Parcelamento aumenta a retração da economia

Para os especialistas, essa foi a única opção do governo, que deve levar mais alguns meses para normalizar a situação

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Após algumas medidas adotadas pelo governo do Estado para driblar a situação econômica atual - como a renegociação com os fornecedores - o parcelamento dos salários dos servidores públicos busca cobrir os rombos que existem na máquina pública. De acordo com o economista e professor da Universidade de Passo Fundo, Julcemar Zilli, depois de buscar o pagamento das contas estaduais, que estão depreciadas, o governo tomará medidas para colocar dinheiro em caixa. “Com a entrada do repasse da União para o Estado, mais as contribuições financeiras e os tributos que a sociedade está pagando, o governo vai fazer um caixa e aí sim tenderá a colocar as contas em dia e os pagamentos deverão ser normalizados”. Segundo o economista, isso é um procedimento que reflete uma situação pela qual o Estado já passava, e era necessário para que ela não piorasse. “Essa é uma medida de austeridade, no sentido de que há necessidade de adotá-la, para tentar sanar um déficit que o governo vem apresentando nos últimos anos. Se o governo não fizer isso, esse déficit continuará ao longo dos tempos, então, para que isso não aconteça, há necessidade de um ajuste mais rigoroso, mais forte, exatamente para tentar colocar as contas públicas em dia”, explica. Para o economista e coordenador da Escola de Administração da Faculdade IMED, Adriano José da Silva, o ideal seria que a economia do Rio Grande do Sul estivesse crescendo, mas, hoje, há um processo de desaceleração econômica e nos últimos anos as despesas de custeio e manutenção da máquina cresceram muito acima das receitas. “A saída menos traumática seria um crescimento da economia, que geraria mais arrecadação de impostos e consequentemente a situação poderia ser normalizada. Mas isso, em um curto espaço de tempo, não vai ser possível em função de todos os desajustes econômicos do Brasil”.

Atraso da dívida com a União
Uma renegociação da dívida, ou até mesmo a busca de recursos da União seria uma das alternativas para reverter o quadro. Segundo Zilli, é necessário reduzir taxas de juros ou baixar os valores das prestações para que sobre mais dinheiro para o Estado. “E aí a situação de parcelamento dos salários dos servidores pode não mais ocorrer nos próximos meses. Mas tudo depende da União aceitar isso. Caso a União não aceite, nós continuamos na estaca zero”. Porém, o cenário de crise generalizada no país prejudica o acordo. “O governo federal não tem recursos para auxiliar”, pontua Zilli. Outra alternativa seria aumentar os impostos e reduzir as despesas, mas, conforme o economista, isso causaria um prejuízo ainda maior para o Estado, já que, pagando mais impostos, as pessoas tendem a gastar menos. “Esperamos que isso não aconteça, porque acabaria afetando diretamente todos os consumidores. Boa parte dos produtos que a gente compra ou dos serviços que a gente utiliza tem ICMS embutido, então se aumentar essa alíquota, é mais um imposto, é mais dinheiro que a gente repassa para a máquina pública e automaticamente temos menos dinheiro em circulação. A crise financeira, especialmente do nosso estado, aumentaria mais ainda”.

Efeito do parcelamento na economia
A consequência do parcelamento do salário dos servidores pode ser sentida pelo Estado, já que o pagamento das contas e as compras dessa parcela da população vão diminuir. Para Silva, esse fator vai auxiliar na retração da economia.  “Vai atrasar a conta da farmácia, vai reduzir o consumo de alimentos, as prestações sofrerão um atraso e tudo isso faz aumentar a demora para a economia voltar a crescer”. Já, para Zilli, diretamente isso não terá um efeito muito significativo. “Mas, indiretamente, nós temos o fato de que o atraso nas contas pode gerar um processo de inadimplência das pessoas. Também pode acontecer, mas com um efeito menor, da produção do Estado diminuir, porque as pessoas vão consumir menos”, explica.  

Dicas para os servidores
Quem não recebeu o salário completo precisa avaliar o que é mais importante pagar em um primeiro momento. Conforme Zilli é preciso quitar as dívidas que vencem antes e, também, aquelas que o não pagamento acarreta na aplicação de uma taxa de juros muito elevada. Ainda segundo ele, esse é um momento para cortar os gastos supérfluos e se concentrar nos gastos necessários que toda a família tem.  “Buscar realizar as compras necessárias do dia a dia e não fazer ou diminuir significativamente as dívidas de curto e médio prazo, como, por exemplo, compras de roupas. Segura um pouco. Uma calça jeans não vai fazer falta”.

A solução
Deve demorar alguns meses para que o Estado volte a realizar o pagamento em dia. Para que a situação não se repita, é necessário um esforço e um entendimento de várias partes. “Aqui no Estado é preciso um grande pacto político-partidário, das entidades representativas dos trabalhadores, dos empresários, dos deputados, do governador. Enfim, o conjunto da sociedade precisa fazer um pacto com reformas estruturantes que o Estado precisa para que ele possa mudar a sua matriz de desenvolvimento para que a gente possa crescer e que isso, que está acontecendo hoje, não se repita”, afirma Silva.

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