Seis anos depois do último encontro oficial entre os dois blocos, o Mercosul e a União Europeia encerraram na sexta-feira, na capital argentina, a primeira rodada de negociações que busca o acordo de livre comércio entre as partes. O acordo poderá reunir o maior grupo de consumidores do mundo, calculado em 700 milhões de pessoas. Além disso, permitirá que o comércio entre os dois blocos, que reúne 27 países, seja incrementado em 5 bilhões de euros, o equivalente a R$ 11 bilhões.
O encontro entre os negociadores sul-americanos e europeus resultou de decisão política dos governos dos países que formam os blocos, anunciada pelo primeiro-ministro da Espanha, José Luís Zapatero, durante a 6ª Cúpula União Europeia, Mercosul e Caribe, em maio. A cúpula foi realizada em Madri. A Espanha ocupa, atualmente, a presidência temporária do bloco europeu. O chefe da delegação brasileira no encontro de Buenos Aires, Evandro Didonet, encarregado de Negociações Internacionais do Ministério das Relações Exteriores, disse que, apesar de quatro dias de debates, ainda não se chegou a uma conclusão já que o momento é de reorganização do trabalho interrompido em 2004, quando houve a última reunião. O principal trabalho dos negociadores sul-americanos e europeus, de acordo com Didonet, foi rever os textos aprovados na ocasião e planejar as próximas tarefas.
"Reconvocamos 11 grupos técnicos, que apresentaram um balanço de seus respectivos temas, repassaram os textos pendentes há seis anos e, em alguns casos, novas propostas foram apresentadas", disse. "Os grupos analisaram temas como bens e serviços, normas sanitárias, fitossanitárias e técnicas, regras de origem, salvaguardas, serviços, investimentos e compras governamentais, entre outros. Além disso, fizemos um cronograma de tarefas para os próximos passos".
Segundo o embaixador, os negociadores do Mercosul apresentaram as propostas do bloco em conjunto e, portanto, com equilíbrio de contribuição dos países do grupo: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. "O nosso objetivo sempre foi evitar que os países atuassem de forma descoordenada. Houve discussões prévias, longas e, às vezes, difíceis, mas sempre mantivemos a ideia de apresentar uma visão de conjunto dos interesses relativos ao Mercosul". Didonet descartou a hipótese de que as eleições de outubro no Brasil e a posse de um novo presidente preocupem os negociadores do acordo de livre comércio, já que as posições apresentadas pelos brasileiros são resultado de um amplo trabalho de consulta entre empresários, a sociedade civil e o governo.