“O Rio Grande do Sul é um arquipélago de tecnologia”, com estas palavras o diretor de Estudos da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), de São Paulo, Luiz Antonio Pinazza, abriu a programação da 59º edição do Simpas – Sistema Integrado de Manejo na Produção Agrícola Sustentável e do Seminário Nacional para o Desenvolvimento do Agronegócio Sustentável, na noite desta terça-feira. O evento segue até esta quinta-feira, na Universidade de Passo Fundo. A palestra inaugural sobre os cenários do agronegócio no Brasil destacou a necessidade da maior produção mundial de alimentos. “É fundamental considerar variáveis sobre o setor primário em todo mundo”, afirmou Pinazza. Segundo ele, somente com este estudo é possível traçar estratégias e ações para o desenvolvimento do setor primário no país. Mesmo considerando que “o Brasil é o presente”, graças à agricultura, o especialista alerta que esta condição é instável, por isso é necessário preparar-se para o futuro.
No mundo, as culturas do arroz, milho, soja e trigo representam os principais cereais produzidos atualmente. Apesar da produção mundial crescente registrada nos últimos dez anos, há um fator preocupante: a relação entre estoque e consumo. Dessa maneira, os estoques de commodities ficam em torno de 20%, que o especialista considera razoável. Os países emergentes têm alavancado o consumo, especialmente com a produção de biodiesel, o caso brasileiro.
Neste cenário, Pinazza considera que o choque de demanda é uma tendência que deve prevalecer para as próximas décadas. “Os Estados Unidos é um país que está desabastecido e já declarou a preocupação com o abastecimento de alimentos, já que o país não é mais o responsável pela segurança alimentar mundial”, afirmou o diretor da Abag. O risco climático é outro elemento que torna o preço das commodities instável. “Hoje nós vivemos sucessões de eventos climáticos extremos e isto provoca grandes quebras. Foi isto que aconteceu na Europa no ano passado. Estes eventos, em um mercado global onde as bolsas do mundo interagem fortemente, torna a valorização muito volátil”, avaliou o estudioso.
Detalhes sobre EUA, Brasil e China
O palestrante explica que existem fatores fundamentais, um deles é a produção norte-americana de etanol. “São 167 milhões de litros de etanol – produzidos com milho ou celulose. Duas vezes e meia mais do que a produção brasileira de milho é o que os EUA gastam para a produção de etanol”, comenta. Ainda, de acordo com ele, a área plantada pelos norte-americanos cresceu nos últimos anos, hoje são cerca de 65 milhões de área produzida, somente entre milho e soja.
Por outro lado, segundo Pinazza, o Brasil possui 90 milhões de hectares disponíveis, porém grande parte deste território é indisponível para uso agrícola por se tratar de áreas de preservação. “O modelo brasileiro de produtividade é ambientalista. A produção por área cresceu 50% em 40 anos e tem potencial para muito mais”, destacou. A China consome um quarto da soja mundial. Para se ter uma ideia, 60% da soja de Mato Grosso é exportada para a China. Mesmo assim, o pesquisador afirma que o Brasil ainda é extremamente desconhecido. “O ‘mundo tropical’ e as técnicas desenvolvidas nesta área, ainda que avançadas, não tem a devida visibilidade. O grande fator de desequilíbrio no mundo é o crescimento populacional”, garantiu o diretor.