A mortalidade de micro e pequenas empresas (MPEs) em Passo Fundo passou de 343 em 2014 para 1.011 em 2015, um aumento de 230% em um ano. A taxa costumava variar entre 300 e 400 MPEs fechadas por ano. Em todo o Brasil, foram 145.437 MPEs fechadas em 2014 e 581.228 em 2015, uma variação percentual de 300%. As informações são do site Empresômetro, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). O portal se baseia em informações da Receita Federal do Brasil (RFB), Secretarias Estaduais de Fazenda, Secretarias Municipais de Finanças, Agências Reguladoras, Cartórios de Registro de Títulos e Documentos, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Caixa Econômica Federal (CEF), Juntas Comerciais Estaduais, Portais de Transparência, e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
São muitos os fatores que produzem a recessão do consumo, impactando diretamente na sobrevivência das empresas. Para a gerente interina do SEBRAE Planalto, Diane Sensolo, a atual conjuntura econômica e política do país é um fator decisivo para o fechamento das empresas. “Vivemos uma época de muitas incertezas, e essas incertezas geram desconfianças as quais geram retração do consumo”. Outro aspecto apontado por ela é o enfraquecimento do mercado de trabalho. “Isso impacta diretamente no consumo das famílias, fazendo com que as famílias se organizem para não entrar em endividamento e não sair do seu orçamento, contudo consomem menos”, aponta.
Segundo a economista e professora da Universidade de Passo Fundo, Cleide Fátima Moretto, a taxa de mortalidade das pequenas empresas no país já costuma ser elevada, sobretudo em função da falta de conhecimento das condições de mercado. “Com a crise essa situação se agrava: a queda na demanda efetiva e o aumento da incerteza afeta a receita e o lucro desses empreendimentos de maneira intensiva, uma vez que eles não possuem poder de mercado para repassar os aumentos nos custos de produção para os seus preços, tampouco assumir o prejuízo por um período de tempo maior”, explica.
Para o professor coordenador da escola de administração da Faculdade Imed, Adriano José da Silva, geralmente, no ano após as eleições, a economia passa por um ajuste. “Em 2015, tivemos o ‘tarifaço’, aumento de mais de 60% nas contas de energia, aumento dos combustíveis, aumento de alíquotas de impostos, taxas e contribuições, a Lava Jato que atingiu as empresas fornecedoras e as sistemistas da Petrobras, a cadeia toda de fornecimento das obras da Petrobras praticamente ficou paralisada”. A retração do crédito para consumo, por meio da elevação da taxa de juros, contribuiu para o fechamento desse montante de empresas. “Além da falta de planejamento estratégico e visão sistêmica do mercado como um todo, pois desde 2013 se falava da necessidade de ajuste na economia, e me parece que os gestores ignoraram o impacto dos ajustes necessários na economia”.
Impactos
A realidade impacta na economia, refletindo no desemprego, e, consequentemente, na diminuição de renda. “A maior parte dessas empresas são de pequeno porte, justamente as que absorvem a maior parte do emprego local”, explica Cleide. Por outro lado, para Adriano, o fechamento de empresas também significa oportunidades. “As oportunidades aparecem para as empresas que estão organizadas, com objetivos definidos, planejamento estratégico, um bom orçamento e uma boa política de recursos humanos. Não é recomendável em um momento como estamos vivendo chorar o que poderia ter sido diferente no passado, é o momento de projetar o futuro, se organizar, prospectar oportunidades”, recomenda.
Dá para empreender em 2016?
“Tempo de crise também é tempo de oportunidades”. Para Diane, é importante lembrar que o empreendedorismo é uma das alternativas que os brasileiros buscam para contornar as dificuldades que a economia vem passando, assim o empreendedor pode surgir por necessidade ou por oportunidade. “Se essas oportunidades ou necessidades forem bem aproveitadas, usando ferramentas de gestão para identificar, monitorar e gerir o novo empreendimento, com certeza essa época também é propicia para abertura de novas empresas”.
Para Cleide, o momento econômico do país não é propício para os empresários em função de problemas estruturais e da instabilidade institucional, levando à cautela ou ao recuo na tomada de decisão. “Todavia, considerando-se que o ato de empreender vai para além da empresa, em tempos de crise há lugar para a busca de novos espaços, de novos processos produtivos e de novos mercados”. Por outro lado, para o professor Adriano, apesar de empreender no Brasil ser um desafio, já que, “o Estado é pesado e interfere demais na economia”, o momento é positivo para empreender. “Uma boa visão de longo prazo, um bom plano de negócios, muita persistência, coragem, e acreditar no seu potencial com certeza fará com que o momento seja propicio para empreender”, afirma.
No Rio Grande do Sul
Até o mês de abril deste ano, já foram quase 20 mil empresas, de todos os portes, extintas no Rio Grande do Sul. Em 2014, 31.349 fecharam no Estado e, em 2015, o total ficou em 64.991. Os dados são da Junta comercial do Rio Grande do Sul (JUCERGS). Para o responsável pelo posto de Passo Fundo, Marcos André Colla dos Santos, o município reflete os números do Rio Grande do Sul, já que o Norte, junto com a Região Metropolitana de Porto Alegre concentra um número elevado de empresas. Marcos explica que no posto, que atende 22 municípios da região, o maior número de fechamentos é MEIs. Microempreendedor Individual (MEI) é a pessoa que trabalha por conta própria e que se legaliza como pequeno empresário. As facilidades para a legalização da empresa, que pode ser feita pelo Portal do Empreendedor, faz com que muitas pessoas se aventurem abrindo seu próprio negócio. Só em 2015, das 116 mil empresas criadas no Rio Grande do Sul, quase 85 mil são MEIs.
Empresa que abre, empresa que fecha
Somente nos últimos 30 dias, 256 empresas foram formalizadas em Passo Fundo, segundo dados da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). O número reflete o cenário de desemprego. Apostar no próprio negócio é uma alternativa para quem foi demitido. Adriano acredita que as pessoas devem buscar alternativas de renda, com o objetivo de manter sua qualidade de vida. “O brasileiro é muito criativo, inovador e empreendedor. Nossa cidade é um polo regional, prestamos cada vez mais serviços. Precisamos constantemente aperfeiçoar com mais qualidade e inovação”.
De acordo com Cleide, o desemprego conduz ao autoemprego, por meio do trabalho por conta própria ou mesmo na forma de microempreendedor individual. “Com o desemprego, os trabalhadores assumem a responsabilidade pela geração da renda antes garantida pelo emprego formal. Contudo, essa mudança de condição costuma ser acompanhada por grandes esforços e, normalmente, pela diminuição do padrão de proteção social, caso da ausência de contribuição para a seguridade social. Ainda, a instabilidade dos rendimentos causa insegurança. Os processos de terceirização das atividades produtivas, em função da necessidade de redução nos custos de produção, contribuem, para além do desemprego crescente, para o aumento no número de novas empresas”, explica.
Como empreender
A gerente interina do SEBRAE Planalto, Diane Sensolo, elencou seis aspectos que devem ser considerados no momento de empreender. Segundo ela, não existe uma receita pronta de sucesso bem como de qual empreendimento será mais assertivo, mas algumas medidas podem ajudar:
1-Elaborar um plano de negócios- mapear clientes/fornecedores/concorrentes, enfim conhecer o mercado que vai atuar bem como verificar a viabilidade econômica e financeira do novo empreendimento;
2-Buscar conhecimentos de gestão e técnicos;
3-Gere diferencial e valor para o seu cliente;
4-Faça investimentos assertivos e tenha capital de giro suficiente para manter a operação;
5-Separe finanças pessoais das da empresa;
6-Controle a ansiedade e principalmente acredite em seu empreendimento.