Os valores dos aluguéis tiveram a primeira queda, no ano passado, desde 2008, no Brasil. O preço médio do aluguel residencial apresentou redução nominal de 3,34% em 2015. Com o efeito da inflação, a diminuição foi ainda maior. Em termos reais, o custo do aluguel caiu 12,66%. A informação é do Índice FipeZAP de Locação, que acompanha o preço do aluguel residencial em nove cidades brasileiras. Os dados nacionais referem-se às grandes metrópoles, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, mas traduzem uma realidade vivida também em Passo Fundo. De acordo com o economista e professor da Universidade de Passo Fundo, Julcemar Zilli, as metrópoles sentiram mais rapidamente esse efeito e já começaram a apresentar um excesso de imóveis disponíveis para alugar. “Aqui em Passo Fundo a tendência é que isso já comece a acontecer, porque a quantidade de imóveis que temos é muito grande e a demanda é baixa, principalmente porque as instituições de ensino superior diminuíram o número de alunos, que eram potenciais pessoas que alugariam imóveis”, explica. Quando a oferta é grande, consequentemente, o preço cai. Conforme o proprietário da Master Imóveis, Carlos Alceu Machado, no geral, os preços dos aluguéis sofreram uma queda de aproximadamente 10%. Já para a gerente de locações da imobiliária Arnel, Juliana de Moura, a redução nos preços foi de cerca de 5%. “Nós sabemos que hoje o período está receoso em função da crise e do número de construções que ficaram prontas. Mas não vemos ainda uma queda baixíssima. Passo fundo responde pela região toda e isso faz com que a gente consiga manter as locações”.
A expectativa é que, a partir da metade do ano, o efeito da redução seja sentido com ainda mais força. Há uma quantidade significativa de prédios em construção, o que acarretará em mais apartamentos no mercado. “Na verdade esse processo todo apenas começou em Passo Fundo. Muitos desses prédios novos são prédios para as pessoas trocarem de apartamento. A pessoa vai sair de um apartamento ou de uma casa que era relativamente velha ou pequena e irá para um apartamento com mais comodidade. Mas aquele imóvel que ele vai deixar de morar provavelmente vai ser usado para alugar. Então teremos mais imóveis disponíveis a partir da metade do ano”, afirma Zilli.
Para o corretor de Imóveis na Imobiliária Patrimmônio, Alceu Gehlen França, é possível identificar a queda nos valores porque essa é a realidade do mercado passo-fundense. “Passamos por um período em que a construção civil teve um incremento financeiro do governo muito significativo. Somos uma cidade onde a construção civil é uma das molas propulsoras do crescimento socioeconômico. Esta oferta, aliada à crise financeira que atingiu o país como um todo, afetou o mercado imobiliário, fazendo com que os valores fossem negociados. Também temos a lei que rege nosso mercado que é da oferta e procura. Com oferta maior, os consumidores/locatários são beneficiados”.
Já para o diretor da imobiliária Bortolini, Ricardo Bortolini, não houve uma redução de preço nos aluguéis residenciais. “Os preços estão se mantendo. O que está acontecendo, eventualmente, é uma negociação que antes não havia”. A expectativa para depois de março, quando os estudantes já assinaram contrato, é uma estabilização no mercado. “A minha visão do mercado imobiliário, de um modo geral, é que o aluguel, com a crise, acaba se fortalecendo. A oferta aumenta e pode ser que o preço diminua um pouco em razão disso. Eu considero ainda estável para Passo Fundo”, explica Bortolini.
Para ele, o que aumentou, em função da realidade econômica, é a disponibilidade de lojas comerciais. “Como o mercado estava muito aquecido, o preço da locação também aumentou. Os proprietários vão ter que reduzir um pouco, absorver algumas carências e negociar contrato para manter bons inquilinos. Quem não estava preparado para enfrentar uma crise e um valor de aluguel alto fechou”, opina.
Cenário comercial
Os efeitos da crise, que atingiu também o varejo, podem ser notados ao caminhar pelo centro da cidade, onde é possível perceber várias salas comerciais fechadas, disponíveis para locação. Segundo a sócia-proprietária da imobiliária Patrimmônio, Moema Rosa de Souza, não é comum tantas lojas desocupadas. “Hoje os imóveis comerciais não são ocupados na mesma proporção dos que são desocupados. Isto é explicado pela situação político-econômica que vive o país, onde os empresários estão segurando os investimentos”. Para o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da região Norte do RS, João Alberto Quaresemin de Oliveira, a expectativa era que continuasse aumentando os valores dos aluguéis, o que não se confirmou. Hoje, as salas que ainda estão desocupadas são aquelas que mantiveram os preços altos. “Temos uma transição daquilo que era a realidade, no passado, para aquilo que é a realidade, hoje, no presente”.
As chances de negociação no aluguel comercial são melhores, já que o proprietário do imóvel perde muito com ele parado. “Uma locação comercial normalmente ultrapassa R$ 2 mil, então é muito dinheiro que ele deixa de ganhar. Aí acaba fazendo qualquer negócio, alugando até por metade do valor”, explica Zilli.