Daniela Wiethölter/ON
Indústrias de fundo de quintal ou de grande porte. De moda, uniformes, malhas, fitness e infantil. A variedade e a quantidade de fábricas de confecções impressionam em Passo Fundo. São mais de 90 registradas, 50 em plena atividade, sendo mais de 20 filiadas no Sindivest (Sindicato do Vestuário de Passo Fundo). O setor, que gera aproximadamente mil empregos diretos, está em franca evolução, mas ainda sofre com falta de especialização da mão-de-obra.
Para mudar este cenário, diversas iniciativas foram criadas nos últimos anos. O Sindicato criou há pouco mais de dois anos um curso profissionalizante de 160 horas em parceria com o Senai e a Paróquia São Cristóvão. Segundo o vice-presidente do Sindivest, Roque Colle, o curso já formou aproximadamente 70 pessoas com alto índice de aproveitamento no mercado. “Cerca de 90% dos alunos são contratados pelas indústrias locais”, disse Colle.
Novos profissionais
A UPF também criou o curso de Design de Moda, tecnólogo com duração de dois anos, que está formando a primeira turma de alunos neste mês de dezembro. O desfile de conclusão de curso aconteceu na noite desta quinta-feira (2), onde cada aluno apresentou seis looks comerciais e um conceitual, totalizando mais de 200 looks diferentes. O tema do desfile foi “Tempo de brincar, de amar, de recordar”.
Segundo a coordenadora do curso, Rosânia Robolt, a inserção destes novos profissionais nas indústrias da região já está transformando a visão de mercado dos empresários locais. “Antes as empresas tinham uma grande dificuldade em investir e aceitar o trabalho destes profissionais porque a grande maioria trabalha com mão-de-obra familiar, onde pouco se cria e muito se copia. Hoje já estamos vendo uma transformação e as indústrias estão investindo mais na criação, no estabelecimento da marca e na identificação do seu público alvo”, explicou.
Pólo produtor de moda
Apesar de o mercado produtor estar em franco crescimento, o comércio local ainda não aposta nas indústrias daqui. Segundo Rosânia, são mais de duas mil lojas de confecção na cidade, mas que em sua grande maioria adquirem suas coleções em outros estados, como São Paulo e Santa Catarina. “Nosso objetivo é alavancar o mercado local, mostrar que aqui temos excelentes produtos de moda”, afirmou. Com este objetivo, o curso planeja incluir uma série de eventos na cidade, como desfiles, oficinas e semanas de moda. Na próxima semana, entre 9 e 11 de dezembro, o estilista Jum Makao, que participa anualmente da São Paulo Fashion Week e que já desenvolveu coleções para marcas consagradas (Nike), estará ministrando uma oficina de inovações em modelagem na UPF.
Cidade é referência
A mudança na visão dos empresários, através da qualificação dos profissionais de moda também colocaram Passo Fundo em evidência na região. “Estamos nos tornando uma referência no mercado, desde a produção nas indústrias, até o desenvolvimento de campanhas”, explicou Vieira. A indústria de Colle, Colbech Uniformes Profissionais, a produção chega a mais de 10 estados, além de clientes argentinos que freqüentemente adquirem coleções completas da marca. Para o empresário Colle, além da vantagem logística, já que o município está geograficamente bem localizado, o aumento da participação de profissionais capacitados na área na criação das coleções e campanhas – o que era uma raridade há pouco tempo - tem colocado a produção local em destaque na região, estado e no país.
Para a stylist de moda e também professora do curso de Design da Upf, Juliana Scchneider, hoje a realidade é diferente. “Trabalhamos um conceito junto aos nossos alunos e temos ampliado o contato com os empresários da moda. O resultado é uma mudança na forma de trabalho. A produção local está mais valorizada e com isso conseguimos propor um produto diferencial, com valor agregado”, afirmou.
O professor do curso da UPF e também fotógrafo de moda, Fábio Vieira concorda. “Antigamente ou as empresas locais contratavam profissionais terceirizados para criar as coleções ou apenas reproduziam o que vinha de fora e não se preocupavam com as coleções, nem com criação. Era bastante amador e fragmentado”.
Mão de obra especializada
Fábio afirma que o município tem potencial para qualificar o setor. “São muitas indústrias locais e com bons produtos”, explicou Vieira que é sócio da Zero 3 Comunicação & Desing, agência especializada no atendimento de indústrias de confecção têxtil. Na carteira de clientes são mais de 20 clientes ligados a moda. “Desenvolvemos toda a campanha, desde a escolha do modelo, produção, fotografia, tratamento de imagem, montagem do catálogo, negociação com gráfica, banner”, relatou.
Novos projetos
Além da qualificação dos profissionais e por conseqüência do produto final, um forte investimento na gestão das empresas também faz parte da evolução do mercado da moda no município. Recebendo a atenção do Sebrae desde 2005, cerca de 22 micros e pequenas empresas participam de ações que visam otimizar a produção, reduzindo gastos e aumentando lucros. O projeto prevê ações de mercado, com acesso a feiras e eventos nacionais e internacionais. Além disso, os empresários participam de capacitações nas áreas de consultoria, processos produtivos, financeiro, gerencial e informática.
Segundo o gestor de projetos do Sebrae,Diego Tessaro, esta preparação é fundamental para se manter nesse mercado que é bastante agressivo em termos de competitividade e onde as barreiras de entrada são muito baixas. “Para começar uma confecção é muito fácil, às vezes o negócio começa num cômodo da casa. Porém para se manter no mercado é mais difícil. É necessário planejamento e conhecimento em gestão”, explicou. Nestes anos de trabalho conjunto as empresas amadureceram. “A gente vê claramente que as empresas estão mais focadas no mercado, trabalhando com planejamento e desenvolvendo excelentes trabalhos. É fruto do próprio amadurecimento das empresas”, finalizou.