Armazenagem no limite

Supersafra de soja revela fragilidade do sistema de armazenagem de grãos da região. Falta de espaços para este fim nas propriedades é uma das causas do problema

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Leonardo Andreoli/ON

Os silos e armazéns da região estão repletos de grãos. Isso não é novidade tendo em vista a supersafra de soja deste ano. No entanto revela uma fragilidade do sistema de armazenamento. O crescimento da produtividade não é acompanhado proporcionalmente pela construção de espaços para guardar o que é colhido. O problema preocupa uma vez que apenas 5% da produção ficam armazenados nas propriedades.

Os silos da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) já estão com 70% de ocupação. Conforme o gerente regional da Cesa, Roberto Tagliari, nos próximos 10 dias a capacidade deverá ser totalmente utilizada. A unidade de Passo Fundo tem capacidade para armazenar 10 mil toneladas de grãos.

A superlotação se repete em empreendimentos particulares. Mesmo duplicando a capacidade de recebimento, a unidade da Tonial Cereais de Passo Fundo deixou de receber pelo menos 60 mil sacas de soja em função da falta de espaço. O responsável pela empresa, Emeri Tonial, explica que até o armazém chegou a ser utilizado para guardar a soja na época de pico. Agora a situação está mais controlada, pois conseguiu escoar uma parte do que recebeu. No entanto os silos permanecem cheios. O empresário chegou a mandar soja para parceiros em Erechim.

Tonial acrescenta que a maior utilização de cultivares precoces de soja na lavoura aliado a alta produtividade causaram uma concentração da colheita em poucos dias. “Os armazéns tiveram que se estruturar para receber esse volume maior de grãos”, pontua. Ele ainda afirma que já pensa em nova ampliação da capacidade da unidade de recebimento de grãos de Passo Fundo para o próximo ano.
Logística
Outro problema levantado por Tonial é em relação a logística do escoamento de grãos. Segundo ele a supersafra do Mato Grosso atraiu muitos caminhoneiros que não voltaram para o Estado. Problema semelhante afetou as ferrovias. “Sei de empresas que precisariam de 40 vagões por dia e não recebiam nem 10”, observa. Além disso, a falta de alternativas de rodovias para se chegar ao Porto de Rio Grande complica o transporte. Segundo ele com a quantidade de caminhões que se dirigem para o porto é necessário um agendamento para descarga. Qualquer problema em todo esse sistema gera atrasos e aumento dos custos de transporte.

Capacidade da região
O engenheiro agrônomo da Emater, Cláudio Dóro, destaca que apesar de não terem sido registradas perdas de grãos o sistema de armazenagem está no limite. “Preocupa principalmente em um ano que tivemos uma colheita muito boa de trigo com 330 mil toneladas, depois colhemos 1,4 milhão de toneladas de milho, e a soja com 2,4 milhões de tonelada. Tivemos mais a entrada de 60 mil toneladas de cevada e 15 mil de aveia”, enumera.  A capacidade estática de armazenamento na região é de 3,8 milhões de toneladas. No caso da soja a dinamicidade na venda evitou problemas maiores.

Dóro enfatiza que o ideal é a realização de investimentos em armazenagem. “É um desafio que temos porque as safras vêm crescendo e o armazenamento não cresce proporcionalmente”, reitera. Ele argumenta ainda que é necessária a criação de um programa de construção de silos e armazéns para as propriedades. Isso evita a concentração de grãos em silos num mesmo período. “A nossa rede de armazenagem fica em torno de 5% a 7% em nível de propriedade e o restante na cidade. Os EUA, por exemplo, tem rede de armazenagem em que cerca de 30% fica nos armazéns dos produtores”, compara.

O engenheiro alerta ainda para a necessidade de se trabalhar com folga de espaços para armazenagem. “Este ano colhemos em período seco, mas se pega em um ano de chuva, já imaginou ter que secar e armazenar esse produto a confusão que ia dar?”, questiona.

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