Depois do forte impacto que o avanço da Covid-19 impôs à atividade econômica no mês de abril, o varejo e a indústria de transformação deram sinais de reação em maio. As vendas do comércio gaúcho cresceram 19,6% na comparação entre os dois meses, segundo melhor desempenho do país para o período.
Na comparação com o nível de atividade de maio de 2019, o comércio gaúcho caiu 7,8%, quase a metade da média nacional (-14,7%) e bem melhor que estados importantes como São Paulo e Rio de Janeiro. Na estatística envolvendo todas as unidades do país, o setor ficou atrás apenas de Rondônia.
Mesmo assim, as perdas em relação ao ano passado são significativas nos dois segmentos: -8,4% no comércio e -27,3% na indústria. Com um recuo superior a 36% em abril, o setor industrial apresentou crescimento de 13,3% em maio na comparação com o mês anterior, igualmente ficando acima do desempenho nacional (12,1%).
As informações fazem parte de um estudo sobre os indicadores da economia no Rio Grande do Sul, desenvolvido por técnicos que atuam junto ao Comitê de Dados do governo. A pesquisa mostra que, na comparação com 2019, o baque maior está mais concentrado na indústria.
“Mesmo com a maioria das atividades de produção apresentando diminuição das quedas em maio, são perdas que permanecem altas. A indústria gaúcha, no acumulado de março a maio, teve recuo de 26%, a maior entre os estados mais industrializados”, observou o economista Martinho Lazzari.
Esse desempenho se deve, segundo o estudo, porque o impacto da pandemia se mostrou maior justamente nos setores mais importantes na estrutura produtiva do Rio Grande do Sul. É o caso de segmentos como automóveis, máquinas, móveis e calçados.
Pesquisador do Departamento de Economia e Estatística (DEE), órgão vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), Lazzari salientou também que o estudo mostra uma realidade ainda anterior ao aumento das restrições às atividades econômicas a partir de junho, com o agravamento da doença.
Empregos
O monitoramento envolveu também os reflexos da crise no nível de empregos formais. No acumulado do ano (até maio), o Rio Grande do Sul teve perdas de 3,4% do estoque de trabalhadores com carteira assinada. O saldo entre admitidos e desligados representou 86.560 pessoas a menos no emprego formal.
O comércio foi o setor com o maior número de demissões do que novas contratações (33.310 postos), seguida da indústria de transformação (19.205 de saldo negativo). Proporcionalmente, os segmentos de alojamento e alimentação tiveram as maiores perdas (-15.813).
Sob condução do economista Raul Bastos, também da equipe do DEE, a parte do estudo sobre o emprego aponta que o mês de maio registrou os maiores patamares históricos no pedido de seguro desemprego. Com números mais atualizados, a pesquisa mostra uma reversão no mês de junho.
O trabalho ainda estimou que os estados do Sul tiveram o menor percentual de pessoas afastadas em função das medidas de distanciamento social. Na última semana de junho (entre os dias 21 e 27), esse percentual foi de 12,5% no Brasil, enquanto que no Sul ficou em 7,2%. A região igualmente registrou retração na taxa de informalidade entre maio e junho, ficando em 25,1%. A média nacional chegou a 34,5%.
O estudo faz parte das atividades do grupo de Atividade Econômica do Comitê de Dados, coordenado pela economista Vanessa Neumann Sulzbach. A pesquisa teve a participação também de Marco Brancher, da empresa Impulso, que atua como colaborador externo do Comitê de Dados.