Passo Fundo fecha o segundo ano consecutivo com índices negativos na geração de emprego. Apesar da recuperação, em relação a 2015 quando o saldo foi de -1.232 vagas, no ano passado este saldo foi menor: de 733 postos de trabalho. Para se chegar a este número, é preciso fazer uma conta de subtração: reduz-se o número de vagas abertas com o número de vagas fechadas. Ao total, foram abertas 23.537 novas vagas e fechados 24.270 postos no ano passado. A doutora em economia e professora da UPF, Cleide Moretto, explica que o trabalho é o mais vulnerável. “Entre capital e trabalho, o trabalho é o que mais perde. Infelizmente isso tem impactos muito sérios na economia e por isso estamos tão mal”, analisa.
O ano começou no negativo, com -8 vagas em janeiro, mas logo no segundo mês começou alavancar os índices de emprego. Porém a retomada durou pouco já que de abril a agosto foram mais demitidos do que contratados. Em dezembro, o saldo voltou a ficar no vermelho, quando foram fechados 297 empregos formais. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). No último mês do ano, o setor de serviços foi o que mais demitiu, com saldo de -106 vagas. O setor foi seguido pela indústria da transformação (-87), pela contrução civil (-75) e pelo comércio (-31) em números negativos.
As estatísticas de trabalho no município foram pressionadas negativamente pelo setor da indústria da transformação, que também pelo segundo ano consecutivo foi o vilão do emprego. Nos dois anos, foram 1,3 mil demissões registradas a mais do que admissões. Em 2016, o saldo foi de -708 postos de trabalho no setor. O número da índústria corresponde a mais de 96% do saldo registrado no ano passado (-733). Passo Fundo não foi diferente do Rio Grande do Sul. O saldo da geração de emprego no Estado foi de -54.384 postos de trabalho fechados. Só a indústria fechou aproximadamente 48% dessas vagas. O saldo foi de -26.467 empregos formais no setor, em 2016. Conforme Cleide, ainda não é possível afirmar que a indústria está se recuperando. “Como ela havia atingido seu nível mínimo e, em termos de competitividade, ela tem sérias dificuldades, digamos que ela se estabilizou no patamar. A indústria tentou liberar mão de obra até o ponto em que ela conseguisse sobreviver até o nível que ela tinha de atividade econômica”, analisa.
Atrás da indústria, serviços foi o segundo setor que mais desempregou no RS, com saldo de -13.122 vagas. Em terceiro, a construção civil, com -10.378 postos de trabalho. Em Passo Fundo, esses números se modificam um pouco. Com uma economia diversificada, e uma prevalência dos serviços, o segundo pior setor no ano, no RS, finalizou o mês com saldo positivo (76 vagas) no município. A construção civil foi a segunda com mais demissões no ano, o saldo foi de -405 postos. Ao total, foram contratados 1.652 e demitidos 2.057 na contrução civil, em Passo Fundo.
O setor de serviços deve ser visto de dois modos por ser uma atividade meio e uma atividade fim, segundo a especialista. “Nós temos uma característica própria do setor de serviços e nós temos uma característica que é de resposta ao que acontece no setor industrial. O que acontece também no setor de serviços é que os reflexos de uma crise sempre demoram mais a chegar. Agora nós estamos vendo o setor de serviços responder a dinâmica negativa que aconteceu no setor secundário - industrial”, enfatiza.
Comércio o que mais contratou
Na outra ponta do emprego, o comércio foi o que mais contratou em 2016, o saldo foi de 260 vagas. Nos primeiros dias do ano, em entrevista a ON, a presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Passo Fundo (Sindilojas), Sueli Morandini Marini, afirmou que o setor retardou os impactos da recessão econômica no município. Para o comércio, apesar das estatísticas positivas, a perspectiva é de maior dificuldade no primeiro trimestre, em função dos gastos de início de ano. “É um período de gastos maiores - IPTU, IPVA, retorno de filhos na escola, uniforme, material escolar, entre outros - isso faz com que o comércio tenha uma retração nesse período. O empresário deve estar preparado, pois deverá fazer as adaptações necessárias para enfrentar esse momento”, complementa.
O comércio deverá se manter, na visão da doutora em economia. “Assim como nos serviços, quem não tinha condições de se manter - que não era competitivo, que não tinha nenhum tipo de gordura para queimar do ponto de vista do lucro - já encerrou sua atividade. Agora os outros, que têm mais tempo de atividade, mais tempo de mercado, uma maior relação em termos da cadeia produtiva em geral, este está assegurado. Nós vimos que tanto 2015 quanto 2016 foram anos bastante difíceis para o comércio também. Em Passo Fundo é um setor que, a olhos vistos, demonstrou essa variação com muitas empresas menores - que não tinham tanta experiência, que não tinham links com outras atividades - que acabaram fechando. Quem está ai hoje é porque efetivamente conseguiu se manter e fazendo todo tipo de manobra dentro da sua empresa”, argumenta.
Tendências
Após essa queda, a tendência é parar de cair, Cleide Moretto ressalta que se chegou no limite da perda de receita das empresas e da perda de renda por parte da sociedade em geral. “A economia como um todo está tentando encontrar mecânismos para retomar a atividade produtiva. Depois de uma fase muito grave, de uma depressão econômica como estamos vivendo, nós vamos começar a perceber alguns sinais de melhora”, evidencia. A possibilidade de retomada parte do setor secundário, que foi também o primeiro a sentir os impactos da recessão.
Manitowoc
Em janeiro de 2016, a A Manitowoc Company anunciou a suspenção da operação de fabricação de guindastes em Passo Fundo. Após cinco anos em operação na planta, a queda da demanda pelos produtos influenciada pelo cenário econômico vivenciado pelo país motivou a tomada da decisão. Na ocasião, pelo menos 90 funcionários da empresa foram desligados. A produção foi suspensa por um período indeterminado, no entanto, a empresa evidenciou a intenção de retomar as operações.
De oito a 10 mil desempregados
Nos primeiros 18 dias do ano, cerca de 650 trabalhadores pediram o seguro-desemprego na agência do Sine de Passo Fundo. Em 2016, o número de pedidos para receber o benefício foi de quase 10,9 mil. A estimativa é que entre oito e 10 mil pessoas estejam desempregadas em Passo Fundo, de acordo com o coordenador da agência, Sérgio Ferrari. O número de desempregados corresponde a quase 10% da população economicamente ativa. As pessoas que compõem essas estatísticas passo-fundenses, em 2015 demoravam em média 120 dias para voltar ao mercado de trabalho, o que não chegava a estrapolar os cinco meses de benefício desemprego. Atualmente, conforme Ferrari, a média é de oito a nove meses para ser contratado novamente.