Facho de luz no túnel do desemprego

Apesar de pesquisas apontarem crescimento nas contratações sazonais de fim de ano, o cenário de Passo Fundo não é tão bom conforme diz a agência FGTAS/Sine

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Frente aos dados de desemprego – que atingia 13,1 milhões de brasileiros em setembro conforme dados do IBGE –, as contratações temporárias de fim de ano representam um facho de luz nesse túnel cuja saída é à volta ao mercado de trabalho. As estimativas são otimistas. Para o comércio varejista gaúcho, a previsão é de 35,9% de aumento nas contratações daquelas empresas que já pretendiam ampliar o número de trabalhadores na sazonalidade. No ano passado, o percentual era de 22,5%, e o número de empresas que pretendia contratar também era menor. Os dados constam na Pesquisa de Temporários 2017 divulgada pela Fecomércio-RS na segunda-feira (16). O levantamento consultou 384 estabelecimentos de cinco macrorregiões do Estado no período de 4 a 19 de setembro.

Porém, longe das estatísticas, a realidade parece ser outra. Na internet, o Indeed, um site que traz oportunidades de emprego, apontava para 20 vagas em Passo Fundo na terça-feira (17). Já a agência FGTAS/Sine do município, não possuía nenhuma vaga de contratação temporária no início desta semana. O coordenador da unidade, Sérgio Ferrari, analisa que as perspectivas não são tão boas. “As contratações estão no mesmo panorama que estavam no ano passado. As empresas não estão contratando, a não ser grandes redes de loja que sempre aumentam [o quadro de funcionários] no fim do ano, em função das festividades. O empresário está tentando segurar o que tem de funcionário, vendo como vai ser até o fim do ano e se chamar vai ser um ou dois. Não está sendo como antigamente que em setembro já tinha contratação, em outubro a pessoa já fazia o primeiro mês dela e em novembro já estava pronta para ir a campo vender. Hoje não se tem isso”, frisa Ferrari.

O setor de comércio, responsável pelo grande volume de contratação de mão de obra temporária, está mais cauteloso, dizem os envolvidos. O vice-presidente do Comércio da Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Agronegócio de Passo Fundo (Acisa), Marco Antônio Silva, acredita que a economia vem apresentando resultados positivos. “O índice de inadimplência está baixando. Muitos estão tentando ou regularizando sua situação com relação à restrição de crédito. O que faz com que, após essa liberação de recurso, o pessoal vá novamente comprar. É uma época em que há um crescimento nos índices por conta do Natal e das festas de fim de ano e, principalmente, pelo fato de logo já estar circulando o dinheiro do 13° salário que é outro motivo que faz com que a economia tenha resultados positivos no fim de ano”, esclarece.

Contudo, isso não deve apresentar reflexos nas contratações temporárias desse ano. Questionado sobre um possível aumento no percentual de vagas, Marco Silva é receoso. “Na prática deveriam, mas eu não sei. No ano passado não tivemos um desempenho tão favorável como o que o comércio esperava que tivesse. Eu diria que fica no mesmo patamar do que no ano passado”, denota.

A dificuldade para retornar ao mercado de trabalho
Com cerca de oito mil desempregados no município, segundo estimativa do FGTAS/Sine, quando surgem vagas há uma grande quantidade de candidatos. Um clube de Passo Fundo abriu 22 postos de trabalho para a temporada de verão. De acordo com a gerente de marketing da entidade, Juliana Vieira, foi recebido mais de mil currículos.

As vagas eram para recepcionista, auxiliar de limpeza e vigia. Um fato que chamou a atenção do dos recrutadores do clube foi a grande quantidade de pessoas com ensino superior atrás desses postos de trabalho oferecidos. “Muitas vezes os candidatos omitiam que tinham ensino superior de medo que não seriam chamados para a entrevista. Eles colocavam ensino médio no currículo e depois acabavam contando que tinham formação complementar”, descreve Juliana.

Em uma das remessas de contratação do clube, Yanick de Araujo foi selecionado. Ele cursava Direito e precisou interromper os estudos porque, entre outros fatores, ficou desempregado. Quando ingressou na faculdade, o jovem pensava em advogar. Mais tarde, passou a cogitar a possibilidade do concurso público. Com a dificuldade em conseguir emprego na área jurídica, foi trabalhar em um setor dentro da instituição em que estudava. Yanick permaneceu lá alguns meses, mas, como não conseguiu se adaptar, saiu do emprego. Como ele diz, teve sorte de conseguir outro emprego em um curto período. “Eu moro com meus avós e ajudo-os, sempre ajudei. Mas não é nada comparado com o gasto que eles têm comigo. Se eu tivesse que me virar com comida, moradia, tudo, não ia ter como”, afirma.

Diferente de Yanick, Thainá Borges Maciel custou a conseguir reingressar no mercado de trabalho. Ficou dois anos à procura. Nesse período, entregou mais de dez currículos. A dois semestres de concluir o curso de Direito, Thainá trancou. “É complicado porque em muitos lugares eles pedem se tem experiência e tem muita gente que não contrata por conta disso. Eu fui a muitas agências, larguei muitos currículos para todas as áreas, administração, o que viesse”, conta. Atualmente, Thainá trabalha como recepcionista no mesmo clube que Yanick. No processo de seleção, além da jovem, havia mais 13 pessoas concorrendo pela vaga temporária.

Essa concorrência acentuada é, muitas vezes, ocasionada pela dificuldade do trabalhador retornar ao mercado de trabalho, conforme Sérgio Ferrari. O coordenador da FGTAS/Sine pontua que há alguns anos, as pessoas ficavam de três a cinco meses desempregadas e não chegavam a esgotar o recurso do seguro-desemprego. Hoje esse tempo se expandiu e os trabalhadores levam de oito a dez meses para conseguir outro trabalho.

Como extrapola o período do benefício, as pessoas, que antes tinham possibilidades de contratação em determinadas áreas, passam a aceitar empregos em qualquer setor. “A gente sente isso todo dia, de pessoas nos procurando com curso superior. Procurando qualquer vaga porque terminou o seguro-desemprego e esgotou todas as possibilidades. A água, a luz, o telefone e todas as despesas chegam e essas pessoas começam a ficar desesperadas. Tem pai de família com curso superior pedindo emprego até em frigorífico se tiver. Esse é o panorama que nós na agência FGTAS/Sine sentimos”, descreve Sérgio Ferrari.


EmpregarRS
Para auxiliar quem busca retornar ao mercado de trabalho, a FGTAS realizará, na sexta-feira do dia 27 de outubro, a 4ª edição do EmpregarRS. As agências devem intermediar mais de quatro mil vagas em todo o RS. Os trabalhadores serão cadastrados no sistema Emprega Brasil e, em seguida, encaminhados para entrevistas de acordo com o perfil profissional e da vaga aberta. É necessário apresentar Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS). Interessados em apresentar ou ocupar vagas devem entrar em contato com as agências FGTAS/Sine locais. O horário de atendimento será das 9h às 16h.

A entrevista ocorre nas agências, com contratação imediata. Além da inserção no mercado de trabalho, são oferecidas atividades de orientação profissional, empreendedorismo e palestras motivacionais. Até o momento de elaboração da reportagem, não havia mais detalhes sobre a quantidade de vagas que devem ser ofertadas em Passo Fundo.

 

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