Impulsionada pela queda na venda de carne de frango ao exterior, a balança comercial passo-fundense fechou o primeiro semestre com números inferiores na comparação sazonal com 2017. Nos seis meses de 2018, a município registrou U$ 116 milhões de saldo. No mesmo período do ano passado, a diferença das exportações menos as importações já alcançava U$ 173,8 milhões. Nas relações mensais, também houve queda. O saldo de junho, que foi de U$ 25,7 milhões, não passou perto dos U$ 74,2 milhões registrados em maio. Na comparação sazonal, a queda foi de 35%, já que em junho do ano passado o município contabilizou U$ 40 milhões.
Os indicadores inferiores da balança comercial são consequências da queda nas exportações. Ainda que a soja esteja com comercialização melhor nesse ano, as carnes de frango perderam espaço no mercado internacional. Passo Fundo registrou, em seis meses, queda de mais de 50% na exportação destes industrializados. O grão, vendido in natura, teve elevação de 22% em 2018. Neste ano, a cidade teve um decréscimo de 15% no total de comercialização internacional, com relação a 2017. As vendas representaram U$ 201,5 milhões. No ano passado, foi registrado U$ 237,7 milhões em exportações.
A queda nas exportações de carne de frango não é exclusividade de Passo Fundo. Em todo o Brasil, a comercialização do produto caiu em torno de 37% em junho de 2018. O levantamento é da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Ao total, considerando todas as carnes, entre in natura e processados, foram embarcadas 234,1 mil toneladas no mês passado. O saldo foi, ainda, 30% inferior que as 333,2 mil toneladas exportadas em maio deste ano. Os números são reflexos das barreiras impostas pela União Europeia ao frango brasileiro. As retaliações internacionais surgiram a partir das operações que revelaram irregularidades no controle fitossanitário do produto. A primeira etapa da Operação Carne Fraca foi deflagrada pela Polícia Federal em março do ano passado e deve outros desdobramentos ao longo de 2017 e no primeiro semestre deste ano.
Conforme os dados da ABPA, o menor volume de vendas gerou impactos na receita das exportações, chegando a US$ 358,1 milhões em junho, saldo 41,9% menor que os US$ 616,4 milhões realizados no sexto mês de 2017, e 30,8% inferior que os US$ 517,6 milhões obtidos em maio. “A redução de 99,1 mil toneladas e de US$ 159,4 milhões em junho, na comparação com o mês de maio, é resultado direto dos bloqueios nas estradas e da paralisação dos portos ocorridos durante a greve dos caminhoneiros. Houve uma queda generalizada nos volumes embarcados para todos os mercados importadores”, explica Francisco Turra, presidente da ABPA.
No acumulado do ano, as exportações de carne de frango alcançaram 1,835 milhão de toneladas neste primeiro semestre, volume 13,5% inferior as 2,121 milhões de toneladas embarcadas nos seis primeiros meses de 2017. Em receita, houve retração de 17,4%, com US$ 2,960 bilhões no primeiro semestre de 2018, contra US$ 3,582 bilhões obtidas em 2017.
Os números sofreram influência da greve dos caminhoneiros, conforme a entidade. “As perdas geradas pelo bloqueio nas estradas impactaram diretamente as projeções iniciais das exportações para este primeiro semestre, em um momento no qual se registravam fortes vendas para a China, o que havia diminuído os efeitos do embargo russo. A expectativa é que o desempenho mensal seja normalizado em julho”, analisa Ricardo Santin, diretor-executivo da ABPA.
Importações
Ao passo que perdeu espaço nas vendas, a cidade também passou a importar mais. Neste ano, houve variação de 33,82% em relação a 2017. O principal produto que Passo Fundo compra do exterior, os óleos de petróleo, tiveram redução de 7%. Em compensação, a cevada teve alta de 252% e a compra de agrotóxicos aumentou em 102% no semestre.
Operação Carne Fraca
Com início em março de 2017, a Operação Carne Fraca já contabiliza 3ª fases. A última, denominada Operação Trapaça foi deflagrada em março deste ano, com o objetivo de investigar fraudes praticadas por empresas e laboratórios que tinham como finalidade burlar o Serviço de Inspeção Federal e não permitir a fiscalização eficaz do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Nesta última etapa, cerca de 270 policiais federais e 21 auditores fiscais federais agropecuários cumpriram 91 ordens judiciais nos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e São Paulo, sendo 11 mandados de prisão temporária, 27 mandados de condução coercitiva e 53 mandados de busca e apreensão. Os mandados judiciais cumpridos nesta manhã foram expedidos pelo Juízo Titular da 1ª Vara Federal de Ponta Grossa/PR.
As investigações demonstraram que cinco laboratórios credenciados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e setores de análises de determinado grupo empresarial fraudavam resultados de exames em amostras de seu processo industrial, informando ao Serviço de Inspeção Federal (SIF/MAPA) dados fictícios em laudos e planilhas técnicos.
Os investigadores identificaram, ainda, que a prática das fraudes contava com a anuência de executivos do grupo empresarial, bem como de seu corpo técnico, além de profissionais responsáveis pelo controle de qualidade dos produtos da própria empresa. Também foram constatadas manobras extrajudiciais, operadas pelos executivos do grupo, com o fim de acobertar a prática desses ilícitos ao longo das investigações.