Frangos sofrem com falta de alimento

Atraso na entrega de ração pela Doux Frangosul causa perdas aos avicultores. Famintos, os animais cometem canibalismo para sobreviver

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Leonardo Andreoli/ON

Os problemas enfrentados pelos avicultores ligados à Doux Frangosul só aumentam. Há dois anos eles sofrem com os atrasos nos pagamentos dos lotes entregues. Nos últimos meses o problema tem sido com a entrega da ração para as aves. Lotes de agricultores da região chegaram a ficar 12 dias sem alimento. A empresa divulgou nota oficial alegando que o problema já está resolvido e ocorreu por problemas técnicos em uma unidade de produção de ração.

A falta de ração causa a perda de peso e estresse nos animais. Em algumas situações os animais começam um processo de canibalismo, bicando-se entre eles, para sobreviver. O filho de um produtor da comunidade de Santa Gema, em Passo Fundo, encaminhou email para O Nacional para explicar a situação. As aves da propriedade da família Rosso estão há quatro dias sem alimento, com previsão de que em breve chegue o mantimento.

Os animais ainda não chegaram a morrer, mas já perdem peso. Na tentativa de mantê-los calmos, Edemir Rosso, colocou pasto dentro dos aviários que comportam cerca de 32 mil aves. A medida serve para impedir que as aves ataquem umas às outras e comprometam as carcaças no abate. “Esse é um fato muito grave para a criação de frangos de corte, visto que a falta de ração acarreta muitos problemas para o produtor, onde os animais acabam perdendo peso, tem um nível de estresse muito elevado e em consequência disso a conversão alimentar é muito prejudicada, fator que é muito importante para compor o resultado final do lote”, esclarece o filho Leonardo Rosso. Até o momento a empresa não garantiu uma compensação pelos lotes prejudicados.

 

Perda de 50%

Em Água Santa o problema com a falta de ração já causou perdas de até 50% dos lotes em algumas propriedades. De acordo com o Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente, Carlos Alberto Possebom, em 43 dias, um produtor ficou 12 – intercalados – sem alimentas as aves. Entre as que morreram e as que terão de ser sacrificadas por estarem doentes a parda de vê chegar a 50%. No município são cerca de 50 pequenos produtores que trabalham na atividade. “A empresa garantiu que o produtor não vai ter prejuízo. O que nos preocupa é que nesse período ele vai ficar sem renda. Além disso, a empresa vem com atraso de 100 dias no pagamento. Com mais este lote sem lucro ele não tem como se manter, ele está pagando juros do que ele deve no comércio”, pontua. As perdas não se resumem aos animais mortos, mas também aos que perderam peso.

 

Atraso no pagamento

Os atrasos nos pagamentos dos lotes entregues a Doux Frangosul são recorrentes há dois anos. Os avicultores entregam os animais prontos para o abate e demoram até 120 dias para receber. Apenas na propriedade de Rosso o atraso se estende desde o dia 11 de setembro deste ano. Desde lá já foram criados dois lotes de 45 dias, que totalizam mais de R$ 25 mil.

Conforme Luiz de Jesus, presidente da Avepenca, a empresa montou vários calendários de pagamento e não cumpriu nenhum. A dívida com alguns avicultores chega a 30% da produção.  Ele acrescenta que a falta de ração é desesperadora, principalmente para aquele que dependem exclusivamente da atividade. Apenas na região são cerca de 650 granjas que produzem frangos para o abatedouro de Passo Fundo. “Quem não tinha dívida parou de produzir para a empresa. A grande maioria tem dívida e não sabe se para ou continua”, diz. Ele afirma ainda que uma mobilização dos agricultores é preparada, inclusive com ações judiciais.

Estado

A situação não é exclusiva dos avicultores da região de Passo Fundo. De acordo com o vice-presidente da Fetag, Sérgio de Miranda, a falta de abastecimento de ração abrange toda a área de atuação da empresa, que compreende 2,2 mil produtores.  Conforme ele os impactos foram mais sentidos em alguns locais do que em outros. “Orientamos os agricultores para que encaminhem ações diretas pelo MP e na justiça para a cobrança dos animais. Estamos nos munindo de documentação e fotos para subsidiar as ações”, esclarece. A Fetag ainda estuda a possibilidade de realizar uma ação maior.

A Comissão de Integrados da Fetag se reuniu com Antônio Filla, responsável pelo atendimento ao produtor integrado, e Rafael Nicolella, gestão e RH, da Doux-Frangosul, para tratar da falta de ração, bem como o não cumprimento dos cronogramas de pagamentos que foram estabelecidos pela própria empresa. O presidente da Fetag, Elton Weber, disse para os representantes da Doux que o problema é grave. “Temos informação de que vários integrados já estão indo procurar o Ministério Público e a Fetag entende que esta é uma das alternativas, uma vez que ele se sente lesado e não tem mais como aguentar”, observa.

Em Passo Fundo, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais procurou o Ministério Público para denunciar o caso. O promotor que recebeu a denúncia deve dar uma resposta à entidade nos próximos dias. Conforme o presidente do sindicato, Alberi Ceolin, o município tem cerca de 60 aviários que recebem uma média de cinco a seis lotes por ano, compostos por aproximadamente 15 mil aves.

O que diz a empresa

Em um comunicado oficial por meio da Assessoria de Imprensa, a empresa esclarece: “a Doux Frangosul comunica que enfrentou problemas de produção em sua fábrica de ração de Nova Bassano na última semana, o que ocasionou desequilíbrio no abastecimento dos integrados. A questão foi contornada e a fábrica já está com sua produção normalizada. A empresa afirma que está fazendo todos os esforços para que o abastecimento dos integrados esteja operando normalmente até o final de semana”. Questionamentos referentes aos atrasos no pagamento e sobre como a empresa deve proceder frente aos avicultores que tiveram perdas devido a falta de ração não haviam sido respondidos até o fechamento desta edição.

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