Investimentos estrangeiros no Brasil caem 9,7% em 2017, diz Cepal

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Pelo terceiro ano consecutivo, o investimento estrangeiro direto (IED) na América Latina e Caribe caiu, com fluxo total de US$ 161,673 bilhões em 2017, um recuo de 3,6% em relação ao ano anterior. No Brasil, a queda foi maior (-9,7%), com investimentos de US$ 70,685 bilhões, volume US$ 7,5 bilhões menor do que em 2016. 

 

Os números foram divulgados hoje (5) pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), organismo vinculado às Nações Unidas. Em relação ao ano de 2011, a queda nos investimentos soma 20% em toda a região.

 

Segundo o relatório da Cepal, considerando uma análise de médio prazo, a queda contínua do IED nos últimos oito anos pode ser explicada pelos menores preços dos produtos básicos de exportação, como as commodities agrícolas e minerais, que reduziram significativamente os investimentos nas indústrias extrativas. Além disso, pesou nesse recuo a forte recessão econômica que foi registrada em 2015 e 2016, principalmente no Brasil, país que representa 43,7% do total de IED aplicado em toda a América Latina e Caribe.

 

"O investimento estrangeiro direto depende, sobretudo, se vai haver ou não oportunidades de novos negócios, se vai haver rentabilidade das operações. E isso no Brasil há ainda uma grande incerteza", disse Alicia Bárcena, secretária executiva da Cepal. Além disso, o Brasil enfrenta um desafio adicional relacionado à questão fiscal. 

 

Endividamento do Brasil

Segundo Alicia, o Brasil é um dos países mais endividados da região, com uma cifra de endividamento acima de 60% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB - soma de todos os bens e serviços produzidos no país). “Para nós, uma dívida sustentável deveria estar abaixo dos 40% do PIB". Atualmente, a dívida bruta dos governos no Brasil ultrapassa a cifra dos R$ 5 trilhões, o que representa pouco mais de 75% do PIB.

 

Apesar desse cenário, houve uma reversão parcial das quedas em 2017 em função do crescimento de 1,3% do PIB na América Latina e Caribe, além da subida nos preços do petróleo e de metais. Esse aumento dos preços, avalia a Cepal, fez com que se recuperasse a rentabilidade do investimento, após vários anos de queda, o que também impulsionou o reinvestimento dos lucros, mas ainda foi insuficiente para a recuperação do IED nas indústrias extrativas.

 

Maiores quedas

Enquanto em 2016 a grande maioria dos países da região registraram quedas nas entradas de IED, em 2017 os investimentos estrangeiros diretos subiram na maioria deles, mas o recuo na média geral se deu por causa das quedas no Chile (-48%) e no México (-8,8%), além do próprio Brasil (-9,7%).

 

Na contramão entre as principais economias da região, a Argentina registrou ampliação de IED em 253%, entre 2016 e 2017, somando uma corrente de investimentos de mais de US$ 11,5 bilhões.

 

Destaques

Na América Central, o IED subiu pelo oitavo ano consecutivo (até US$ 13,08 bilhões), com destaque para o aumento registrado no Panamá, que alcançou US$ 6,06 bilhões. No Caribe, os fluxos cresceram 20%, atingindo o patamar de US$ 5,83 bilhões, mais da metade dos quais (60%) foram direcionados para a República Dominicana. 

 

Nesses países têm sido muito importante o aumento dos investimentos na área turística, mas também tem crescido no setor de recursos naturais na Jamaica e Guiana, segundo o relatório.

 

Origem dos investimentos

Ainda segundo a Cepal, as principais fontes de investimento estrangeiro direto na região em 2017 foram a União Europeia (42%) e os Estados Unidos (28%), respectivamente. A prevalência da Europa é particularmente notória na América do Sul, enquanto os Estados Unidos se mantêm como o principal investidor no México e na América Central.

 

A queda no IED na região, que vem ocorrendo desde 2011, até agora se concentrou quase exclusivamente no setor de recursos naturais, que diminuiu 63%. As entradas de IED no setor de serviços caíram 11% e no setor de manufaturas aumentaram levemente. 

 

Para a secretária-executiva da Cepal, essa recomposição dá oportunidades para focalizar os investimentos naqueles setores com maior capacidade para impulsionar a mudança estrutural e o desenvolvimento sustentável na região, processo que deve ser acompanhado por políticas que apoiem o desenvolvimento de capacidades nos países receptores.

 

“Não se trata simplesmente de criar as condições para que cheguem capitais estrangeiros, mas para que os investimentos se tornem fontes geradoras de disseminação tecnológica e produtiva, de emprego, e para que se orientem para um crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável”, disse Alicia.

 

Contribuições

O relatório enfatiza também que setores como as energias renováveis, telecomunicações e fabricação de automóveis são exemplos de como o IED pode contribuir para a estrutura produtiva, melhorar capacidades locais, criar emprego de qualidade e gerar encadeamentos com provedores locais e regionais. 

 

Nesse sentido destacam-se os investimentos, cada vez maiores, do setor automotivo no México e no Brasil, ou as manufaturas e serviços para a exportação na América Central e na República Dominicana. Essas experiências, entretanto, não têm sido suficientes para impulsionar uma transformação produtiva na região.

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