Quem pensa que o aumento do preço do dólar só vai impactar a vida de quem tem negócios com outros países ou quem compra produtos importados está enganado. Um dos primeiros impactos será no valor de um produto de consumo básico e diário: o pão. Isso, porque a alta do dólar influencia diretamente no valor da farinha de trigo que, em boa parte, é importada. E, como os estoques de farinha estão para ser renovados, o aumento do preço do pão já deve ser sentido entre os próximos dias.
Conforme o economista Julcemar Zilli, a alta do câmbio influencia diretamente este processo. “Esse aumento no preço dos derivados da farinha de trigo, e o pão é o principal deles, já deve estar sendo repassado para o consumidor final, visto que o câmbio está elevado há mais de quatro, cinco meses, e considerando que todo estoque de farinha que padarias e supermercados tinham comprado a um dólar relativamente baixo já deve estar acabando. Então as próximas compras serão feiras com o dólar já elevado e isso vai ser repassado para o preço do pão ao consumidor”, analisa.
Ele afirma que isso acontece porque a maior parte da farinha utilizada no Brasil é oriunda de importação: “então, por isso, quando o câmbio se eleva, quando a taxa de câmbio fica alta, aumenta o custo de produção da padaria para produzir o pão e automaticamente isso será repassado para o consumidor final, por isso que tem essa tendência de elevação no preço do pão”, avalia.
Alta no custo da cesta básica
Além do dólar alto, o aumento do ICMS também vai contribuir para o aumento do custo de vários produtos da cesta básica. “O aumento do ICMS também acaba sendo repassado direta ou indiretamente ao preço dos produtos. Quando você tem o aumento do combustível, por exemplo, ou o gás de cozinha, certamente que acaba sendo repassado, porque o atacadista não consegue suportar todo esse custo e parte, talvez não de uma vez só, acaba sendo repassado para o consumidor final”, salienta.
Moeda estrangeira
O dólar comercial ontem (29) estava sendo cotado a, em média, R$ 4,07. Na segunda-feira (28) o dólar comercial fechou vendido a R$ 4,109, com alta de R$ 0,134 (3,36%). A última vez que a cotação tinha subido em nível parecido em um único dia tinha sido em setembro de 2011.
Diferentemente dos últimos dias, o Banco Central (BC) reduziu a atuação no câmbio nesta segunda-feira. A autoridade monetária apenas renovou contratos de swap cambial (venda de dólares no mercado futuro), quando o vencimento dos contratos atuais é prorrogado. O BC não fez leilões de linha – venda de dólares das reservas internacionais com compromisso de recompra do dinheiro algumas semanas depois – nem leiloou novos contratos de swap.
No fim da semana passada, o dólar passou a cair depois que o presidente do BC, Alexandre Tombini, informou que o banco pode vender dólares das reservar internacionais no mercado à vista, operação que não é feita desde fevereiro de 2009. Apesar da declaração, o BC não começou a se desfazer dos recursos das reservas, atualmente em US$ 370,6 bilhões.
As reservas internacionais funcionam como um instrumento de segurança para o país em caso de crise no mercado de câmbio. Normalmente, o BC evita vender diretamente recursos das reservas para não comprometer esse mecanismo de proteção, preferindo operações no mercado futuro, como os swaps cambiais, que transferem a demanda pela moeda norte-americana do presente para o futuro. Em caso de turbulência severa, no entanto, a autoridade monetária pode lançar mão das reservas cambiais.