Quase 10 milhões de gregos estão sendo chamados hoje (5) para decidir o futuro da Grécia e, provavelmente, a permanência na zona do euro, no primeiro referendo depois de 1974, quando o país abandonou a monarquia e instaurou a república. As urnas abriram às 7h locais e fecham às 19h. Técnicos e analistas vão começar a analisar, à tarde, a evolução da votação e apresentar os principais cenários, considerando os resultados. O referendo serve para os gregos decidirem se aceitam o programa apresentado pelos credores internacionais (a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu) há mais de uma semana. O programa, entretanto, já não existe, pois a Grécia deixou de pagar 1,55 bilhão de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI) na semana passada.
O governo grego surpreendeu a todos na noite de 26 de junho, ao anunciar um referendo durante as negociações e ficou assim impedido de receber, pelo menos imediatamente, cerca de 12 bilhões de euros que estavam sendo negociados com os parceiros europeus até novembro, e mais de 3,5 bilhões de euros do FMI.
O governo Syriza, liderado por Alexis Tsipras, bem como a direita nacionalista Anel e os neonazis do Aurora Dourada defendem que a resposta à pergunta sobre se aceita o programa de ajuda externa que foi proposto deve ser o não, argumentando que um novo mandato do povo grego dará mais força de negociação a partir desta segunda-feira (6), quando a troika (formada pelo FMI, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia) se sentar novamente à mesa com as autoridades gregas.
Do lado europeu, a interpretação é contrária: o não significa, na verdade, uma negativa à zona do euro e à Europa, já que a Grécia não tem condições de continuar a usar a moeda única sem assistência financeira dos parceiros. Do outro lado estão os partidos da oposição (Nova Democracia, de direita, o Pasok e o To Potami, ambos de centro-esquerda), que apostam no sim como forma de garantir a ajuda financeira que a Grécia precisa para manter o país funcionando.
Se esse for o veredito dos gregos, há grande probabilidade de o governo se demitir, de acordo com afirmação feita pelo ministro das Finanças e, indiretamente, pelo primeiro-ministro. Além da derrota nas urnas, os governantes gregos teriam também de enfrentar a desconfiança dos líderes europeus, que recebem críticas de "chantagem" feitas pelos gregos.
Os 9,8 milhões de gregos inscritos nas listas eleitorais podem votar em mais de 19 mil assembleias em todo o país, não havendo nem voto por correspondência, nem possibilidade de voto para quem trabalha em outros países. Para estimular a adesão à votação, o governo concedeu descontos sobre o preço dos voos domésticos e das viagens de ônibus e trens. De acordo com o Ministério do Interior, o custo do referendo não deverá ultrapassar os 25 milhões de euros, metade do custo das eleições de janeiro que levaram o Syriza ao poder. Os primeiros resultados deverão sair por volta das 21h locais.