O Banco Central (BC) revisou para baixo a projeção de superávit comercial em 2016. Segundo números divulgados hoje (20) pelo órgão, a balança comercial – diferença entre exportações e importações – deverá encerrar o ano com superávit de US$ 44,5 bilhões, abaixo da estimativa de US$ 49 bilhões divulgada em setembro.
A queda decorre principalmente da queda das exportações, que devem fechar o ano em US$ 184 bilhões, contra estimativa anterior de US$ 190 bilhões. O valor das importações também foi revisto, de US$ 141 bilhões para US$ 139,5 bilhões.
De acordo com o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, a valorização do dólar ao longo do ano e a demora para a economia se recuperar explicam a queda, tanto nas compras como nas vendas para o exterior. “O câmbio entra nessas projeções. Também tem a questão da atividade econômica. O ritmo de crescimento das exportações mostrou arrefecimento, o que fez o Banco Central rever as projeções”, declarou.
Caso as previsões do Banco Central se concretizem, o país poderá ter déficit comercial nas duas últimas semanas do ano. Até o dia 16, a balança comercial acumula saldo positivo de US$ 45,005 bilhões no ano.
A revisão da balança comercial, informou Maciel, foi o principal fator que fez o Banco Central aumentar a previsão de superávit da conta de transações correntes de US$ 18 bilhões para US$ 22 bilhões em 2016. Além da queda das exportações e das importações, o Banco Central alterou a previsão da conta de viagens internacionais, de déficit de US$ 7,5 bilhões para US$ 8,5 bilhões neste ano. A conta representa a diferença entre o que os brasileiros gastam no exterior e o que os turistas estrangeiros gastam no Brasil.
Nos 11 primeiros meses do ano, os gastos de turistas brasileiros no exterior somaram US$ 13,105 bilhões, queda de 18,7% em relação aos US$ 16,112 bilhões registrados no mesmo período de 2015. No entanto, segundo Tulio Maciel, os turistas estão aos poucos voltando a gastar mais por causa da recuperação da confiança na economia, o que levou o órgão a rever a projeção.
“Principalmente a partir do segundo semestre, é possível notar uma mudança de comportamento nas viagens de brasileiros ao exterior. Os indicadores de confiança explicam essa mudança, principalmente com a confiança dos consumidores começando a reagir”, justificou Maciel.
O saldo em transações correntes é formado pela soma dos saldos da balança comercial e das balanças de serviços (exportações menos importações de serviços), de renda (conta que engloba pagamento de juros e remessas de lucros e dividendos para o exterior) e as transferências unilaterais (doações de brasileiros que vivem no exterior ou de organizações estrangeiras para o Brasil). O indicador mede a vulnerabilidade do país a crises externas. Quanto menor o déficit, mais sólida é a situação do país.
Caso o resultado das transações correntes fique negativo, o país passa a depender do mercado financeiro e dos investimentos estrangeiros diretos (investimentos internacionais que geram emprego no país) para ter resultados positivos no balanço de pagamentos que segurem a desvalorização do real e acumular reservas internacionais, que servem como seguro do país contra a dívida externa.
Os investimentos estrangeiros diretos, investimentos internacionais que geram emprego no país, acumulam US$ 63,657 bilhões nos 11 primeiros meses do ano. O Banco Central manteve a estimativa de que esses investimentos encerrarão o ano em US$ 70 bilhões. “Os investimentos diretos têm mostrado resiliência em relação à conjuntura. O Brasil tem um mercado consumidor de 200 milhões de habitantes e os investidores estrangeiros olham para um horizonte mais amplo, de 10 a 20 anos de atividade econômica”, declarou.
O Banco Central também divulgou as projeções para as contas externas em 2017. No próximo ano, o país registrará déficit de US$ 28 bilhões nas transações correntes, superávit de US$ 44 bilhões na balança comercial (decorrente da diferença entre US$ 195 bilhões para as exportações e US$ 151 bilhões nas importações). A conta de viagens internacionais deverá ficar negativa em US$ 10,5 bilhões; e os investimentos estrangeiros diretos, em US$ 75 bilhões, semelhante ao nível registrado em 2015.