Os enfeites natalinos já começam aparecer na decoração de praças, shoppings e vitrines de lojas em Passo Fundo. Faltando pouco mais de um mês para a data mais importante do comércio, os lojistas se organizam para montar estratégias afim de atrair os consumidores. Em virtude do atual momento econômico, as entidades do setor trabalham para qualificar e incentivar o empresariado local. O Sindicato do Comércio Varejista de Passo Fundo (Sindilojas) realizou, no primeiro e no segundo semestre, encontros com os colaboradores das lojas para qualificar e motivar ainda mais o atendimento que é sempre um grande empecilho do comércio e dos demais setores, segundo a presidente da entidade Sueli Morandini Marini. . A Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) também realizou, neste mês, curso de qualificação para o Natal.
O esforço do setor vem de encontro com as estatísticas. Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) estima que cerca de 107,6 milhões de brasileiros deverão presentear neste Natal. Se as expectativas se confirmarem, o Natal de 2016 será menor do que o do ano passado em volume de consumidores nas lojas, quando estima-se que 109,3 milhões de pessoas realizaram ao menos uma compra.
A perspectiva não é de crescimento nas vendas em relação ao ano passado, conforme Sueli. “Com relação às vendas, a expectativa é de que se tenha o mesmo número de tickets do ano passado, porém com menor valor agregado. Como aconteceu nas datas festivas que passaram durante esse ano. Se o ano passado, o ticket estava em torno de R$ 100 a R$ 120, esse ano deve ser um pouco abaixo. Mas o consumidor não vai deixar de comprar porque o Natal é uma data de sentimento e de simbolismo e que as pessoas não deixam de presentear”.
Os dados nacionais corroboram com as colocações da presidente. Apesar do número elevado de compradores e das poucas variações frente a 2015, o gasto médio por presente deve cair, conforme pesquisa da CNDL e SPC Brasil: em 2016, o brasileiro vai desembolsar R$ 109,81 com cada presente adquirido, o que representa uma queda real – ou seja, já descontada a inflação acumulada do período – de 5,34% na comparação com o ano passado. Em 2014, o gasto médio por presente havia sido de R$ 125,22 e, em 2015, de R$106,94. Os consumidores das classes C e as mulheres devem gastar ainda menos do que a média: R$ 101,42 e R$ 84,65, respectivamente.
Em relação ao produto mais procurado, o vestuário e os calçados se destacam, uma vez que possuem maior utilidade de uso, na explicação da presidente do Sindilojas. Em seguida, devem se destacar a procura por perfumaria e eletrônicos. “Os eletrônicos, talvez em função do elevado custo, não tenha uma explosão de venda tão grande como em outros anos”. De acordo com o estudo, as roupas permanecem na primeira posição do ranking de produtos que os consumidores pretendem comprar para presentear no Natal (60,1%). Os brinquedos (41,6%), calçados (34,7%), perfumes e cosméticos (30,3%), acessórios, como bolsas, cintos e bijouterias (20,7%), smarthphones (17,6%) e livros (17,0%) completam a lista de produtos mais procurados para a data.
A economista e professora da UPF, Cleide Moretto, acredita que dificilmente haverá superação em relação ao nível de venda e transição do fim do ano passado. “A economia pode até tentar retornar, mas o desemprego e a dificuldade de permanecer no emprego vieram após a crise da produção. Agora, nós estamos no pior momento para o mercado de trabalho, de maiores índices de desemprego e de instabilidade. Então, muitas pessoas vendo familiares, amigos, colegas em uma situação difícil, elas tendem a ser mais cautelosas”.
Vagas temporárias
A data também é esperada por aqueles que esperam na fila por uma oportunidade de emprego. Acontece que, esse ano em função da recessão econômica, o número de contratos temporários deverá ser reduzido. Os números da geração de emprego confirmam. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), calculados pelo Ministério do Trabalho, o setor contratou mais do que demitiu em setembro. Apesar da recuperação, o comércio ainda possui saldo negativo no acumulado do ano, com -19 vagas.
A confiança
As estatísticas de vendas e perspectivas de contratação entram em conflito com os índices de confiança. O Índice de Confiança do Comércio (ICOM), da Fundação Getulio Vargas (FGV), alcançou 81,9 pontos em outubro de 2016. O número apresenta aumento de 1,5 ponto em relação a setembro. O índice da situação atual somou 74,1 pontos e o índice de expectativas chegou a 90,6 pontos. Em outubro do ano passado, o índice de confiança apontava para 65,5 pontos. Do outro lado, O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), também calculado pela FGV, subiu 1,8 ponto em outubro, atingindo 82,4 pontos. O índice da situação atual ficou em 69,0 pontos no décimo mês do ano enquanto o índice de expectativas alcançou 92,6 pontos. Após seis altas consecutivas, o índice atinge o maior nível desde dezembro de 2014 (86,6 pontos).
O processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff tem relação com esses números, conforme Cleide. “Mesmo o Michel Temer tendo assumido em um momento em que não existia muita confiança nele, e depois passado esse outro processo de eleição, mesmo que em municípios, houve uma certa estabilização de um governo transitório que aqui está, e por isso, a retomada da confiança”, salienta.
Para a especialista, é necessário que haja cautela ao se observar esses números, uma vez que há um “movimento positivo que tenta apostar nesse período de retomada de uma série de ajustes e reformas em que o governo se compromete em fazer, mas a situação da economia, em termos de renda e de salário, ainda é preocupante. Eu diria que é uma construção positiva, mas que não tem uma base muito sólida, em termos de confiança”. Só nos próximos meses se concretizará, ou não, esse clima de aumento na confiança. “É um aumento de confiança bastante artificial. Ele não se verifica no nível real da economia, ou seja, no que, efetivamente, está se produzindo na perspectiva de retomar o crescimento econômico”.
Planejamento
O que poderá aumentar o nível de transições no fim de ano é o décimo terceiro salário, em que alguns recebem integral e outros a segunda parcela, de acordo com a especialista. “Esse recurso tem um impacto sim na renda normal. Mesmo com os recursos do décimo terceiro chegando a população, ela sabe da dificuldade em que a economia ainda se encontra e do risco”.
Este é um momento ideal para que as famílias revejam os gastos e reorganizem o planejamento financeiro. “Com as taxas de juros tão elevadas, as famílias estão repensando o uso do cartão de crédito e cheque especial. Estamos em um momento em que as famílias amadureceram um pouco mais no quesito do uso dos recursos e do consumo em geral. Ruim para o setor do comércio e da produção, mas bom do ponto de vista das famílias, do individual”.