Desde ontem (3), a gasolina vendida no Brasil deverá seguir novas especificações definidas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). As mudanças são válidas para a gasolina tipo C (comum) e premium. Segundo a Petrobras, o combustível terá melhor qualidade e deixará os carros mais eficientes - reduzindo o consumo de combustível entre 3 e 4%, permitindo que as emissões de poluentes diminuam na mesma proporção. Contudo, várias questões permeiam essa mudança e o professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), Edesnei Brião, pontua as principais diferenças, esclarecendo as alterações e os impactos para o consumidor.
A legislação atual existente no Brasil não define uma exigência de massa específica mínima para a gasolina, o que, segundo Brião, fez com que algumas importadoras oferecessem gasolinas com baixo padrão. “Isso significava que um litro de gasolina da Petrobrás pesava mais que um litro de gasolina importada. Em outras palavras, apesar de comprar um litro de gasolina, o consumidor recebia efetivamente menos combustível", explica, ressaltando que o estabelecimento de um padrão mínimo vai beneficiar o consumidor, pois quem quiser importar vai ter que atender à exigência de massa específica mínima, garantindo que, para cada litro de gasolina adquirido, o consumidor receberá, no mínimo ,715 gramas de combustível.
A segunda mudança diz respeito a octanagem da gasolina comercializada no Brasil. Primeiramente, é preciso explicar o que é octanagem (ou número de octanos) da gasolina. De acordo com Brião, a octanagem é a resistência à combustão espontânea da gasolina quando submetida aos aumentos de pressão. “Conforme se aumenta a pressão da mistura gasolina com o ar dentro do motor, a temperatura dessa mistura aumenta. Se atingir o ponto de ignição, a mistura pega fogo. Se essa explosão (combustão rápida) ocorrer antes do pistão comprimir totalmente a mistura, o motor vai ter menos força, pois o pistão não vai percorrer todo o percurso previsto em projeto. A octanagem é o que garante que a mistura gasolina e ar vai queimar no ponto certo, melhorando o rendimento do motor”, exemplifica o Engenheiro Químico.
Segundo o professor, as gasolinas importadas estavam vindo para o Brasil com octanagem no limite mínimo da legislação atual e assim, acabavam tendo um rendimento inferior ao desejado.
Novo método de medição
Até o momento, no Brasil, a octanagem era medida pelo método MON (Motor Octane Numeber), que determina a octanagem com um motor a plena carga em altas rotações. De acordo com Brião, isso significa medir a octanagem quando o carro está acelerado e carregando todo o peso possível (quatro pessoas no interior e porta-malas cheio). Porém, para o professor, este método não condiz com as condições dos veículos trafegando na cidade quando, por exemplo, temos apenas uma ou duas pessoas dentro de um veículo deslocando-se à baixa velocidade.
O novo padrão adotado pelo país é o Índice Anti-Detonante (IAD), que nada mais é do que a média entre os dois sistemas de medição o que, segundo o professor, vai tornar os valores medidos mais próximos da realidade de uso dos veículos no Brasil. “A Petrobrás afirma que esse novo modelo vai beneficiar principalmente os veículos 1.0 quando trafegam dentro da cidade (baixa velocidade). Contudo, ainda não sabemos como será a relação rendimento e preço. Se o preço subir 10% e o rendimento aumentar em 4%, o prejuízo vai continuar no bolso do consumidor. Esse aumento é justificado pelas pequenas modificações no processo de produção da gasolina comercializada que serão feitas para termos um ligeiro aumento de octanagem com a quantidade de álcool misturada à gasolina”, pontua.
Menos poluição e mais segurança
Embora não se tenha certeza sobre a questão de preço, um ponto positivo do novo produto é que ele vai proporcionar uma redução nas emissões de dióxido de carbono. Segundo o professor Edesnei Brião, se o consumo de gasolina se reduzir em até 4%, a emissão de gás carbônico, considerado o principal responsável pelo Efeito Estufa no planeta, também vai reduzir na mesma proporção. “Isso significa uma redução anual de aproximadamente 3 milhões de toneladas (cada tonelada vale 1000 kg) de CO2 para atmosfera, o que será bom para o meio ambiente e consequentemente para o planeta”, frisou.
Ainda conforme Brião, com o estabelecimento de uma massa específica mínima, as fraudes na gasolina serão mais difíceis, uma vez que as substâncias usadas para fraudar o combustível automaticamente reduzem a massa específica da gasolina, tornando mais visíveis as adulterações.