Os temidos efeitos do La Niña não se confirmaram, mas a freqüência das chuvas surpreendeu os produtores nesta safra de verão. Com a abundância de água, dias quentes e noites com temperaturas amenas, a altura da soja ficou cerca de 20 cm acima da média. O fenômeno La Niña é visto como sinônimo de prejuízo para o produtor nos cultivos de verão. Esta é uma interpretação equivocada, segundo o agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha. “Os nossos maiores problemas de frustração de safra por estiagem no sul do Brasil, a exemplo de 1990/91 e 2004/05, não ocorreram em anos de La Niña. A influência maior do La Niña na redução de chuvas se dá na primavera, nos meses de outubro e novembro, que não coincidem com o período crítico de desenvolvimento da soja, na floração e enchimento de grãos”.
Em estados como MS, SP, PR, SC e RS, conforme a Conab, o volume de chuvas esteve acima da média. Contudo, mais do que o volume total de precipitações, o que mais contribuiu na produção de grãos foi a freqüência das chuvas. A situação climática favoreceu o desenvolvimento das plantas e a boa formação das vagens, o que pode aumentar a produtividade média nas principais regiões produtoras.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Trigo, Leila Costamilan, as doenças de soja, de modo geral, estão se manifestando de forma menos intensa que em anos anteriores, principalmente quanto ao oídio. A ferrugem foi bem controlada na maioria das lavouras. Entretanto, devido às chuvas bem distribuídas, alguns focos com severidade alta de ferrugem foram registrados, sem comprometer a alta produtividade prevista.
Acima de um metro
A baixa incidência de doenças e a abundância de chuvas nas principais regiões produtoras de soja no Estado resultaram em plantas que cresceram acima de um metro de altura. Para o pesquisador da Embrapa Trigo, Paulo Bertagnolli, o tamanho das plantas não deve afetar o rendimento, ou seja, não prejudica nem favorece a lavoura. Entretanto, as plantas muito altas tendem a acamar com facilidade, dificultando a colheita. “Cultivares que historicamente não acamam, nesta safra estão mais suscetíveis. O acamamento é mais prejudicial na fase de desenvolvimento da planta. De modo geral, quanto mais cedo acamar, maior será o dano”, explica Bertagnolli. O pesquisador avalia que a soja também pode acamar por outros fatores além da quantidade de água, como alta fertilidade, excesso de plantas e má distribuição na lavoura, sol e calor durante o dia e noites mais frias, entre outros.
Segundo o pesquisador da Embrapa Trigo, Mércio Strieder, essa maior estatura de planta também relaciona-se ao fato da maioria dos produtores ter usado densidade de semeadura 20% maior nesta safra. “Esta prática é indicada para aumentar a competição entre plantas e, desta forma, estimular o desenvolvimento para compensar plantas com menor estatura por causa da limitação hídrica. Entretanto, uma vez estabelecidas as lavouras, com densidade de plantas superior, e com maior volume e freqüência nas precipitações, a estatura da planta de soja ficou maior em relação à condição com precipitações normais e com a densidade usualmente indicada”, esclarece Strieder.
Como evitar perdas
Os especialistas alertam que para evitar perdas ao colher a soja acamada, a operação deve ser realizada com menor velocidade da máquina e com ajustes mais freqüentes na altura da plataforma de colheita. “Considerando o padrão de desenvolvimento das lavouras até o momento e em se mantendo as precipitações durante as próximas duas semanas, a expectativa é de safra cheia, com registro de rendimentos recordes por área nas diferentes regiões produtoras” observa Mércio Strieder, lembrando que, com os preços em alta e confirmando a expectativa de grandes rendimentos, os produtores deverão ter bons ganhos com a soja nesta safra, assim como já vem ocorrendo com o milho.