Aumento real do poder de compra aumenta 1,6%

O novo salário mínimo de R$ 545,00 é, percentualmente, 50 vezes menor que o contracheque dos parlamentares brasileiros

Por
· 6 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Fernanda Bruni/ON

O aumento do salário mínimo de R$ 35,00, aprovado na Câmara dos Deputados no último dia 10, não agradou a população. Com um índice de 6,8% em relação ao salário mínimo anterior, R$ 510,00, passa a vigorar já em fevereiro os novos R$ 545,00. Ainda haverá uma votação no Senado, no próximo dia 23, para depois ir à sanção presidencial e, finalmente, entrar em vigor. O valor aprovado é quase 50 vezes inferior ao reajuste aprovado pelos parlamentares em 15 de dezembro do ano passado que tiveram aumento em seus salários de R$ 16 mil para R$ 26 mil, ou seja, 60%.

A novidade para a política de correção do salário mínimo é que agora ela será feita com base nos índices da inflação e do Produto Interno Bruto (PIB). O Governo Federal deverá editar uma Medida Provisória para estabelecer uma política nacional para o salário mínimo entre 2011 e 2015.

A Constituição de 1988 prevê que o salário mínimo deva suprir as necessidades básicas do trabalhador brasileiro e de sua família como alimentação, moradia, saúde, lazer, educação, transporte, higiene, vestuário e previdência social. Para tanto é necessário um reajuste periódico para preservar o poder de compra do trabalhador. O salário mínimo passou foi instituído no Brasil em 1º de maio de 1940, pelo decreto lei nº 399 de abril de 1938, durante o governo de Getúlio Vargas.  

Aumento real

Jucemar Zilli, economista, professor do curso de Economia da Universidade de Passo Fundo (UPF), mestre e doutor pela Universidade de São Paulo (USP) diz que esses R$ 35,00 representam um aumento absoluto em relação à inflação que foi de 5% no ano passado e o salário teve 6,8% de aumento em relação à inflação. Isso significa que o brasileiro vai ter um aumento no poder de compra na sua cesta básica, por exemplo, de 1,6%. “No salário mínimo que ele comprava a cesta básica o ano passado, esse ano com o mesmo salário ele consegue comprar um pouco mais de produtos. Ou seja, a população consegue comprar cerca de 1,6% a mais no supermercado”, pontua.

O economista ensina que para se chegar a esse cálculo, basta pegar o quanto foi o aumento do salário, quanto foi a inflação e ver o que se tem de porcentagem a mais. A partir daí cada pessoa pode fazer o seu cálculo. “Se o cidadão gastava R$ 400,00 para comprar a sua cesta básica e tinha um salário de R$ 510,00, hoje ele tem um salário de R$ 545,00 e vai gastar R$ 415,00 por conta dessa porcentagem a mais. Esse é o aumento real que é o aumento a mais do que foi a inflação”, comenta.

Zilli analisa que, apesar de também desejar um aumento salarial maior, um valor acima dos R$ 545,00 geraria um problema muito grave nas contas nacionais porque a aposentadoria está relacionada ao salário mínimo. “Se é dado um aumento muito grande e os gastos do governo também vão aumentar significativamente, gera um rombo no pagamento do setor público. Para o setor privado não teria muito problema mesmo aumentando o custo de produção”, finaliza.

População
Rudimar Ferreira Gomes, motorista aposentado, 77 anos, o novo salário mínimo não vai melhorar muita as suas finanças. “No supermercado eu não consigo comprar muita coisa a mais, e só com remédio da minha diabetes tenho um custo R$ 53,00 a cada 15 dias. Então, não dá nem prá comprar uma caixinha no remédio”, comenta.

Para a professora aposentada, Angelita Manfred Cunha, 63 anos, o novo salário é uma vergonha. “Imagine que só o botijão de gás lá perto de casa é R$ 38,00. Então o que eu vou fazer com R$ 35,00 se não dá nem prá comprar o básico para se fazer comida”, desabafa.

Iran Geraldo, pedreiro, 38 anos, é mais otimista. “Tenho três filhas pequenas e a minha esposa não trabalha. Então, qualquer quantia a mais que entre no bolso já está valendo porque não temos outro salário para sobreviver”, aponta.

Políticos municipais opinam sobre o salário mínimo

As discussões a respeito do salário mínimo aprovado pelo Congresso Nacional não ficam restritas a economistas, políticos federais ou trabalhadores. Em Passo Fundo, os representantes do poder público municipal também entram no foco do debate, e, como era de se esperar, há quem concorde e quem discorde com os R$ 35,00 de aumento. Porém, todos entendem que este valor não é suficiente para o sustento de uma família e para a manutenção das necessidades básicas dos idosos.

“Em relação à Prefeitura e aos servidores de Passo Fundo não há problemas porque nossos salários estão acima do mínimo. Quanto à política nacional do salário mínimo não sei exatamente qual é a proposta de recuperação do Governo Dilma. Mas, para quem ganha o mínimo, certamente esse valor não é suficiente para se manter o sustento de uma família.”  Airton Dipp (PDT) – Prefeito

“Meu partido lutou por um aumento maior. Mas, o cálculo do governo leva em conta o impacto na economia. O salário mínimo é, historicamente, muito baixo. Espero que o Governo cumpra o que prometeu e recupere esse valor que é insuficiente.” Luciano Azevedo (PPS) – Deputado Estadual

“Nós torcíamos por um salário maior, pelo menos R$ 560,00. Mas, por fazermos parte da base do Governo estamos solidários à análise feita.  O salário mínimo brasileiro nunca esteve num valor tão bom.” Diógenes Basegio (PDT) – Deputado Estadual

“Acho que tinha que ser pelo menos R$ 560,00. Claro que mais alto que isso poderia acabar quebrando as contas federais, mas eu, assim como o PDT, achei que o mínimo deveria ser o máximo possível.” Alberi Grando (PDT) – Vereador e Secretário de Saúde

“Eu sigo a opinião dos deputados da bancada federal do PDT, o (Enio) Bacci e o (Carlos Eduardo) Vieira da Cunha, de que o mínimo deveria ser de R$ 600,00. Precisamos recuperar o salário a cada ano.” Luiz Miguel Scheis (PDT) – Presidente da Câmara de Vereadores

“Certamente votaria pela proposta maior de R$ 600,00 porque o povo brasileiro já merece essa melhoria há muito tempo. Os deputados tiveram um aumento astronômico. Por que não beneficiar os trabalhadores e os idosos também?” Roque Letti (PDT) – Vereador

“Este é um valor baixo. Mas, levo em consideração a viabilidade econômica de pagamento. Reconheço que poderia ser maior, porém, devemos considerar que foi um aumento acima da inflação que garante o poder de compra da população.” Rui Lorenzato (PT) – Vereador

“O salário mínimo está tendo uma política real de aumento. Embora seja um percentual muito baixo em relação aos outros aumentos, é a primeira vez que se cria uma política para o aumento que tem como base a inflação e a média do PIB. A expectativa é de que essa política tenda a crescer e evoluir com essa fórmula.” Juliano Roso (PCdoB) – Vereador

“Os deputados votaram o aumento dos seus salários sem se preocupar com o impacto na previdência. Mas, para o mínimo, fizeram um alvoroço e aprovaram esse valor absurdo. Eu acho que o aumento deveria ser entre os R$ 560,00 e R$ 600,00.” Patric Cavalcanti (DEM) – Vereador

“Seguindo as análises do governo federal, tenho que aceitar esse aumento que considero baixo. Mas, não temos uma previdência social estruturada para suportar um aumento maior. Precisamos fazer uma reforma na previdência o que evitaria o rombo nos cofres do governo.” Rafael Bortoluzzi (PP) – Vereador

“Quando se dá um aumento abusivo para os deputados da noite para o dia e essa merreca para o trabalhador depois de tanto se discutir, acho o fim do mundo. O trabalhador merece mais que isso. Sei do rombo na previdência, mas é uma grande injustiça.” Paulo Neckle (PMDB) – Vereador

“Em relação ao aumento dado para a classe política, acho o mínimo muito pouco. Tinha que ser R$ 600,00 o que seria compatível pelo menos com a alimentação das pessoas."  Aristeu Dalla Lana (PTB) – Vereador

“Este aumento de R$ 35,00 é baixíssimo. Acredito que deveria ficar de acordo com as centrais sindicais que pediam R$ 580,00. Seria mais justo.” Márcio Tassi (PTB) – Vereador

“Este mínimo está aquém das necessidades para manter uma única pessoa, imagine uma família inteira. É difícil para um idoso se manter com esse valor. O idoso que começa a vida sozinho e acaba sozinho certamente é quem mais está sofrendo.” João Pedro Nunes (PMDB) – Vereador

“Existe uma questão técnica para essa definição a qual eu não tenho acesso. Politicamente, acho que o grande perdedor é o aposentado porque, ao menos no Sul, poucos trabalhadores vivem somente do salário mínimo.” José Eurides de Moraes (PSB) – Vereador

Gostou? Compartilhe