Espalhado pelas vitrines de diversas lojas no centro de Passo Fundo, o cartaz com os dizeres “qualquer trabalho que provê o pão de cada dia é essencial” demonstra a insatisfação dos empresários com as medidas do governo estadual que determinam o fechamento de estabelecimentos considerados não essenciais. O descontentamento da categoria, embora não seja novidade, aparece também em uma nova pesquisa realizada pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Passo Fundo. De acordo com o documento divulgado nessa terça-feira (9), 84,5% dos associados consultados na pesquisa concordam que a saúde vive um momento de gravidade ou muita gravidade no município, mas quase 70% deles consideram as atuais restrições para atuação das empresas ineficazes na redução do contágio pela Covid-19.
A pesquisa científica, realizada de forma online entre os dias 4 e 6 de março deste ano, contou com a contribuição de 255 empresários associados à CDL e abordou questões sobre saúde, situação dos negócios, autonomia financeira e o stress dos entrevistados em razão da atual situação de instabilidade. O objetivo do relatório, de acordo com a entidade, é mensurar com maior amplitude as percepções e as expectativas dos empresários com relação às atuais medidas impostas pela bandeira preta. O documento será apresentado ao governo municipal e estadual nesta quarta-feira (10). “Nós elaboramos essa pesquisa para que pudéssemos fornecer indicadores sobre a situação e os riscos para os empresários caso as medidas continuem sendo tão restritivas”, explica o presidente da entidade, Sérgio Giacomoni.
Questionados sobre a situação atual de suas empresas, 76,86% dos associados apontam que a situação é ruim. Para outros 15,29%, os negócios estão dentro da normalidade e apenas 8,24% relatam um cenário positivo. O levantamento denota também que 44% das empresas consultadas sofreram uma redução de mais da metade do seu faturamento desde que as novas regras entraram em vigor. Uma das consequências desta queda de rendimentos fica expressa na resposta relacionada à evolução do número de pessoas empregadas nas empresas que participaram da pesquisa: mais da metade dos entrevistados acredita que precisará diminuir a equipe de funcionários caso as restrições perdurem.
A pesquisa avaliou ainda por quanto tempo o caixa dessas empresas são capazes de suportar as atuais medidas estaduais. Conforme prospectaram os entrevistados, 35,47% têm recursos financeiros para manter as portas abertas por mais 60 dias, 23,93% por mais um mês, 17,52% por 15 dias e 23,08% por apenas mais uma semana. Entre as principais novas ações planejadas pelos empresários como uma forma de enfrentar a crise, estão novas estratégias comerciais (65,8%), renegociação com fornecedores (53,1%), demissão de funcionários (46,1%) e busca por crédito (36,8%). O dado que mais chama a atenção, porém, é o de empresários que consideram encerrar a empresa caso o cenário se mantenha semelhante ao atual. “Foram 8,3% dos 255 consultados que pensam em fechar o negócio. Se nós considerarmos os 1.500 associados da CDL e arredondarmos essa porcentagem para 10%, seriam 150 empresas fechando as portas”, preocupa-se Giacomini.
Entidade busca flexibilização nas medidas para o comércio
Para o presidente da CDL, a pesquisa é de grande importância para retratar o momento de “eminente colapso” nos negócios e na economia do município, em razão da manutenção das restrições atuais. “Este instrumento científico nos permite ter uma visão ampla e aprofundada dos impactos das atuais restrições no setor produtivo e na economia de Passo Fundo e, principalmente, da urgência de revisão das medidas restritivas atuais, que provocarão um aumento do desemprego, do fechamento de empresas e colapso da economia”.
A expectativa da entidade é de que, ao apresentar os resultados da consulta, o Poder Público se sensibilize e autorize a volta da cogestão regional, o que permitiria a adoção de regras mais brandas. Uma das sugestões dadas pela CDL é o funcionamento do comércio com hora marcada, atendendo apenas um cliente por vez de forma presencial. “Não falamos em uma reabertura total e descontrolada, mas sim que permita o funcionamento com regras, protocolos e com mais cuidados. Para que essas empresas consigam ao menos um pequeno fluxo de caixa para sobreviver nessa situação. Elas também estão na UTI e precisam de um respirador”, argumenta o diretor da CDL e vice-presidente da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV), Roberto Estivallet.