Produtores gaúchos serão os mais atingidos por IN

Com clima desfavorável, trigo gaúcho não atingirá os patamares de qualidade impostos pela instrução normativa, com reflexos negativos na comercialização do produto

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Daiane Colla/ON

Desde 1º de dezembro, produtores de trigo de todo o país discutem as conseqüências da Instrução Normativa 38, que adota novos critérios de qualidade para o trigo brasileiro a partir de julho de 2011.

Com a instrução normativa, o trigo brasileiro conta agora com cinco categorias – melhorador, pão, doméstico, básico e outros usos – e dois critérios principais – força de glúten e estabilidade. “De modo geral a instrução normativa está mais rigorosa, vem ao encontro de um processo irreversível de qualidade em todas as cadeias produtivas”, destaca o pesquisador melhorista da Embrapa Trigo, Eduardo Caierão.

Uma das principais exigências está na classificação do trigo melhorador. Enquanto as outras quatro categorias dependem de força de glúten ou estabilidade, o trigo para ser classificado como melhorador precisará ter uma força de glúten mínima e também uma estabilidade mínima. (confira tabela abaixo)

A determinação não foi muito bem recebida pelos produtores, em especial os gaúchos. “Essa determinação irá dificultar a comercialização do trigo, o escoamento da safra e a liquidez do cereal”, afirma. A discussão era antiga, mobilizada em grande parte pelos moinhos.

Entretanto, a influência da nova classificação do trigo brasileiro no preço pago pelos moinhos, certamente terá interferência do mercado internacional e da taxa cambial. É impossível prever como ele será comercializado. Até lá, o governo federal irá definir os preços mínimos pagos a cada uma das variedades.

Mesmo sem perspectivas de preço, Caierão garante que o trigo gaúcho será o mais afetado pela determinação. A instabilidade climática tem prejudicado a safra de trigo no estado, reduzindo a qualidade do cereal comercializado. Se o preço no mercado internacional não for favorável, mesmo em períodos de entressafra, a comercialização certamente ficará travada.

Para o pesquisador, há necessidade de avanços em termos de estabilidade quando falamos em trigo gaúcho. “A maioria das variedades das lavouras são classificadas como pão, mas nem todas elas condizem com a classificação de recomendação. Isso ocorre porque não chegamos ao nível de estabilidade qualitativa desejada para afirmar que uma cultivar plantada em qualquer situação, sob qualquer condição de manejo irá manter sua característica pão”, explica. Isso, segundo Eduardo Caierão, é conseqüência da grande instabilidade climática.

Tendência de preço
Segundo o analista de Safras & Mercado, Élcio Bento ainda é impossível definir de que forma os preços do trigo irão se comportar com a nova instrução normativa. Entretanto, ele adianta que a exigência em qualidade, deverá sim complicar a comercialização. “A dificuldade de produção, pode garantir preços menores já que com as exigências teremos trigo classificado de forma menos favorável com relação ao preço”, diz.

Porém, ele frisa que o mercado internacional e a taxa de câmbio não deixarão de influenciar o preço final. “Em ultima instância, independente da nova regra, o que irá determinar o preço é o que está acontecendo no mercado internacional e o cambio local. Esses preços vão determinar quanto os moinhos irão pagar pra comprar o trigo lá fora. Se eles precisam pagar muito mais, o preço no Brasil tem condições de ser também mais alto”, garante.

IN 38: novo regulamento técnico¹

Tipos    W²    estabilidade minutos    queda em segundos
Melhorador    300    14    250
Pão    220    10    220
Doméstico    160    6    220
Básico    100    3    200
Outros usos    qualquer    qualquer    qualquer

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