Redação ON
Os produtores têm múltiplas oportunidades para o inverno. Eles podem optar por cultivar apenas uma das culturas ou escolher as três. O assistente técnico regional da Emater, Cláudio Dóro, afirma que em 70 municípios da região, a área cultivável é de 1 milhão de hectares. No ano passado foram cultivados em torno de 160 mil hectares de trigo, 35 mil de cevada, 20 mil de canola e o restante da área ficou desocupado. "As culturas de trigo, cevada e canola não competem em área, pois são plantadas e colhidas em épocas diferentes. O produtor não pode depender do sucesso ou fracasso de uma cultura de verão, como a soja e o milho. Ele precisa viabilizar as culturas de inverno também. Sobra muita área no inverno", explicou Dóro.
As culturas de inverno foram tema de seminário realizado ontem no auditório da Embrapa Trigo. Participaram, agricultores, técnicos agrícolas e pesquisadores. Palestrantes falaram sobre gestão da propriedade, adaptação das culturas de inverno ao ambiente produtivo, seguro agrícola, perspectivas climáticas e políticas de comercialização e debateram as culturas de trigo, cevada e canola. O trigo vem em primeiro lugar nas culturas econômicas, mas as demais poderão surpreender. "Depois vem a cevada, que está diminuindo nos últimos anos, mas que tem uma tendência de plantio neste ano em virtude de problemas da comercialização do trigo. E a canola vem surpreendendo devido ao tamanho de área, principalmente nos últimos três anos", disse o assistente técnico regional da Emater.
Redução na área de trigo
A safra brasileira de trigo em 2009 foi de 5 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul colheu 1,8 milhão. O trigo é considerado pelo chefe-geral da Embrapa Trigo, pesquisador Gilberto cunha, a melhor alternativa entre as culturas de inverno. "Não há outra alternativa tão importante que tenha a mesma escala de representatividade econômica do que o trigo em termos de cultivo de grãos para a safra de inverno no sul do Brasil", comentou Cunha.
Na região do Planalto, a melhor época para o plantio é em junho, principalmente para escapar das geadas na época de floração. Para ele, plantar trigo ainda é uma das melhores opções para reduzir os custos fixos da propriedade e para a gerar renda em uma época do ano em que não há outros ingressos nas áreas dedicadas à produção de grãos.
Em relação à redução de área, Cunha não acredita que seja relevante. "Ainda é muito cedo. Em linhas gerais, acredita-se que a área deve ser a mesma cultivada na safra passada, de 800 mil hectares. Este número pode cair um pouco, mas não há expectativa de redução acentuada", afirmou o pesquisador da Embrapa Trigo.
Cunha informou que a expectativa é de clima favorável para o cultivo do trigo. "Não deve ocorrer evento extremo, como os fenômenos El Niño. Há uma perspectiva de primavera menos úmida sem excesso de chuvas", contou ele. O assistente técnico regional da Emater, Cláudio Dóro, afirma que haverá uma redução de até 30% em 2010 na área de plantio do trigo. "Fizemos um levantamento prévio na Emater sobre a intenção de plantio. Constatamos por meio do comportamento do produtor, da revenda de insumos, de sementes e juntos aos agentes financeiros um certo desânimo no plantio principalmente do trigo. A estimativa é para que haja uma redução de 20% a 30% na área do trigo", disse Dóro.
Essa redução poderá acontecer devido a dois fatores principais: preço baixo e mercado. Dóro falou que o trigo está enfrentando problemas na comercialização. Outro fator são os preços. "O preço mínimo do trigo pão é R$ 31,80, fixado pelo governo federal. No mercado livre, o produtor consegue no máximo R$ 24. Existe um descompasso entre o preço mínimo e o de mercado", contou ele.
Comercialização do trigo
Em 2009, o governo federal teve de intervir na comercialização do trigo no Rio Grande do Sul, fixando um preço mínimo visando à melhoria da qualidade. O superintendente comercial da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), João Paulo de Moraes Filho, contou que no mercado mundial, o preço caiu em relação ao preço mínimo fixado pelo governo federal que teve que intervir para dar suporte na sustentação deste preço.
O superintendente comercial disse que se neste ano as condições forem as mesmas, ou seja, o preço de mercado continuar abaixo do mínimo, o governo novamente dará suporte, através das operações da Conab.
Expectativa de 10 mil hectares de canola
Para a região de Passo Fundo, a estimativa é de plantio de uma área de 10 mil hectares. A data para o início do plantio é entre 11 de abril e 20 de junho. Quanto mais cedo a semeadura, melhores serão os resultados. Um trabalho de fomento feito pela BSBios - Indústria e Comércio de Biodiesel Sul Brasil há três anos faz com que o plantio de canola cresça a cada ano.
O coordenador do Departamento de Fomento da BSBios, Fábio Júnior Benin, disse que em 2007 foram 3,5 mil hectares, 7 mil hectares em 2008 e quase 10 mil no ano passado. "Este ano pretendemos chegar à casa dos 10 mil hectares com uma área adicional de 5 mil hectares no Paraná, onde estamos iniciando o trabalho de fomento. Totalizando então uma área de 15 mil hectares", disse Benin.
A política comercial da canola da BSBios definiu áreas próprias e está na fase final da semeadura. A intenção da empresa é permitir que o produtor tenha um determinado número de sacas com um preço pré-estabelecido. "Mais especificamente 12 sacas por hectare ao preço unitário de R$ 40 a saca, isso garante o custo de desembolso para insumos. O preço parâmetro para a formação do preço da canola será o preço da saca de soja no momento em que ele fará o faturamento da sua produção", explicou Benin.
Cevada deve ter crescimento de 15%
A expectativa é para que haja um incremento na área da cevada em 15% em relação ao ano anterior, chegando a 46 mil hectares no país. No ano passado a área ocupada foi de 39 mil hectares. A palestrante Mauri Antoninho Bottini, da AmBev falou sobre a comercialização e informou que a política será a mesma do ano passado. "Em 2009 tivemos muitas dificuldades em relação à qualidade por motivos climáticos. Mantemos a política e sempre abrimos uma flexibilidade", falou Bottini.
Hoje a cevada de primeira para a região do Planalto tem preço de R$ 440 a tonelada. Bottini explicou que há vários motivos para os produtores plantarem a cultura. "No momento em que o produtor opta pela cevada, ele já tem um contrato firmado e preço fixado em reais, independente do que acontecer no mercado. Estamos trabalhando em cima de um seguro para garantir uma receita mínima para o produtor em anos de frustração por problemas climáticos. Além disso, investimentos pesados estão sendo feitos em pesquisa para buscar materiais de melhor potencial para o produtor ter sucesso na produtividade", concluiu ele.