Conquistando o mercado com ideias novas

Empresas focam em nichos como vestuário para homossexuais, alimentos integrais, grife para bebês e babá de animais

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A administradora Aline Biazus inspirou-se nela mesma para lançar a marca All Expressions. O princípio do negócio era abrir uma empresa inovadora. Olhando para o mundo e também para o seu maior problema - que era de aceitar a sua orientação sexual - Aline vislumbrou uma grife que ainda não existia no mercado, dedicada a criar roupas para mulheres lésbicas que gostam de se vestir com estilo masculino.

E foi com este foco que a marca surgiu: para atender a uma demanda reprimida na sociedade. “Por serem gays, as meninas tem um comportamento de auto recriminação. Elas se vestem mal, compram roupas de homens e acabam se maltratando”, detalhou. Além disso, a opção pelo e-commerce surgiu para oferecer uma opção para uma geração que tem vergonha de comprar em lojas masculinas e, por consequência, de se mostrar, de se assumir para a sociedade.  “Nosso objetivo não é erguer bandeiras e, sim oferecer um serviço para mulheres que se resguardam mais. É a primeira loja virtual do segmento do Brasil”, descreveu.

Para compor a primeira coleção, Aline pesquisou o mercado, montou um plano de negócios com o Sebrae e contratou uma estilista especializada no segmento. “A minha modelagem é mais masculina, porém mais curta, mais justa, com detalhe para seio - mas que não a deixa masculina -, só que mais bem vestida”, relata.

No ar desde o dia 29 de setembro, a coleção possui modelos de camisas, coletes, gravatas, camisetas, chapéus, cintos e outros acessórios. “O tema da primeira coleção é mais singular, voltada ao rock. Nos baseamos no comportamento das clientes, que gostam de camisas regada e acessórios”, explica. No portal há ainda um guia de tamanhos, com uma sugestão de como a pessoa pode se medir em casa e descobrir se a peça realmente vai servir.

Como estratégia de divulgação, Aline participa de diversos fóruns e ONG´s na rede social. Além disso, participa de eventos do gênero em todo o país. Resultado? A loja já tem clientes em todo o Brasil e os acessos no site crescem 700% a cada parada gay.

“Antes eu não aceitava a minha condição. O meu gosto sexual era a minha maior dor. Depois, com a criação da minha empresa, veio a aceitação. Por isso, as minhas roupas são dedicadas para este público que passa por tudo isso que já passei. Hoje eu vivo uma nova fase da minha vida, mas sob um novo olhar: eu acredito em mim. Não quero pagar mais conta de R$ 50 reais. A minha meta é pagar conta de R$ 50 mil. Não tem como dar errado, eu vou ser feliz a qualquer custo e independente de opção sexual”, relatou.

Grife despojada para bebês
A inspiração para a criação da grife Grande Presença, focada em roupas mais despojadas para bebês e crianças, foi a maternidade. Quando a tecnóloga em confecção têxtil, Débora Teles, teve o seu primeiro filho, se deparou com um problema: encontrar roupinhas que tivessem uma identidade mais urbana, com estampas divertidas, estampas de bandas de rock e cores diferentes, como o preto. “Queria vestir meu filho com peças de cores mais fortes como o preto e vermelho, fugir do azulzinho e de estampas de ursinhos e carrinhos. Queria ver ele com bodies com estampas das minhas bandas preferidas e algo mais divertido. Quando fui ao varejo tradicional me depararei com a falta destes itens. A única alternativa era comprar de alguns sites, mas aí a modelagem, as malhas e as estampas não tinham qualidade”, relatou.

Com conhecimento técnico de moda, Débora começou a produzir algumas peças para o filho e logo outras mães começaram a encomendar. “Então vislumbrei a oportunidade de preencher este vazio do mercado. Sem grandes pretensões, pedi demissão e, com uma amiga abrimos a primeira loja em um shopping de Porto Alegre e, em seguida já começamos a receber pedidos de abertura de franquia e lojas multimarcas”, contou.

Dois anos depois, a Grande Presença já possui quatro lojas físicas em Porto Alegre, Passo Fundo, Balneário Camboriú (SC) e Campo Grande (MS) e no mês de dezembro deve abrir mais uma operação no Shopping Praia de Belas, em Porto Alegre.  Além da loja virtual, as peças também são vendidas em lojas multimarcas em Porto Velho (RO), Feira de Santana (BA), Blumenau (SC) e outras lojas em Porto Alegre.  

Babá de cão
Os cachorrinhos também encontraram seu espaço. De olho no segmento pet, um dos mais promissores do mercado, Marcelle Nedel encontrou um nicho de mercado que faltava em Passo Fundo: oferecer o serviço de babá de cachorro. A inspiração para abrir o negócio veio da experiência com seus cachorros. “Sempre que eu precisava viajar eu não tinha onde deixar meus cães. A única alternativa era deixá-los em Pet Shops, onde os cães ficavam presos em gaiolas ou em canis”, relatou. Contrariada com esta situação ela propôs um serviço diferenciado. “O cão hospedado tem acesso à parte interna da minha casa e o convívio com meus cães. Além da socialização, o serviço inclui passeios diários, brincadeiras e muito carinho. Aqui ninguém fica preso em canil ou gaiola e a regra é a diversão”, destaca.

Para dar maior visibilidade ao negócio e criar uma relação de confiança com os donos dos animais, Marcelle ainda posta fotos e vídeos dos cachorros na página da Babá de Cão no Facebook. Há um ano no mercado, a empresa já acumula uma vasta lista de clientes fiéis. “90% das pessoas que deixam seus cães conosco, nos procuram novamente para novas hospedagens”. O valor da diária de um cão de porte pequeno fica em torno de R$ 40. O maior movimento acontece nos feriados prolongados, festas de final de ano e nos meses de férias. “A capacidade depende do comportamento dos cães. Se temos um cão com dificuldade de se relacionar com outros animais, hospedamos apenas ele. No caso de animais mais dóceis, podemos hospedar até quatro por vez”, disse.

Saindo do forno
As farinhas integrais são os ingredientes responsáveis pelo sucesso do negócio das nutricionistas Anna Cristina Citron e Neusa Gnoato Soldatelli, proprietárias da Pantik. No mercado há um ano, a boutique de pães, já conquistou a clientela pelo ineditismo dos seus pães e lanches artesanais, que são enriquecidos com grãos integrais, sementes e outros ingredientes benéficos para a saúde. As sócias, que se conheceram ainda na faculdade, sempre sonharam em encontrar um nicho ainda inexplorado no mercado local e a prioridade era lançar um produto que unisse sabor, qualidade e funcionalidade.

A preocupação das sócias era fugir das pré-misturas de pães, utilizadas atualmente nas padarias. “Nos inspiramos nos pães europeus, artesanais, rústicos, com redução de calorias, sem gordura hidrogenada e conservantes”, relata Anna. Para compor o cardápio, as nutricionistas contaram ainda com o conhecimento prático de um padeiro. “Levamos três meses só para testar toda a linha de pães, vendendo somente de porta fechada. Quando abrimos a loja, nos surpreendemos, porque nossos clientes já haviam recomendado os nossos produtos, relacionando-os a qualidade, a sabor. As vendas estouraram porque o que nós estamos fazendo aqui na panificação não se compara em nada com o que é produzido localmente”, relatou Anna.

Menos de um ano depois, o faturamento dobrou, o negócio expandiu e foi necessário buscar um espaço maior e triplicar o quadro de funcionários. “Hoje nós estamos com 10 funcionários e uma linha com mais de 120 produtos todos criados por nós”, explicou.

Como encontrar um nicho de mercado
Em todos esses negócios de sucesso, a inspiração das cinco empresárias, Aline, Marcelle, Débora, Anna Cristina e Neusa, surgiu da observação do comportamento das pessoas em suas atividades cotidianas. Segundo o professor de administração da IMED, Eduardo Rech, o mercado tem muito a ser desbravado pelos empreendedores que se orientam pelo cotidiano das pessoas. “Hoje em dia é possível identificar diferentes tribos, diferentes estilos de pessoas, a julgar pela roupa, por exemplo, circulando pelas ruas da cidade. Ou seja, é essencial uma observação contínua do comportamento do consumidor, para então percebermos oportunidades. O consumidor possui necessidades que muitas vezes estão ocultas em suas atividades cotidianas, necessidades estas que ele sequer sabe que possui”, disse.

Os segredos do sucesso
No entanto, ele alerta que lançar um produto inédito não garante o sucesso do negócio. “Ao definir um nicho com base no achismo - ou seja, eu acho que vai dar certo -, tudo não passa de uma simples aposta. De fato, a maioria das empresas que busca um nicho de mercado aposta e conta com a sorte”, destacou. Por isso, Rech ressalta a importância de três fatores para o sucesso do novo negócio.

Informação: “Em relação a busca pelas informações do consumidor, a pesquisa de mercado torna-se a principal aliada do empreendedor. Deve-se analisar não apenas o comportamento do individuo frente ao consumo de produtos, mas também suas atitudes e ao que os consumidores atribuem valor”.

Se posicionar: “A empresa deve desenvolver um posicionamento conforme o comportamento dos seus consumidores, de modo que os mesmos percebam e entendam o conceito da marca da empresa, auxiliando assim na construção do significado da marca para este público”.

Falar a mesma língua dos consumidores: “É vital conhecer o ambiente onde os consumidores do nicho escolhido convivem e interagem entre si. São nestes momentos de interação onde muitas vezes uma marca é descoberta e então é adotada por um grupo de pessoas com características parecidas”.

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