

A curadoria de filmes foi selecionada para refletir a rica diversidade cultural do Brasil e, em particular, a história e tradições dos povos indígenas, com destaque para a cultura Kaingang. Segundo conta Adelino, quatro escolas locais já receberam o projeto. Na última semana, as turmas do Colégio Fagundes dos Reis puderam vivenciar a experiência imersiva. “Estamos levando até as escolas porque, muitas vezes, os jovens de hoje não sabem como era a cultura indígena”, diz ele, ao apontar que a iniciativa serve, ainda, para desmistificar e contrapor informações socialmente estabelecidas que nem sempre condizem de fato com a realidade dos povos indígenas. “Os alunos têm gostado por conhecer a nossa realidade”, avalia.

A programação inclui obras audiovisuais imersivas, no formato fulldome, com uma duração total de 40 minutos, trazendo produções como: Viagem Rupestre (2024) – Acervo Artístico da UFSM; Ecopoética Gaúcha (2024) – LabInter UFSM; Raízes (2024) – Planetário da UNIPAMPA; Kamê e Kanhru (2024) – Projeto DNA Afetivo Kaingang, Flecha 2 - O Sol e a Flor (2021) – Selvagem - Ciclo de Estudos sobre a Vida.


Esses filmes foram selecionados por seu foco em temas como ecologia, arte colaborativa, ancestralidade indígena e a relação entre o homem e a natureza. Estão previstos 10 mil ingressos para a comunidade das cidades participantes, sendo que todas as sessões são gratuitas. O evento é totalmente acessível contando com sessões com intérprete de libras e audiodescrição.

Conforme a agenda divulgada pela equipe, além das escolas, nos dias 2 e 3 de novembro, a exibição ocorrerá no espaço de eventos do Passo Fundo Shopping, das 9 às 20h.

“Agora somos vistos”

O projeto Cinema Itinerante Kaingang representa, na prática, muito mais do que sessões de cinema, demonstra o cacique. É, para ele, uma forma de dar visibilidade ao povo indígena e de valorizar a diversidade brasileira como um todo, retomando e fortalecendo tradições. “Estou feliz por perceber que agora estamos sendo vistos”, finaliza Adelino Domingos. 

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