A segregação do trigo visando a separação do grão de acordo com as características e usos específicos é debatido há bastante tempo pelo setor. Nesta safra uma novidade pode começar a delinear novos cenários para o grão que ocupa grandes áreas no inverno gaúcho. A Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi) publicou recentemente nota técnica que orienta os produtores a como fazer a segregação de acordo com a qualidade e destinação do trigo. É a primeira vez que esta ação acontece, em uma iniciativa construída junto com todo o setor produtivo, desde os obtentores de cultivares, entidades representativas dos produtores, cooperativas, cerealistas e indústrias.
O modelo de segregação proposto leva em conta o agrupamento de cultivares específicas destinadas à panificação classificadas conforme as características que proporcionam ao produto final: trigo pão branqueador, trigo pão (cultivares agrupadas conforme a cor) e trigo doméstico. Para o trigo tipo biscoito, a orientação é a segregação conforme a cultivar utilizada. O engenheiro agrônomo e gerente comercial da Biotrigo Genética, Lorenzo Mattioni Viecili, explica que a forma de segregação é discutida há bastante tempo pelo setor. “Temos que entender que no melhoramento genético são desenvolvidos trigos com diferentes aptidões. A planta, as características agronômicas são as mesmas, mas o grão produzido, a genética inserida na planta, produz um grão específico para cada uso: trigo para panificação, para massas, biscoito”, reforça.
A discussão entre os representantes da cadeia produtiva teve como objetivo identificar e orientar quais cultivares de trigo poderiam ser agrupadas para a segregação, ou seja, o recebimento e armazenamento no mesmo local sem que isso alterasse a qualidade do produto final. “Cada empresa apresentou os dados e fizemos trabalho de análise de resultados e classificamos”, resume sobre o trabalho. A segregação por cultivar no caso do trigo tipo biscoito se deve à menor quantidade de cultivares destinadas a esse fim.
Trabalho contínuo
A nota técnica, porém, não resolverá todos os problemas da cadeia produtiva. Mas é um passo considerado importante para o fortalecimento do setor nos próximos anos. “Na medida em que o produtor, cerealista e cooperativa começarem a adotar essa orientação, eles vão se diferenciar no mercado”, explica. Hoje há problemas enfrentados com questões de logística que precisam ser vencidos. A maior parte dos silos de armazenamento de grãos foram construídos especificamente para soja e milho. Com isso, apesar da capacidade de armazenamento instalada ainda falta moegas de recebimento que possibilitem a separação ideal, por exemplo. Há ainda problemas com políticas públicas que precisam ser vencidos. Já no mercado há a preferência pelo trigo segregado e esse fator pode ser determinante para a melhor remuneração dos produtores e armazenadores que tiverem o grão separado.
Cultivares enquadradas
Dentre as cultivares cultivadas no Estado, nove representam 80% das sementes disponíveis neste ano, “A maioria do trigo plantado esse ano está dentro desse agrupamento e cabe ao produtor que tem silo próprio seguir essa orientação e aquele que depende de armazenamento procurar a cooperativa ou cerealista manifestando o interesse de segregar”, orienta. Segundo ele, uma boa orientação técnica de manejo de fungicidas e nitrogênio, que garante produtividade e qualidade industrial, podem representar melhorias no produto final e permitir um destaque no mercado.
Nesta safra, os produtores ficaram um pouco receosos, com base nos resultados pouco positivos das duas safras anteriores. Por isso houve uma redução da área cultivada. “Vejo que a nota técnica vem para estimular, para dar um norte aos próximos passos da triticultura”, avalia o engenheiro agrônomo destacando que, se os resultados forem positivos, isso poderá representar um novo estímulo à triticultura e um incremento de área nas próximas safras.
Grupos
Os trigos tipo pão podem ser agrupados por cultivares, conforme diferenciação de características. Trigo pão branqueador: Marfim, TBio Noble, TBio Tibagi. Trigo pão (91,5 à 92,5): Ametista, BRS Marcante, BRS Reponte, BRS 331, Celebra, CD 1104, CD 1440, Estrela Atria, Jadeite 11, LG Oro, ORS 1401, ORS 1402, TBio Iguaçu, TBio Itaipu, TBio Sintonia, TBio Sinuelo, TBio Sossego, TBio Toruk. Trigo pão (<91)*: BRS Parrudo, LG Prisma, TBio Mestre, TBio Pioneiro 2010, Topázio. Trigo doméstico: BRS 327, Quartzo. Os trigos do tipo biscoito devem ser separados por cultivar: BRS 374, Campeiro, CD 1805, ORS Vintecinco, TBio Alpaca.