Cerca de 59 milhões de brasileiros começaram o ano na lista de inadimplentes. O número é o maior já registrado desde que o levantamento passou a ser feito pela Serasa Experian, em 2012. O total de dívidas chega a R$ 255 bilhões. O valor é maior do que o registrado em janeiro de 2015, quando 54,1 milhões de consumidores haviam começado o ano no vermelho. Neste cenário de recessão prolongada, a principal causa da inadimplência no ano de 2015 foi o desemprego. Por isso, os especialistas da Serasa – em parceria com o CATe (Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo), da prefeitura de São Paulo, Sebrae, Aliança Empreendedora e psicólogos do Hospital das Clinicas de São Paulo – fizeram um guia para auxiliar as pessoas em condição de desemprego e ajudá-las a recomeçar a vida financeira e profissional.
A taxa de desemprego no Brasil subiu a 9% no trimestre encerrado em outubro e renovou o maior patamar da série iniciada em 2012, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgada no último dia 15, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No trimestre encerrado em julho, a taxa foi 8,6% e, no período entre agosto e outubro de 2014, chegou a 6,6%. Mas, independentemente das razões políticas, econômicas e sociais que levam a este cenário, quem se mantém empregado está mais apreensivo com as notícias. Para essas pessoas, mais do que nunca, é hora de ter cautela com o crédito e de fazer um pé de meia, que garantirá uma renda extra em caso de demissão.
Mas e quem já recebeu a (má) notícia, está desempregado, com contas a pagar e sem nenhuma perspectiva de encontrar uma nova colocação em curto espaço de tempo? A primeira lição é não entrar em pânico e tentar se organizar do ponto de vista pessoal e financeiro. “O trabalhador, que conta com o salário para sustentar a família, obviamente, tem motivos para se preocupar ao ser demitido”, argumenta a diretora do SerasaConsumidor, Fernanda Monnerat. “Mas o desespero não é bom conselheiro e atitudes intempestivas só vão agravar a crise. Colocar a cabeça no lugar, compartilhar a situação com a família e começar a fazer as contas são os primeiros passos para encarar o momento.”
As dívidas e as prestações mensais, sem dúvida, são a maior assombração de quem se vê sem emprego de uma hora para a outra. Contatar os credores de financiamentos para expor a situação e alongar prazos é uma das saídas, mas a venda de bens com liquidez, como o carro, também deve ser considerada. “O desempregado precisa ter em mente que trata-se de uma fase complicada e cheia de restrições, mas que pode ser atravessada desde que haja organização e disciplina”, diz Monnerat. “Muitas vezes, a condição é um estímulo para começar um novo estilo de vida, em um posto de trabalho melhor ou até como patrão.”
Desemprego
A pesquisa realizada com 8.288 pessoas nas agências da Serasa, em novembro do ano passado, apontou o desemprego como a principal causa da inadimplência em 2015, com 26% dos entrevistados.
O descontrole financeiro é admitido como responsável pelas contas atrasadas para 17% das pessoas. O esquecimento dos compromissos financeiros (7%), empréstimo do nome para terceiros (7%) e despesas extras, com educação, saúde e outros serviços (7%) foram outras razões mencionadas para o não pagamento das dívidas.
Segundo os economistas da Serasa Experian, a alta da inadimplência, característica que vem predominando deste o início de 2015, é causada pelo cenário econômico bastante adverso à quitação das dívidas do consumidor: desemprego, taxas de inflação e juros se mantiveram em alta no ano passado. “A inflação corrói a renda e o desemprego destrói, o que é pior”, argumenta o economista da Serasa Experian Luiz Rabi sobre os efeitos da crise.