Para a economista e professora da Universidade de Passo Fundo, Cleide Fátima Moretto, o desempenho de 2015 se revelou ainda pior do que o esperado. “No final de 2014 estávamos com uma taxa de câmbio próxima a R$ 2,70, as projeções de crescimento econômico estavam em torno de 0,10%, e a taxa de desemprego de 6,3%. As taxas de juros, em função da perspectiva de inflação foram previstas para 12,50% ao mês, com a inflação ficando próxima de 6,5%. Sabíamos que o ano seria de dificuldades e que seriam necessários ajustes por parte do Governo, o ajuste fiscal. E esses ajustes, que envolvem uma política fiscal restritiva (diminuição dos gastos públicos e aumento da tributação), repercutem negativamente na economia”, exemplifica. A realidade, porém, foi confirmada em valores piores. “É provável que o Produto Interno Bruno (PIB) tenha uma queda de -3,3%, senão ainda maior, a taxa de inflação já atinge os dois dígitos, passando de 10% no ano, as taxas de juros básicas estão em 14,5% (uma das taxas mais altas do mundo), o dólar está com uma cotação próxima a R$ 3,80 e o desemprego já passou os 9%”, explica Cleide. Os números atingiram o setor produtivo, aumentando a bola de neve. De acordo com a economista, essa dinâmica enfraqueceu em especial a indústria, que já demonstrava dificuldades em termos de competitividade. “O baixo nível de tecnologia disponível internamente fez com que a importação de insumos do exterior tornasse ainda mais caro o custo de produção. Para os setores do comércio atacadista e varejista, de outra parte, o vínculo comercial com produtos asiáticos encareceu as mercadorias a serem comercializadas. O setor da construção civil já não conta com os programas de incentivo outrora implementados pelo governo”. Cleide aponta ainda outros fatores que contribuíram para enfraquecer ainda mais a economia durante o período.
“Os gastos menores do setor público deixaram inúmeros setores com níveis de atividade abaixo do esperado. Muitos programas do governo mudaram suas regras ou deixaram de serem cumpridos. Em nível estadual, vivenciamos o parcelamento dos salários dos servidores, com consequências negativas para todo o quadro”.
“Vemos o setor produtivo em queda livre e o mercado financeiro valendo-se das altas taxas de juros praticadas pelo mercado. A entrada de recursos financeiros com fins especulativos no país só não foi maior porque o péssimo desempenho das instituições políticas, com as notícias ligadas à corrupção, impediu um quadro de confiança, favorável para a sua atração”.
“Os consumidores, cautelosos, diminuíram significativamente o nível de consumo, confirmando o quadro recessivo, que culminam na crise não apenas do capital, mas também do emprego. A falta de renda gera piora na qualidade de vida da população e, por consequência, endividamento, em um período em que as taxas de juros do cartão de crédito e do cheque especial são proibitivas”, aponta Cleide.
2016: Sem crescimento
Os resultados de 2015, aliados ao quadro político instável, não trazem boas notícias para o próximo ano. A previsão é de que a economia não se reequilibre. “O quadro é difícil e desafiador. Diferentes consultorias indicam que o crescimento ficará abaixo de zero, perto de -1,5%, a inflação será ainda maior e as taxas de juros sejam mantidas próximas aos atuais 14,5%. O desemprego continuará alto e o consumo das famílias tenderá a ser reduzido, seja pela falta de renda ou por precaução”. Para a economista, o desequilíbrio fiscal continuará tendo reflexos negativos no setor produtivo. Além disso, o pedido de impeachment da presidente da República sugere que o mercado financeiro continuará a ter um desempenho melhor do que o mercado produtivo, em detrimento da renda e do emprego de milhões de brasileiros. “Infelizmente o período de cautela se estenderá por mais todo o ano de 2016 e o desenrolar dos encaminhamentos em nível político irão repercutir de maneira decisiva na possibilidade de recuperação para 2017. Esperamos que as ações criativas de nossos cidadãos permitam a obtenção de meios mínimos para podermos atravessar mais esse período de turbulência”, conclui.