Se valor do frete aumentar, consumidor sentirá o impacto

Economista analisa o impacto que o reajuste no preço dos fretes teria na cadeia produtiva

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Economista Julcemar ZilliEconomista Julcemar Zilli
Economista Julcemar Zilli
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O possível aumento no valor dos fretes, pauta de reivindicação dos caminhoneiros em protestos por todo o Brasil, deverá impactar diretamente o preço dos produtos ao consumidor final e a taxa de inflação. A afirmação é do economista e professor da UPF, Julcemar Zilli, que analisa o cenário que motivou as paralisações do setor. Os reajustes constantes no preço dos combustíveis, especialmente o diesel, elevaram os custos do transporte. Como esses custos não foram repassados no valor dos fretes, os caminhoneiros iniciaram paralisações nesta segunda-feira.


Desde junho do ano passado, quando a Petrobras nos combustíveis e gás, os valores do produto começaram a sofrer aumentos constantes. Só neste mês, foram 14 oscilações, com aumento de 13,5%. No dia 1º de maio, o diesel saía custando R$ 2,0877 o litro da refinaria da estatal para as distribuidoras. Hoje (22), esse combustível está R$ 0,28 mais caro, já que ontem houve novo anúncio de elevação nos preços. O produto é vendido a R$ 2,3716 o litro. Até chegar às bombas, agrega-se o imposto e a margem de lucro das distribuidoras e dos comerciantes (postos).


Zilli explica que a mudança na política de preços da estatal é uma forma de mascarar os comportamentos de preço, já que os empresários nem sempre repassam totalmente esse aumento dos combustíveis para seus produtos. “Com essa nova forma de cálculo, temos vários aumentos de valor pequeno. O empresário nem sempre repassa isso para o preço do produto final. Ele vai absorvendo até o momento em que ele não aguenta mais e ele tem que repassar. Isso é diferente de como funcionava antigamente, situação em que o governo, por meio dos preços regulados, segurava o máximo que conseguia o preço dos combustíveis. Quando ele não aguentava mais, ele tinha que dar um aumento grande, de 10%, 12%, 15% de uma vez só. Foram trocados poucos aumentos de valor alto por vários aumentos de menor valor”, analisa.


Em longo prazo, os pequenos reajustes acabam tendo o mesmo impacto. Do dia 6 de abril para cá, por exemplo, o diesel subiu 25%. A gasolina subiu um pouco mais, em torno de 26%, no mesmo período, direto na refinaria da Petrobras. Diante dessas elevações e do aumento de custos, o economista define o protesto dos caminhoneiros como saudável e legítimo.


“O valor do combustível aumentou, mas o frete pago pelas indústrias não aumentou. Eles [caminhoneiros] estão cada vez tendo retornos menores. Se os caminhoneiros conseguirem esse aumento no valor do frete, o que é totalmente justo e é possível que consigam, a tendência é que tenhamos um aumento no preço dos produtos de um modo geral. O impacto acaba sendo bem significativo porque a partir do momento em que aumenta o valor do combustível, mas principalmente do diesel, isso acaba refletindo no valor do frete do caminhoneiro, ou pelo menos deveria aumentar o valor do frete”, explica Zilli.


De acordo com o especialista, ainda é cedo para mensurar o impacto que esse aumento teria na taxa de inflação e nos produtos, mas “o aumento no preço do combustível vai chegar ao consumidor sem dúvida alguma”.

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