O reflexo da estiagem de verão nas lavouras de erva-mate, que reduziu em até 30% a capacidade produtiva do setor ervateiro, está sendo projetado nos meses deste segundo semestre do ano com o aumento no preço da folha para processamento nas indústrias gaúchas. Dos R$ 11 a R$ 15 reais pagos ao produtor, há um ano, a arroba da erva usada no preparo de chimarrão e chás saltou para R$ 17 a R$ 22 reais, em 2020, com o aquecimento do mercado externo.
Esse sensível aumento no volume de exportação a 33 países, das 120 nações que consomem o produto, respondem, em parte, pela preocupação dos produtores da erva-mate. Como explica o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, Ilvandro Barreto de Melo, a escassez hídrica atingiu, também, a Argentina. O país, que responde pelo segundo maior consumo das folhas processada na América Latina, importou 17 toneladas nesse período pelo desabastecimento industrial e campesino no país fronteiriço causado pelo ataque de fungos nos ervais daquele país e pela renovação das plantas, especialmente, nas províncias de Missiones e Corrientes. “Para essa erva-mate ficar no padrão de consumo, precisa ficar parada entre 10 a 12 meses. Isso significa que a erva colhida agora só será consumida no próximo ano”, esclareceu.
Mesmo estando em uma nova safra, cujo período de maturação, em setembro, deu lugar à brotação da planta, a necessidade de distanciamento social fez com que os gaúchos tomassem mais chimarrão, e em cuias separadas. Com isso, segundo ponderou o agrônomo, o mercado interno também elevou a demanda pelo produto, pressionando as 200 indústrias estaduais presentes em cinco polos ervateiros, nas localidades de Palmeira das Missões, Alto Uruguai, Nordeste, Alto Taquari e Região dos Vales. “O aumento no preço ainda não chegou ao consumidor. Pela flutuação da última safra, o estoque no campo é menor”, afirmou Melo.
Produto nacional
Diferente do que acontece no Uruguai e na Argentina, onde o mate é consumido por quase todos os habitantes do país, a produção de erva-mate se concentra, no Brasil, nos três estados do Sul que, juntos, cedem 70 mil hectares para o plantio da folha. A colheita e o processamento da erva brasileira resultam em quase 310 mil toneladas anuais, das quais 85% do escoamento dessa produção já tem destino direto: as cuias dos uruguaios que consomem até 10kg do produto, individualmente, a cada ano enquanto os gaúchos compram de 6 a 7 kg per capita anual, de acordo com o engenheiro agrônomo da Emater.
A finalização do ciclo de 18 meses de um erval e o embarque dos derivados da planta são aguardados, ainda, pelos paraguaios e sírios, não apenas na forma tradicional do cultivo, mas também em embalagens de chás para infusão e ervas para tereré.