Diretamente da horta para o consumidor

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Glenda Mendes/ON

Alimento saudável que sai da horta e vai para a mesa. São esses os produtos que são comercializados semanalmente na Feira do Produtor, que teve como um dos pioneiros o agroecologista Alceu Primel, que mostramos a história na semana passada. Ele e a família fazem parte da cooperativa que agrega mais de 150 produtores orgânicos. Juntos, eles são responsáveis pela comercialização de centenas de produtos, que vão desde os in natura até os processados.

Conforme define o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, “verduras, legumes, frutas, castanhas, carnes, pães, café, laticínios, sucos e outros produtos in natura e processados só podem ser considerados orgânicos se forem cultivados dentro de ambiente de plantio orgânico, respeitando todas as regras do setor. O comércio de produtos orgânicos no Brasil, bem como no mundo, depende da relação de confiança entre produtores e consumidores e dos sistemas de controle de qualidade. As leis brasileiras abriram uma exceção à obrigatoriedade de certificação dos produtos orgânicos para agricultura familiar que hoje pode vender os orgânicos diretamente aos consumidores finais. Para isso, porém, os agricultores precisam estar vinculados a uma Organização de Controle Social – OCS”.

Este é o caso dos comerciantes da Feira Ecológica, que estão organizados na Cooperativa Mista e de Trabalho Alternativa Ltda (Coonalter). Através da cooperativa, além da feira, eles participam de diversas outras ações, como a doação de alimentos e venda para a merenda escolar.

Saúde à venda
Assim como apresentamos na semana passada, todos os produtos comercializados na Feira Ecológica são isentos do uso de agrotóxicos. Em grande parte, a forma como são cultivados é que garante um sabor todo especial a estes alimentos. Entretanto, no princípio, Alceu e seus irmãos vendiam, por orientação dos pais, as frutas nativas da época que não eram consumidas pela família. Mas foi através da comercialização desse excedente que se criou a ideia de fazer uma feira.
“No início o pai e a mãe faziam a gente vender as frutas nativas e da estação para o consumidor na cidade de Casca e a Santo Antônio do Palma. Primeiro, era a cavalo e depois tinha um tratorzinho, depois umas camionetes. Disso foi evoluindo e depois a gente foi aprendendo as práticas da agricultura ecológica, a defender não só do alimento, mas as plantas, as águas, o ar que a gente respira. Começamos então a fazer a feira em Casca, mas depois buscamos um mercado maior, e foi assim que a Feira Ecológica começou em Passo Fundo”, conta.

Somente na propriedade dele são cerca de 70 tipos de produtos, que vão desde os cereais, como a linhaça, o trigo, a ervilha e o feijão, até as frutas mais diversas. “Só de feijão, tem muitas variedades: broto, feijão pra sopa, branco, preto. E mais as frutas. Depois temos sucos, verduras, temperos. No ano são mais de 200 variedades de produtos que a gente leva na Feira”, explica Alceu.

O que não é vendido in natura é processado dentro da propriedade, conforme rezam as normas da agroecologia. Até mesmo a farinha é moída diretamente na granja. Por isso, quando questionado sobre o que precisa comprar, que eles mesmos não produzem, são taxativos: “compramos roupa, sal e café, mas café é muito pouco, porque tomamos mais os chás que temos por aqui”, sentencia.

Organização começa de madrugada

Para poderem oferecer seus produtos todos os sábados, os produtores de Santo Antônio do Palma tem uma rotina que começa cedo, por volta das 3h da madrugada. “Todo sábado a gente sai daqui às 3 horas da madrugada, chega em Passo Fundo, monta a estrutura, as caixas, porque o consumidor, 6 e pouco 7 horas já está chegando, se não organizar quando chega, atrapalha bastante”, conta Alceu, ressaltando que a feira de Passo Fundo é “a única do estado de agricultura orgânica que tem a diversidade que nós temos”.

A história da Feira Ecológica
Realizada todos os sábados, há 12 anos, a Feira Ecológica ganha a cada semana mais adeptos e consumidores. Atualmente são 163 agroecologistas que todas as semanas oferecem seus produtos. Para tanto, eles estão organizados e devidamente registrados. Eles fazem parte da Coonalter (Cooperativa Mista e de Trabalho Alternativa Ltda.), com sede em Passo Fundo, que agrega, além dos produtores de Santo Antônio do Palma, todos os agricultores familiares da região que trabalham com produtos orgânicos.

Logo nas primeiras horas da manhã, na rua Dez de Abril, ao lado da Praça da Mãe, todos os sábados é possível encontrar uma série de alimentos. Em abril deste ano a feira completou 12 anos. A estimativa é que circulam cerca de 500 consumidores a cada semana, que encontram mais de 150 tipos e variedades de produtos e alimentos ecológicos, entre frutas, verduras, legumes, doces, conservas, compotas, mel e panificados.

Merenda escolar
Com o objetivo de ser mais uma forma de renda para os agricultores e qualificar a alimentação oferecida nas escolas, a Coonalter fornece alimentos ecológicos para escolas da rede estadual de ensino e entidades de assistência social. Além disso, desde 2004, a cooperativa participa do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA/Conab), em que realiza a doação de alimentos ecológicos para 13 entidades de assistência social do município de Passo Fundo, atendendo, em média, duas mil pessoas, entre idosos, deficientes físicos, visuais e auditivos, adolescentes, adultos e crianças.

Em duas praças
A Feira Ecológica Coonalter é realizada todos os sábados de manhã na rua Dez de Abril (ao lado da Praça da Mãe) e na Praça Antonino Xavier (em frente ao Hospital da Cidade). Além disso, a Coonalter mantém semanalmente Ponto Ecológico na Avenida Brasil, 1306.
Desde o dia 29 de setembro, a oferta de produtos, que tradicionalmente ocorria no bairro Boqueirão, passou também a ter ponto de venda na Praça Antonino Xavier e Oliveira. Apesar do pouco tempo de funcionamento, a feira realizada próximo ao Hospital da Cidade também conta com consumidores assíduos.
Segundo a Coonalter, além da comercialização, a Feira Ecológica tem como objetivo gerar saúde através de produtos ecológicos às pessoas que buscam uma alimentação correta e equilibrada. Entre outros, propõe-se ainda a aproximar a população urbana e rural na melhoria contínua da qualidade de vida, sem agressão à natureza.

A batata que é fruta
Um dos alimentos que mais chama a atenção na propriedade de Alceu é a batata yacon. Apesar de ser uma raiz, ela não precisa ser cozida e pode ser consumida como uma fruta. Além de ser saudável e gostosa, a raiz é indicada no controle e tratamento do diabetes. O tubérculo apresenta elevado teor de água, poucas calorias e tem como principal carboidrato os frutooligossacarídeos (FOS), que têm se destacado em vários estudos por exercer atividade bifidogênica, ou seja, estimula o crescimento das bifidobactérias no intestino que protegem contra o efeito de bactérias invasivas e patogênicas.

Por que consumir orgânicos?
Os mercados produtor e consumidor de produtos orgânicos estão crescendo. E para não deixar passar em branco esta mudança de hábitos, o Ministério da Agricultura não só reconhece como promove essa ação. No link que mantém na internet, o ministério salienta: “ao consumir produtos orgânicos, você contribui para o fortalecimento dessa grande rede de pessoas e instituições que trabalham em prol de uma melhor qualidade de vida para as gerações atuais e futuras. O consumidor responsável deve considerar e valorizar, no ato da compra, os produtos da estação, os regionais, aqueles que fortalecem os produtores locais e os que têm processo de produção e embalagens que agridem menos o meio ambiente.”

Na próxima semana, apresentamos a terceira e última matéria da série. Na semana passada foi mostrado como são produzidos os alimentos orgânicos e como funciona uma propriedade agroecológica. Nesta edição, o tema é a comercialização. E na edição do próximo final de semana vamos mostrar os consumidores que aderiram ao consumo de orgânicos, encerrando assim todos os eixos da cadeia de produtos agroecológicos.

Nota: diferente do que foi publicado na semana passada, na reportagem Agroecologia, mais que um sistema um modo de vida, o sobrenome de Alceu é Primel, e não Prímio, como foi divulgado.

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