Especialista diz que governo vai adotar políticas rigorosas e antipáticas

Para Cleide Moretto, medidas são bem vistas pelo setor financeiro porque demonstram que o governo está tentando fazer a sua parte

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Economista Cleide MorettoEconomista Cleide Moretto
Economista Cleide Moretto
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Para a economista e professora da Universidade de Passo Fundo, Cleide Fátima Moretto, o governo Temer é uma incógnita, porque ainda existe uma instabilidade do ponto de vista político. “Não há garantia de que ele irá permanecer como Presidente da República e isso atrapalha porque existe todo um movimento para tentar destituí-lo também. Eu acho que nós ainda teremos pela frente um momento de indefinições. Mas, considerando o que ele está propondo e a expectativa em cima dessas definições, como a redução de ministérios, há uma indicação de que ele vai tentar aplicar políticas mais rigorosas do ponto de vista fiscal, que tendam a diminuir o gasto público”. Segundo Cleide, essas medidas são bem vistas pelo setor financeiro porque demonstram que o governo está tentando fazer a parte dele, já que nós temos um histórico de déficits. “Mas, por outro lado, acena para situações um tanto antipáticas do ponto de vista da classe trabalhadora. Os sindicatos temem a reforma previdenciária, que é vista como um custo maior dentro da estrutura de gastos públicos”, explica.
Conforme Cleide, o governo Temer vem colocando como bandeira principal a realização das reformas que o governo PT não conseguiu fazer. “E isso é bastante temeroso, porque nós sabemos que temos uma estrutura previdenciária que de certa forma compensa todos os problemas decorrentes da própria dinâmica do mercado de trabalho. Existe ainda proteção social para os trabalhadores que se aposentam e um mínimo de credibilidade do ponto de vista da contribuição. Dentro de todas as coisas que a população e os trabalhadores, principalmente, desejam, é a manutenção dessas ações. E o governo já acena que fará a reforma que ninguém fez”. Para a economista, a rejeição que eles terão durante esse período é o grande desafio. “Por outro lado, eles não têm muita margem do que fazer. O nosso problema é estrutural. O que está aparecendo agora não são coisas só dos últimos anos, são problemas que historicamente foram se agregando. Um corte sugere que o setor privado será beneficiado, só que mesmo cortando alguns gastos, o governo vai precisar de receita, precisa de tributação. Eu não sei como o governo vai conseguir sustentabilidade do ponto de vista da confiança, principalmente do setor privado, e de pessoas ou grupos do exterior que tentam investir aqui, sinalizando de que o rumo da economia será outro, no sentido de garantir inflação baixa, que se retorne a possibilidade de praticar taxas de juros mais baixas, que seja vantajoso investir novamente no setor produtivo. Eu acho que a grande equação que eles têm é, para além desses cortes, como fazer o empresariado acreditar que esse governo poderá fazer a diferença no sentido de diminuir aquilo que eles mais reclamam: a pesada carga tributária”.

 

Austeridade
“Nós temos uma preocupação muito grande porque é um governo que aponta austeridade e diminuição das ações na área social. Isso para nós, bancários, é muito ruim porque nós temos duas empresas que têm muitos projetos nesse sentido, que são a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. Isso, além de ser muito ruim para a população, é uma preocupação muito grande para o emprego do trabalhador bancário. Nós estamos em uma instabilidade política muito grande no país, que nos preocupa no que diz respeito aos passos seguintes, qual é a capacidade desses governos de construírem um pacto nacional para que se consiga uma governabilidade nesse período. Estamos bastante preocupados com a condição política nacional, com o emprego da nossa categoria, principalmente nos bancos públicos e também com as condições de austeridade, que acaba sempre sobrando para o trabalhador”.

Dário Sidnei Delavy, coordenador Geral do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Passo Fundo e Região

 

Cortes
“A minha opinião, compartilhada com vários colegas, é de que a situação não vai mudar. Nós temos tido, por parte do governo federal, o ajuste fiscal, com corte de verbas, principalmente na saúde e na educação. O governo Temer tem anunciado que vai continuar com o ajuste fiscal, portanto vamos ter mais cortes. Do ponto de vista da educação, nos preocupa também a indicação política para o Ministério da Educação de pessoas que não são da área, não são qualificadas e vão agir para interesses partidários e não para a educação. Nós também temos uma preocupação enquanto trabalhadores que o governo Temer anuncie propostas de cortes de direitos como a questão da reforma previdenciária, inclusive com a ampliação da idade até os 65 anos para aposentadoria, que seria um ataque brutal ao conjunto dos trabalhadores, além de reforma trabalhista e outras questões. Os trabalhadores vão ter que se unificar, ir para a rua e reivindicar seus direitos. Se não nós vamos acabar pagando pela crise e não os ricos e poderosos que teriam condições de arcar hoje com a situação da crise”.

Orlando Marcelino da Silva Filho, diretor do Núcleo CPERS/Passo Fundo

 

Desconfiança
“Não vejo grandes alterações quanto ao que já tinha se desenhando na votação da Câmara dos Deputados. Agora, a incógnita é em relação como governo provisório vai ser portar e qual o grau de legitimidade que ele terá para enfrentar, principalmente, a crise financeira. Porque ele [o novo governo] surge em meio a um cenário bastante adverso, então me parece que ele tem pouco tempo para conseguir mostrar a que veio e galgar algum tipo de confiança para realizar iniciativas que são fundamentais. Mas grande dificuldade que vejo, num primeiro momento, é ele [Michel Temer] conseguir romper a desconfiança geral da população em relação às perspectivas que se apresentam.”

Glauco Ludwig Araujo, sociólogo e professor da UPF

 

Histórico
“É um momento histórico, fora da rotina de um regime político constitucional. Não é tão comum que uma República Presidencialista mova um processo de impedimento de uma Presidente da República. Talvez esse momento sirva para diminuir a tensão da sociedade brasileira, não só a política, mas especialmente uma crise econômica extraordinária que está atingindo o país. Vai se criar um clima mais favorável para o desenvolvimento econômico. Claro que nós não sabemos o que pode acontecer, porque os remédios econômicos são sempre muito amargos. Como o Brasil está numa situação econômica muito ruim, o próximo governo vai ter que ter não só a sabedoria, mas a força e a convicção para fazer o que tem que ser feito. É o que a nação espera, mas será dolorido. Isso [o processo de impeachment] significa, ao contrário do que pensam os pessimistas, que a democracia brasileira está funcionando regulamente. Antes, nós impomos a destituição do presidente [Fernando] Collor num processo de impeachment também e o Brasil continuou funcionando. Agora será a mesma coisa.”

Antônio Kurtz Amantino, historiador e professor aposentado

 

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